Uma semana depois da operação policial que foi montada perto do NOS Alive, para multar os carros que estivessem a prestar serviço para a Uber e a Cabify, Nuno Santos, diretor da Cabify Portugal — que era parceira do festival –, explicou ao Observador que a única coisa que o Instituto da Mobilidade e dos Transportes (IMT) conseguiu com a Operação STOP foi “dificultar a velocidade e a facilidade com que os motoristas iniciavam o trajeto” das viagens. E que o resto foi “um êxito”. Entretanto, no festival Super Bock Super Rock, a polícia voltou a repetir as operações à imagem do que tinham feito no NOS Alive.

Sobre os autos que estão a ser passados aos motoristas e empresas parceiras que trabalham com a plataforma eletrónica (as coimas podem oscilar entre 5 mil e 15 mil euros) Nuno Santos clarifica que a empresa não está a prestar apoio específico aos parceiros afetados, porque “as multas não são contra a Cabify, estamos à parte dessa gestão”. Questionado pelo Observador, Nuno Santos disse que não tinha medidas previstas para o caso de a situação se repetir no Supor Bock Super Rock.

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A Cabify foi parceira oficial do NOS Alive e a operação policial que foi montada no Passeio Marítimo de Algés, junto ao recinto, mereceu críticas por parte de Álvaro Covões, responsável pela organização do festival.

A oportunidade é muito bem escolhida, porque nós fazemos um esforço titânico para pôr Portugal no mapa, trazemos cá 118 jornalistas estrangeiros e 22 mil estrangeiros, ajudamos a vender Portugal lá fora e se o IMT decidiu fazer uma ação destas nestes dias, eu devia dar os parabéns porque vamos no caminho certo”, disse ao Observador.

Nuno Santos diz que, apesar da ação de fiscalização, a parceria foi “um êxito”, sem avançar com números sobre os motoristas que foram autuados. “A parceria com o NOS Alive mesmo com constrangimentos foi um caso de êxito interno, do qual ainda estamos a colher os frutos”, disse ao Observador.

Confirmando que não foi a primeira vez que os parceiros da Cabify foram alvo de operações de fiscalização organizadas pelo IMT e pela PSP, Nuno Santos esclarece que têm chegado à empresa alguns “pedidos de esclarecimento”, mas como “estas multas estão focadas nestas empresas de transporte”, a Cabify acaba “por estar um pouco à margem” da situação.

O máximo que podemos fazer nestas situações é tentar, com a nossa equipa de atendimento ao cliente e de apoio ao motorista, ajudá-los para que a mobilidade seja a melhor possível. E foi o que fizemos no NOS Alive”, diz Nuno Santos, antes de explicar que, nos dias do festival, multiplicaram por três o número de serviços realizados (em comparação com um fim de semana normal) e que houve 5 vezes mais downloads da app.

A lei que está na base das operações de fiscalização, que incide sobre o serviço de táxi ilegal, inclui, desde novembro de 2016, pela primeira vez, os serviços prestados através de plataformas eletrónicas. Se para a PSP isto abre a porta a veículos que prestem serviço para a Uber e para a Cabify, para estas operadoras, não. Porque não classificam o seu serviço como um “serviço de táxi”, várias empresas parceiras têm estado a contestar as multas.

“Não nos revemos nesta lei, mas lá está… É uma lei que acaba por prejudicar a operação de empresas de transporte que já existem há décadas e que, certas vezes estão ligadas e a utilizar a plataforma da Cabify e outras vezes não estão. Portanto, sim… Esta lei é uma lei própria do táxi e distinguimos muito esta da outra proposta de regulamentação que está no Parlamento à espera de uma resolução”, afirma Nuno Santos.

É preciso que as empresas possam “olhar para este negócio a longo prazo”

A proposta de regulamentação do Governo dos veículos descaracterizados, que inclui a Uber e a Cabify, baixou à Comissão de Economia para que os vários grupos parlamentares chegassem a um acordo sobre a forma como estes operadores devem atuar no mercado português. À proposta de regulamentação do Governo, juntaram-se as dos outros grupos parlamentares, mas quatro meses depois, ainda não chegaram a um consenso.

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“Temos visto que existe a intenção dos vários grupos parlamentares e das pessoas envolvidas de criar aqui uma lei que, no fundo, ofereça este serviço de uma forma mais clara aos cidadãos. Esperamos que se chegue a esse esclarecimento o quanto antes… é a nossa posição, sempre foi”, diz Nuno Santos, acrescentando que sempre participou ativamente nesta discussão, “junto dos órgãos com poder para tomar decisões ou fazer propostas”.

Para o responsável pela Cabify Portugal, é preciso garantir que são criadas regras e metodologias para as empresas de transporte poderem “olhar para este negócio a longo prazo”, e os clientes terem a certeza de que “estão a utilizar um serviço seguro”. Sobre a contingentação (limitar os carros Uber ou Cabify que circulam nas estradas) que o setor do táxi exige para que estas plataformas sejam reguladas, Nuno Santos afirma que “o contingente não serve para a volatilidade que o mercado tem neste momento”.

“Achamos que é mais importante criar medidas que protejam o cliente e não que restrinjam o investidor ou a empresa de transportes de se adaptar à procura que existe no mercado”, afirmou o responsável pela Cabify Portugal, esclarecendo que não fecham a porta a eventuais parcerias com taxistas.

Noutros países, temos a categoria de táxi disponível e desde o início que nos sentamos com as diferentes associações de táxis. A Cabify vê o futuro da mobilidade como uma integração entre várias opções de mobilidade e, desta forma, pensamos que o correto é não excluir ninguém de todo o ecossistema, porque realmente o cliente quer alternativas, que estamos dispostos a estudar se houver interesse do outro lado”, explicou Nuno Santos.

A Cabify entrou em Portugal em maio e Nuno Santos conta que existem mais de 150 mil pessoas com a aplicação registada em Portugal, sendo que a empresa já transportou mais de 50 mil pessoas diferentes em Lisboa e mais de 20 mil pessoas diferentes no porto. Através da opção “Cabify baby” foram transportadas mais de três mil crianças.