A participação dos venezuelanos no plebiscito simbólico contra o projeto de Assembleia Constituinte, do Presidente Nicolás Maduro, superou, na ilha da Madeira, as expectativas dos responsáveis, que no Funchal abriram mais uma mesa de voto. “Temos três mesas de voto na Madeira, no Funchal, Santa Cruz [zona leste da ilha] e Ribeira Brava [zona oeste], mas, entretanto, no Funchal já abriu mais uma mesa por causa da afluência muito grande”, disse à agência Lusa Patrícia de Aleixo, responsável pela secção de voto da Ribeira Brava.

Na sexta-feira, desse mesmo “medo” dava conta ao Observador uma das organizadoras do voto no Funchal, Natalie Pestana, que já temia uma afluência bastante superior às capacidades da organização. Por todo o mundo há milhares de pessoas a votar nesta espécie de referendo às intenções de Nicolás Maduro em formar uma Assembleia Constituinte que venha solidificar em lei aquilo que é efetivamente a concentração dos três ramos do Estado na sua pessoa.

Um pouco por todo o mundo, os venezuelanos estão a mostrar nas redes sociais uma adesão alta a este voto não-oficial mas previsto na Constituição.

Em Cloral Gables, na Flórida, a fila teve que ser organizada “em serpente”:

Também na própria Venezuela, no município de Lara, as filas são consideráveis:

Já em Toronto, um ginásio cheio exige “Liberdade”:

No local, dezenas de pessoas aguardavam em fila, ao princípio da tarde, a vez de votar no referendo que a oposição designa como o maior ato de “desobediência civil” e que tem lugar após três meses de contínuos protestos violentos contra o Governo de Nicolás Maduro, durante os quais pelo menos 110 pessoas morreram.

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“Vou votar ‘sim’ [contra Nicolas Maduro], para que a Venezuela torne a ser o que já foi nalgum tempo, porque hoje tristemente estamos numa ditadura”, disse Carlos Abreu, lusodescendente, de 39 anos, que se encontra a passar férias, realçando que “a situação está mesmo muito difícil”.

A mesma opinião manifestou João Rodrigues, um madeirense de 58 anos que reside há quatro décadas na Venezuela. “O propósito de vir cá votar é contribuir para que a Venezuela mude, para garantir a nossa segurança, a nossa propriedade, porque estamos a ver qual é o dia em que a gente fica sem nada”, disse, vincando que nunca assistiu a “coisa igual” e que é urgente que o país “volte a ser o que era antes”.

Venezuela. Eleitores julgam Maduro e em Portugal também se vai votar

A consulta popular, que por decisão da Comissão Nacional de Telecomunicações, não será transmitida pelas rádios e televisões locais, decorre em 1.600 assembleias de voto do país, algumas delas em bairros tradicionalmente afetos ao regime, e também em outros países, nomeadamente em Portugal, onde se estima que vivam atualmente cerca de 20 mil cidadãos venezuelanos com direito de voto.

Na Região Autónoma da Madeira, os responsáveis pelas mesas de voto, embora não dispondo de dados oficiais, calculam que entre quatro a cinco mil pessoas estão em condições de participar no referendo. “Para votar é necessário ter o BI ou o passaporte venezuelano, estejam válidos ou não”, explicou Patrícia de Aleixo, realçando que centenas de pessoas já votaram na Madeira, região de onde são originárias 300 mil pessoas da comunidade portuguesa residente na Venezuela.

Empresas de sondagem como a Datanalisis dão conta de que 70% dos venezuelanos se opõem à Assembleia Constituinte (AC), prevendo-se, no entanto, que, por questões de segurança perante ações de coletivos (motociclistas armados afetos ao regime), a maior afluência dos quase 30 milhões de eleitores tenha lugar em zonas de classe média e alta, devendo os resultados ser conhecidos ao longo da noite de hoje.