Floyd Mayweather gosta de ouvir Earl Hayes, Derek Bomb ou 50 Cent mas para treinar o som tem de ser de Phil Collins. Conor McGregor também alinha pelo hip-hop e pelo rap, mas quando chega a hora de trabalhar (ou não fosse ele irlandês) nunca abdica de Sinead O’Connor. Também aqui, existe uma bipolaridade quase naif nestas duas figuras que são exemplo paradigmático do quão excêntricos podem ser os desportistas de topo.

Com eles, é chapa ganha, chapa gasta. Mas não é uma chapa qualquer, mete uma série de zeros à direita na conta. E esta madrugada foi o primeiro dia do resto da vida deles. Pelo menos, como ela foi até hoje.

Conor McGregor conseguiu tornar-se a cara mais mediática do MMA e vai agora arriscar uma aventura no boxe

Começaram por picar-se nas redes sociais. Sobretudo Conor McGregor, irlandês de 28 anos com um registo de 21-3 na MMA, a meter-se com Floyd Mayweather, lutador de boxe com um registo imaculado como profissional de 49-0. O americano estava retirado, foi dando ‘bailarico’ no opositor, mas a certa altura, quando o nível da provocação já começava a passar para a ofensa, chegou-se à frente, aceitou o repto e foi buscar as luvas ao armário. McGregor ficou contente da vida e passou a orientar o seu treino para as regras do boxe inglês (porque no MMA as leis do jogo são bem diferentes).

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Agora, percebe-se o porquê: o irlandês quer lutar pelo desafio, o americano teve de entrar na luta para resolver dívidas ao fisco que estarão acima dos 20 milhões de dólares. Só para se ter uma ideia de quanto está em jogo (e aqui não vamos contabilizar o bolo total que sairá de patrocínios, direitos televisivos etc.), Mayweather recebe 100 milhões de dólares se ganhar, ao passo que McGregor terá 75 milhões à sua espera caso consiga infligir a primeira derrota da carreira profissional ao americano.

É neste contexto que se vai disputar o (novo) ‘Combate do Século’, a 26 de agosto. Esta madrugada realizou-se a primeira conferência de imprensa de promoção, no Staples Center, em Los Angeles, onde terão estado presentes cerca de 20 mil fãs. Não se engalfinharam no palco, mas a certa altura pouco faltou. No ringue, daqui a 45 dias, estarão dois egos do tamanho na T-Mobile Arena, em Las Vegas. Mayweather e McGregor tiveram infâncias complicadas mas são agora autênticas marcas que contam com milhões de seguidores.

O combate entre Mayweather e Pacquiao rendeu ao americano (que ganhou) mais de 100 milhões de euros

De fatinho aprumado e feito à medida, McGregor foi o primeiro a falar. “Este [apontando para Mayweather] está de tal forma contraído que já nem tem dinheiro para comprar um fato… Está lixado, vou conseguir dar o knock out em quatro rounds. Sou um jovem, feliz, que trabalhou muito para chegar até aqui e ninguém me vai impedir de fazer o que quiser. Isto tem regras, é metade de uma luta, um quarto de uma luta. Se fosse uma luta a sério como as que faço, nem um round aguentava“, ameaçou o irlandês.

Há 21 anos que ando a arrumar adversários. A 26 de agosto, também vou arrumar com este. Ele pode ser bom para um lutador de sete dígitos, até oito dígitos. Eu sou um lutador de nove dígitos. No último combate que fez ganhou, só ganhou três milhões de dólares, coitado… Escolham o adversário, eu ganho-lhe. Tu vais cair, podes escolher se é de cara ou se é de costas. Deus só fez uma coisa perfeita, que foi o meu registo no boxe“, respondeu o americano.

E lá foram, contentes da sua vida, para a sala de conferências (onde as picardias prosseguiram). Ainda no palanque, estiveram uns minutos com as caras quase coladas um ao outro, aquilo que se denomina neste estranho mundo de face off, a pronunciarem frases que, pelo gabarito da coisa, não é preciso muito para se perceber que teriam um ininterrupto ‘piiiiiiiiiiiiii’ se tivessem o microfone lá ao pé. Não se terem pegado, já foi uma sorte. Agora vai haver mais, em Toronto, em Nova Iorque, em Londres. Pelo meio, treinam. E são excêntricos, tendo como Euromilhões não uma taluda premiada mas os punhos que lhes têm rendido milhões e milhões de dólares num misto de desporto que resvala muitas vezes mais para o entretenimento.

Uma frota de carros de fazer inveja a qualquer um

Este ano, Floyd Mayweather decidiu vender o seu Koenigsegg CCXR Trevita, que pode chegar aos 100km/hora em menos de três segundos. Estaria a ganhar juízo? Nem por isso, era apenas para renovar a sua frota de automóveis. E que frota: Ferrari 458, Bugati Veyron Grand, dois Bugatis Veyron, Ferrari Enzo, Rolls Royce Wraith 2014… Ainda há Lamborghinis e Porsches. Já perceberam a ideia. Com mais um ponto: todos os carros que compra em Miami têm de ser brancos, ao passo que as bombas de Las Vegas são todas pretas.

