A Altice está a preparar o lançamento de um banco online nos mercados onde opera, onde se incluem Portugal, noticiou esta quinta-feira a Reuters. A agência noticiosa adianta que a intenção da empresa, que opera sobretudo no setor das telecomunicações, é iniciar as atividades do “Alticebank” no início de 2019.

A decisão da Altice não é inesperada — a rival francesa Orange, antiga France Télécom — também está na reta final da criação de um banco online, um filão que está a ser seguido por empresas de vários setores, incluindo telecomunicações, para se posicionarem para o futuro da banca, mais tecnológica, mais orientada para os serviços e mais dispersa.

A diferença, nota a Reuters, é que a Altice está a construir o negócio de raiz, o que levará a que tenha de obter as autorizações dos reguladores e obter licença bancária. A Orange, por outro lado, comprou uma participação maioritária num banco existente.

A Altice, que também tem operações na América Latina, tem crescido nos EUA e na Europa à custa de várias aquisições, sobretudo financiadas pela emissão de dívida. Em Portugal, comprou a PT e mostrou interesse em adquirir a Media Capital, dona da TVI, aos espanhóis da Prisa.

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Altice confirma negociações para comprar a Media Capital

Altice em Portugal não comenta acusações de António Costa

A Altice prefere não comentar, pelo menos para já, o ataque feito por António Costa no debate sobre o Estado da Nação, na quarta-feira, em que o primeiro-ministro lamentou que tenha havido falhas de comunicações numas operadoras, e não noutras, na resposta ao incêndio em Pedrógão Grande. António Costa foi mais longe, dizendo temer que a Portugal Telecom, comprada pela Altice, possa ter um desmembramento semelhante ao que se tem verificado na cimenteira Cimpor.

Fonte oficial da Altice, contactada pelo Observador, recusou fazer comentários às palavras de António Costa, que chegou a dizer que gostaria que “a reguladora [a Anacom] visse o que aconteceu, por exemplo, em Pedrógão [Grande], onde algumas operadoras conseguiram manter sempre as comunicações e outras não” e rematou: “Olhe, eu por mim já fiz a escolha da companhia que utilizo”, atirou António Costa.

Receio bastante pelo que possa acontecer à PT, pela forma irresponsável como foi feita a privatização, que possa ser um novo caso da Cimpor. E que isso possa pôr em causa quer os postos de trabalho, quer o futuro da companhia.”

As saídas de pessoas na Portugal Telecom estão na agenda política, um tema dinamizado pelos partidos da esquerda. O Bloco de Esquerda, pela voz de Catarina Martins, afirmou que “na PT, também destruída pela privatização, a Altice prepara o despedimento de milhares de trabalhadores fintando todas as regras e gabando-se disso mesmo até ao parlamento”. Paulo Neves, presidente da PT, tinha estado, de manhã, no parlamento para explicar o plano de saída de trabalhadores da empresa — sob pressão política, Paulo Neves limitou-se a dizer que recusa “qualquer acusação de ilegalidade”.

“Enquanto o governo adia a reversão da selva laboral instalada pelo anterior Governo, os abutres experimentam novos abusos”, disse Catarina Martins, sublinhando que a legislação laboral é hoje um “queijo suíço cheio de buracos para as empresas fugirem às suas responsabilidades” com lucros “fáceis para os acionistas”. O Bloco de Esquerda pediu ao Governo que aja: “um Governo que recusou e bem o despedimento coletivo não pode agora lavar as mãos quando o despedimento avança”, afirmou, pedindo o regresso da contratação coletiva e o pagamento de horas extraordinárias para acabar com o abuso do banco de horas.