O ministro dos Negócios Estrangeiros português, Augusto Santos Silva, advertiu esta terça-feira que quem nega a importância das alterações climáticas demonstra “pura e simples ignorância” e destacou o papel da ciência na resposta a “muitos dos problemas” atuais.
Quem hoje nega a importância das alterações climáticas e da importância política essencial de a comunidade internacional se organizar para combater as alterações climáticas demonstra pura e simples ignorância e não devemos ter medo de o dizer”, afirmou o chefe da diplomacia portuguesa, intervindo na sessão sobre “Ciência na diplomacia, diplomacia com ciência”, durante o Encontro Ciência 2017, que prossegue até quarta-feira em Lisboa.
“A ciência é o principal fator de racionalidade ao nosso dispor. Precisamos de mobilizar o ‘stock’ de conhecimento que a ciência representa“, defendeu.
Santos Silva sustentou: “identificar o erro é a maneira que nós temos para nos aproximarmos da verdade que sabemos que nunca podemos atingir em ciência”, defendendo que “a política externa e a diplomacia precisam desta humildade e desta firmeza da cultura científica”.
Esse é o melhor remédio contra a arrogância, contra tentativas fora de tempo de restaurar hegemonias, de restaurar vocações ou tentações imperiais no mundo de hoje. Pelo contrário, é a melhor maneira que temos de mostrar que só o multilateralismo e o trabalho em conjunto nos permite melhorar”, afirmou.
Os Estados Unidos anunciaram em junho a intenção de abandonar os acordos de Paris sobre alterações climáticas.
O ministro apontou que “muitos dos grandes problemas” do mundo atual têm uma dimensão científica “absolutamente crucial”.
A Agenda 2030 [Objetivos do Desenvolvimento Sustentável] não pode ser cumprida pela comunidade internacional se não se usar a ciência como recurso. Nós não podemos tratar dos problemas de abastecimento de água, das alterações climáticas, da gestão dos recursos marinhos, da desigualdade de género ou da exclusão da juventude sem mobilizar o conhecimento científico”, sublinhou.
Por outro lado, Santos Silva realçou que o “pluralismo é uma das grandes forças da cultura científica”.
Quem pensa hoje em Portugal que basta consultar os cientistas para saber como se combatem os fogos florestais, está muito enganado, porque vai receber diferentes teorias, diferentes conselhos, diferentes maneiras de interpretar o fenómeno e diferentes recomendações. É muito importante o consultor científico do Governo, mas nunca é nem pode ser o dono da verdade científica a que o Governo deve recorrer”, argumentou.
O ministro destacou ainda a importância dos cientistas para a diplomacia, apontando o “peso crescente” dos investigadores na diáspora.
A rede de cientistas no mundo é um recurso absolutamente essencial da política externa e da diplomacia portuguesa”, salientou.
Na mesma linha, o ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, Manuel Heitor, afirmou que a política de diplomacia científica do Governo procura “colocar as pessoas, sobretudo as novas gerações, no cerne”, concentrando-as “num leque mais diversificado de zonas” e desenvolver capacidade científica, procurando assim contrariar “os processos de fuga de cérebros que caracterizavam a diplomacia científica nos últimos 50 ou 60 anos”.