Há discos que se ouvem sem surpresa porque representam uma continuidade sobre o que já se conhece. Foi o que se passou com Drops, o EP de estreia de LINCE, o nome artístico escolhido por Sofia Ribeiro para o projeto a solo. Editado na passada sexta-feira, acrescenta dois temas aos três já divulgados — “Call Me Home”, “Earth Space” e “Puzzles”, este último um single e vídeo que o Observador estreou no passado dia 22 de junho.
Conhecer com antecedência a maior parte da matéria faz esmorecer um pouco a curiosidade pelo conjunto final, mas isso não lhe tira o mérito. Este EP é um belo postal que ilustra um caminho que já tem anos, como nos contou Sofia Ribeiro, em entrevista. A artista vimaranense começou a compor Drops há quatro ou cinco anos, apenas “faltava juntar as peças” e trabalhá-las até se identificar com elas. Estas canções foram sendo feitas ao mesmo tempo em que se dava a conhecer como teclista dos WE TRUST, banda que lhe deu também experiência e maturidade artística.
A vontade de seguir a solo é antiga mas só foi decidida há cerca de dois anos. “O meu principal instrumento é a voz”, é por isso com naturalidade que se torna uma frontwoman e dá agora o salto. A ajuda de André Tentúgal (líder dos WE TRUST) surgiu com naturalidade e a ela se juntaram a experiência de João Bessa (mistura) e Mário Barreiros (masterização). O resultado final é um disco de eletrónica cantada, macio e sem arestas. A fórmula não tem nada de novo, mas nem por isso merece menos atenção. Porque cada história é única e Sofia Ribeiro tem uma para contar.
O lince é um animal astuto, atraente, forte e atento. E raro. Sofia Ribeiro explicou-nos que não houve uma razão óbvia ou concreta para escolher este nome, simplesmente andava à procura de palavras que fizessem sentido e que definissem a sua música e “não queria que o projeto tivesse o meu próprio nome, queria que ele fosse mais que a pessoa, queria ir além disso”.
Diz ser uma mulher reservada e confessa que estas cinco canções têm uma base autobiográfica, porque a música é o sítio onde se consegue libertar do que a incomoda. Quem a conhece sabe que ela está em todas as canções, a sua vida, as experiências pessoais e íntimas. A música é muitas vezes uma válvula de escape, para quem a faz e para quem a ouve.
Drops tem apenas cinco canções que duram 17 minutos e 27 segundos, o tempo que é preciso para fazer arrancar um projeto com pernas para correr. LINCE já está a compor novos temas e espera lançar um álbum no próximo ano, mas prefere não criar expectativas, quer deixar a coisa crescer com os pés assentes no chão. Talvez por isso nos tenha dito que se sente “ansiosa” para o concerto que vai dar na próxima sexta-feira, no segundo dia do NOS Alive. Sofia Ribeiro vê na oportunidade “uma grande responsabilidade”, que vai partilhar com Rui Sousa, músico, amigo e conterrâneo (são ambos de Guimarães) que a tem acompanhado ao vivo — sexta-feira dia 7 no palco Coreto by Arruada, às 19h45. Seguramente uma oportunidade ganha, que os linces são animais que não costumam perder.