Trabalhadores da Empresa Nacional de Pontes de Angola, sem salários há 45 meses, decidiram hoje manter a vigília de protesto, apesar das promessas da empresa de que os pagamentos começam a ser feitos na próxima semana.

O diretor da Empresa Nacional de Pontes de Angola garantiu esta terça-feira que a partir da próxima semana vão começar a ser pagos os 45 meses de salários em atraso, apesar da falta de empreitadas para sustento da instituição.

Em declarações à agência Lusa, José Henriques assegurou que “hoje começaram já a ser pagas algumas faturas” de obras realizadas pela empresa e que a partir da próxima semana “a questão salarial começará a ser reescalonada”.

Entretanto, os trabalhadores concentrados à porta da empresa narram na primeira pessoa o grau de dificuldades por que passam, com famílias desestruturadas, filhos sem estudar e a condição de pedintes a que estão submetidos.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Um cartaz com os dizeres “Empresa Nacional de Pontes 45 Meses sem Salários. A Pobreza e a Fome Estão Aqui. Estão a nos Matar Devagar” está afixado logo à entrada da empresa, em Luanda, num apelo à resolução da situação.

Maria Rosa faz parte do grupo de 427 trabalhadores que se encontram nesta situação e que entraram já na segunda semana de vigília na empresa. Há 22 anos na empresa, a funcionária diz estarem submetidos a uma situação “desumana e de autênticos pedintes”.

Nós estamos a trabalhar para sustentar os nossos filhos, dizem que o trabalho dignifica o homem, mas esse trabalho não está a nos dignificar, nós estamos como pedintes. Apelamos a quem de direito que nos ajude, porque se querem ver o encerramento da empresa também nos avisem ou nos indemnizem, mas não é assim, isso é desumano”, lamentou.

Também Tomás Miguel António, funcionário há 10 anos na empresa, que diz estar totalmente dependente da esposa, que diariamente lhe tem disponibilizado 500 kwanzas (2,6 euros), sublinhado ainda dificuldades para o pagamento da renda da casa.

A situação é lamentável, eu vivo numa casa arrendada e hoje em dia estou a sobreviver com 500 kwanzas por dia que a minha esposa me dá, várias vezes eu recorro aos meus familiares para pagar a renda de casa, os filhos já não estudam e a situação está difícil”, contou.

Segundo este trabalhador da empresa pública de pontes de Angola, a instituição “volta e meia faz pequenas obras”, cujos rendimentos daí resultantes os trabalhadores desconhecem.

Não sei se as pessoas querem nos matar a jeito, mas se assim for que fechem a empresa e nos deem a nossa indemnização e vamos embora, porque a vida está mal e em casa hoje nos tornamos mulher, não estamos a viver, mas sim a sobreviver”, atirou.

O mesmo drama está a viver João Paulo Bety, que há 17 anos é funcionário na empresa.

A nossa preocupação são os salários. Estamos sem salários há 45 meses, sou viúvo, os meus filhos não estudam, porque o pai não tem dinheiro” observou, questionando que futuro terão os filhos sem estudar.

“Apenas os filhos dos funcionários da Empresa Nacional de Pontes serão analfabetos a 100% porque o pai trabalha há quatro anos que não tem salário como fica? Quem é o culpado? Por favor, resolvam a nossa situação, porque estamos numa penúria tremenda“, lamentou.

Por sua vez, o primeiro secretário da Comissão Sindical dos Trabalhadores da Empresa Nacional de Pontes de Angola, Mateus Alberto Muanza, fez saber que empresa ainda realizou alguns trabalhos de 2011 a 2014 e que agora são relegados em detrimento das empresas chinesas.

O que acontece é que quando aparecem empreitadas, o Ministério da Construção entrega aos chineses e nós os nacionais ficamos aqui a morrer e quando nos aparece uma obra de um empresário são valores ínfimos”, sublinhou.

Mais de 400 trabalhadores da empresa protestam há mais de uma semana, em vigília, exigindo os pagamentos em atraso.