Um em cada quatro alunos e professores cabo-verdianos já foram vítimas de algum tipo de violência no meio escolar, um fenómeno que afeta mais as alunas e as professoras, concluiu um estudo hoje apresentado na cidade da Praia.

As conclusões são de um estudo piloto de diagnóstico sobre a violência no meio escolar em Cabo Verde, realizado a 937 alunos e 131 professores de quatro escolas secundárias da ilha de Santiago, a maior do arquipélago.

Segundo o estudo, 27,7% dos alunos e 24% dos professores inquiridos já foram vítimas de algum tipo de violência, um fenómeno que afeta mais as alunas (16%) e as professoras (13,1%).

A pesquisa, realizada pela Universidade de Cabo Verde (UNI-CV), em parceria com o Ministério da Educação e as Nações Unidas, notou que os alunos praticam mais violência quando entram na adolescência, 15 a 18 anos (9%), contra 4,9% dos meninos dos 11 aos 14 anos.

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Por outro lado, verificou que os professores em idade madura, mais de 30 anos, são os que sofrem ou praticam mais agressão nas escolas.

A investigação concluiu que 31% dos alunos e 28% dos professores consideram a agressão física e a psicológica as formas mais frequentes de violência e que são mais praticadas pelos rapazes (7,8%), contra 6,5% pelas raparigas.

Os atos de violência nas escolas, praticados tanto por professores como por alunos, acontecem com maior frequência nos pátios, nos recreios e nos corredores, revelou o documento, o primeiro do tipo realizado em Cabo Verde.

Mau comportamento, desentendimento e uso de bebidas alcoólicas e de drogas são os principais motivos apontados pelos alunos para praticarem atos de violência nas escolas secundárias.

No inquérito, 35,7% dos alunos afirmaram que denunciaram o caso ao diretor de turma, enquanto 27,1%, sobretudo as raparigas, avançaram que nada fizeram, e 15%, sobretudo os rapazes, garantiram que reagiram da mesma forma, ou seja, com violência.

Doze por centro dos alunos indicaram que comunicaram a ocorrência aos pais, enquanto as escolas, ao tomarem conhecimento dos casos, recorreram quase sempre aos Conselhos de Disciplina (72,4%), contra apenas 1,8% à polícia.

Em declarações aos jornalistas, Cristina Pires Ferreira, coordenadora do estudo e professora da UNI-CV, disse que a violência sexual é ainda um tema sensível e ocultado nas escolas, mas que será objetivo de aprofundamento num estudo nacional que deverá arrancar em setembro.

A responsável disse também que a questão da violência cibernética será aprofundada no estudo nacional, já que ainda não é tão explícita, pelo menos ao nível dos professores, e que é mais praticada pelos alunos.

Cristina Pires Ferreira indicou que o objetivo da pesquisa é contribuir para a adoção de políticas, com destaque para um plano nacional de prevenção e combate ao fenómeno da violência no meio escolar cabo-verdiano.