McGregor começou esse ‘hobbie’ de colecionar carros topo de gama mais tarde, com um Cadillac Escalade e um BMW i8, mas não demorou a acrescentar mais dois BMW, um Lamborghini Aventador, um Rolls-Royce Phantom Drophead e um Mercedes. O Lamborghini a que chamou “The Flamethrower” parece ser o preferido.

Os jatos privados e a regra dos guarda-costas

Conor McGregor comprou há não muito tempo um jato privado para acorrer de forma mais célere e cómoda a todos os eventos e ações promocionais (que são muitas, todos os dias, em locais distantes). Mas cometeu uma gaffe que fez com que fosse gozado durante muito tempo em público e nas redes sociais: colocou uma imagem sua a descansar no jato enquanto lia um jornal… mas que estava ao contrário, como se consegue perceber.

Floyd Mayweather, que quando não tem nada para fazer tira fotografias no seu jato a contar dinheiro (uma coisa habitual no pugilista americano), tem uma regra que não abdica: como os guarda-costas são homens grandes, e como o jato não é propriamente um avião, obriga a que os seguranças se desloquem num outro aparelho por forma a não interferirem no normal funcionamento da sua aeronave no voo e na aterragem.

O estranho hábito de andarem com maços de notas nas mãos…

Floyd Mayweather tem, como não poderia deixar de ser, uma alcunha, aquele nickname que cria uma espécie de marca registada da personagem. Que, como também não poderia deixar de ser, é Money. E se há uma imagem comum nele é andar a mostrar os maços de notas que transporta de um lado para o outro e que gosta de estar a contar quando não tem nada para fazer. Mas isso é apenas a ponta do icebergue.

Além de pagar quatro mil euros por dia para ter uma cozinheira 24 horas por dia à sua disposição, Mayweather coleciona sapatos e ténis (mais de 1.500, com destaque para os 80 exemplares da Louboutin) mas, muitas vezes, calça-os uma vez e deixa de usar. Tem milhões de euros em joias e relógios de ouro com diamantes, investiu 25 mil euros num bocal forrado a ouro e, claro está, o seu telefone é também banhado a ouro. Por altura do 40.º aniversário, celebrado com uma festa onde cantaram Mariah Carey e o amigo Justin Bieber, apareceu com um cinto forrado com 3.000 esmeraldas. Além do cliché das festas com várias mulheres de fato de banho onde gosta de atirar notas para o ar, mostrou também uma imagem onde vai ao banco fazer um levantamento de dinheiro. Pormenor: foi preciso um carrinho para carregar todos os maços. Tem duas mansões, em Miami e em Las Vegas. E não é preciso ser adivinho para se perceber todos os seus luxos.

https://www.instagram.com/p/BB_xsr3x3XR/?taken-by=floydmayweather&hl=en

McGregor está agora a chegar a esse patamar de excentricidade e, nos últimos tempos, começou também a aparecer com molhos de notas nas mãos. Tem uma mansão de sonho e seguiu também os passos de Mayweather ao surgir nas melhores lojas de roupa para investir num guarda-roupa diferente daquele a que estávamos habituados quando entrou no mundo do MMA, limitado a sweats e calças de fato de treino. O facto de ter sido recentemente pai faz com que tenha passado agora mais tempo em casa, mas também aqui o bebé é brindado com presentes como um mini Ferrari preto que se encontra junto à frota de luxo do pai. Há algum tempo que não é apanhado num “filme” como teve em Liverpool, no hotel Hilton, onde a suite onde se encontrava ficou parcialmente destruída durante cinco dias de farra com os amigos.

Próximo objetivo: ter um animal exótico

Numa entrevista a Jimmy Kittel, Conor McGregor conseguiu arrebatar a plateia quando respondeu à dúvida do apresentador se tinha um emprego engraçado: “Tenho um emprego mesmo divertido porque recebo milhões para andar a bater. Tu recebes imenso dinheiro para falar com as pessoas, eu recebo imenso dinheiro para bater nas pessoas. E se calhar muitas vezes tens vontade de bater nas pessoas e não podes…“.

Foi nessa conversa que, recuperando o exemplo de Mike Tyson, o irlandês revelou uma das ideias que tem planeada para o futuro: adotar um animal exótico. Que pode ser um tigre, como o antigo pugilista (e ator, e cantor, e mais uma série de coisas), um macaco ou um chimpanzé. Até agora, ainda nada. Mas até quando?

Curiosamente, foi mais ou menos nessa altura que Floyd Mayweather recebeu como presente, numa viagem a Moscovo, um tigre bebé da Índia. E até andou a passear o animal pelo hotel, numa cena a fazer recordar o filme ‘A Ressaca’. A PETA reagiu desde logo à publicação: “Mayweather pode ter tudo o que quer e o que deveria querer é o fim do comércio de animais selvagens. Os tigres não são animais de estimação, pertencem a seus habitats nativos e não a uma gaiola na casa de uma celebridade”. E nunca mais se soube mais nada sobre o assunto até que, este ano, o americano voltou à Rússia… e levou dois tigres como mascotes.