Numa altura em que a Rússia continua a ser o principal tema na agenda política norte-americana, esta terça-feira com novos desenvolvimentos, o ministro dos Negócios Estrangeiros da Rússia endureceu a retórica contra Washington e avisou que está a estudar medidas para retaliar contra a sanções de que foi alvo no final do ano passado.

Já na parte final da campanha presidencial norte-americana, as 17 agências de segurança norte-americanas publicaram uma posição conjunta onde afirmavam que o governo russo estava a tentar interferir na votação.

A notícia não ganhou muito destaque nesse dia, até porque foi nesse mesmo dia que foi publicada uma gravação em que Donald Trump admitia comportamentos pouco próprios para com as mulheres com quem queria ter relações e em que o Wikileaks começou a revelar os emails que foram roubados ao Partido Democrata, entre eles ao chairman da campanha de Hillary Clinton, John Podesta.

No entanto, e já depois das eleições que deram a vitória a Donald Trump, Barack Obama decidiu impor sanções contra o governo russo, expulsando 35 diplomatas russos e apreendendo várias instalações diplomáticas russas em território norte-americano.

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Na altura, Donald Trump insurgiu-se contra a decisão e, num dos primeiros casos da administração Trump, Michael Flynn, o general que viria a tornar-se conselheiro para a Segurança Nacional de Trump, reuniu-se com o embaixador russo em Washington, Sergey Kislyak, e passou a mensagem da nova administração que a situação ficaria resolvida. Flynn viria a demitir-se por ter mentido ao vice-presidente sobre a natureza do encontro, e está agora sob investigação judicial.

A Rússia não retaliou contra a decisão de Barack Obama, mas agora parece estar a perder a paciência e passou a mensagem de forma pública e oficial: se a situação não se resolver, vai retaliar.

“A situação é escandalosa”, disse o ministro dos Negócios Estrangeiros da Rússia aos jornalistas russos, durante uma visita à Áustria, esta terça-feira. “Acredito que para um grande país como os Estados Unidos da América, este grande defensor da lei internacional, é simplesmente vergonhoso deixar esta situação no ar”, acrescentou. Os comentários foram publicados na página na Internet do Ministério.

“Estamos agora a pensar em passos específicos”, disse o governante, sem dar detalhes sobre o tipo de medidas que o Kremlin pode ter na calha para responder, com mais de meio ano de atraso, às sanções norte-americanas.

A imprensa russa, de acordo com a Reuters, diz que o Kremlin está a ponderar expulsar 30 diplomatas e tomar o controlo de duas instalações diplomáticas norte-americanas em Moscovo e São Petersburgo.

As sanções tiveram origem nas conclusões das agências de informação norte-americanas sobre o envolvimento do governo russo na tentativa de influenciar as eleições norte-americanas, a favor de Donald Trump.

Esta tentativa de influenciar as eleições, e as eventuais ligações à campanha de Trump, estão a ser investigadas pelo FBI, CIA, NSA e Departamento do Tesouro, e pelo Congresso norte-americano. O Departamento de Justiça nomeou Robert Mueller, ex-diretor do FBI, para liderar a investigação ao caso como procurador-especial.

Ainda esta terça-feira, um dos filhos de Donald Trump, Donald Trump Jr. – não faz parte da administração norte-americana, tendo ficado com a gestão dos negócios da família juntamente com o irmão Eric – divulgou o corrente de emails dos contactos que levaram a um encontro com uma advogada russa, que dizia ter informação prejudicial para a campanha de Hillary Clinton. Nesses emails, o filho de Trump é ainda informado que há um esforço do governo russo para ajudar na eleição de Donald Trump. “Adoro”, foi como respondeu o filho de Donald Trump à sugestão que a advogada teria informação que podia ser prejudicial à campanha de Hillary Clinton.