A preparação de medicamentos para a oncologia, o apoio às cirurgias e distribuição de fármacos deverão ser as áreas mais atingidas pela greve dos farmacêuticos, a qual é apoiada pela Ordem que representa esta classe e a dos Médicos.

Os farmacêuticos têm marcada uma greve entre as 00h00 do dia 18 de julho e as 24h00 horas de 19 de julho para exigir a imediata publicação da carreira farmacêutica já negociada com o Ministério da Saúde e consequente criação de uma carreira para os profissionais em regime de Contrato Individual do Trabalho (CIT).

A greve, convocada pelo Sindicato Nacional dos Farmacêuticos pretende ainda protestar e denunciar a precariedade e falta de estabilidade no emprego, a insuficiência de quadros nos serviços, a falta de abertura de vagas para formação pós-graduada e as más condições de trabalho nos serviços farmacêuticos.

Para a bastonária da Ordem dos Farmacêuticos, que esta terça-feira se reuniu com o bastonário dos Médicos para analisar a atividade farmacêutica no Serviço Nacional de Saúde (SNS) e o impacto desta greve, a paralisação deverá resultar em “atrasos significativos em áreas como a preparação dos medicamentos de quimioterapia (citotóxicos) e, como consequência, o protelar da marcação do tratamento“.

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Onde estimamos que haja mais impacto é na produção, sobretudo na preparação de medicamentos para a oncologia, no apoio às cirurgias e no ambulatório (distribuição de medicamentos para o VIH, hepatites e fórmulas orais de oncologia)”, disse à Lusa Ana Paula Martins.

A bastonária sublinhou que se trata de “uma greve inédita” e assegurou que “nenhum doente ficará sem os cuidados de urgência que precisa ter”.

Em nenhuma situação em que o médico prescreva um medicamento urgente ele deixará de ser preparado nas nossas farmácias hospitalares, isso está assegurado pelos serviços mínimos”, frisou.

Sobre o protesto, Ana Paula Martins disse que “os farmacêuticos estão profundamente desgostosos, frustrados, desmotivados e sentem-se profundamente humilhados por esta situação”.

Chegou ao limite. Os farmacêuticos não conseguem conviver com o não reconhecimento do seu percurso profissional e da necessidade de qualificação”, afirmou.

Segundo a bastonária, a situação nos hospitais chegou a um ponto em que não é possível substituir uma pessoa em licença de parto.

Estamos a trabalhar no limite das nossas forças, temos vários profissionais em ‘burnout’, [distúrbio precedido de esgotamento físico e mental intenso], com baixas médicas. Vivemos sempre colaborando e no limiar do que somos capazes de garantir, mas chegámos a um momento em que, a par da carreira, há uma necessidade absoluta de uma reorganização dos serviços hospitalares”, adiantou.

O protesto dos farmacêuticos é, para a Ordem dos Médicos, “completamente justo”.

Os farmacêutics têm um papel essencial na distribuição dos medicamentos, na explicação ao doente sobre a forma como os doentes vão fazer as medicações, na preparação de medicamentos e também no controlo daquilo que os próprios doentes estão a fazer”, disse à Lusa José Miguel Guimarães.

Para o bastonário, “o próprio Ministério da Saúde tinha a obrigação de promover as carreiras profissionais”.

É absolutamente essencial que exista a carreira dos farmacêuticos, não só pelas questões relacionadas com a própria organização de trabalho, mas também pela qualidade da formação dos novos farmacêuticos e, em última análise, pela qualidade que os farmacêuticos podem oferecer ao SNS, da qual os grande beneficiários são os utentes”, adiantou.

Para José Miguel Guimarães, é “incompreensível, inaceitável e o Ministério da Saúde não está a pensar bem nesta matéria, porque deveria promover as carreiras”.

Compreendo perfeitamente o protesto e a Ordem dos Médicos está inteiramente solidária com os objetivos do protesto dos farmacêuticos, porque é justo”, disse.

José Miguel Guimarães considera que não há nenhum motivo para a carreira dos farmacêuticos não avançar, tendo em conta que a sua negociação estava a ser negociada com “naturalidade orçamental”.

O protesto dos farmacêuticos mereceu já a solidariedade do presidente da Associação Nacional das Farmácias (ANF), Paulo Cleto Duarte, para quem “o restabelecimento da carreira farmacêutica na administração pública é uma aspiração legítima e justa, não só dos colegas da carreira hospitalar, como de todos os profissionais de ciências farmacêuticas”.

Em nome do interesse público, o Estado deve exigir aos farmacêuticos portugueses um desempenho profissional alinhado pelos melhores padrões de qualidade e segurança do mundo desenvolvido”, disse.

“Saúdo ainda, como cidadão, a abnegação dos colegas, que aceitaram negociar este tema sem qualquer impacto orçamental. Grande exemplo, na melhor tradição dos farmacêuticos portugueses, que sempre procuraram fazer parte da solução dos problemas do país, mesmo quando não contribuíram para eles”, prossegue numa nota.