O número de clínicos que optou por exercer em zonas carenciadas “ainda é muito baixo”, afirmou esta segunda-feira o bastonário da Ordem dos Médicos, que atribui esta situação a um pacote de incentivos que “não é verdadeiramente estimulante”.

Há seis meses entrou em vigor um conjunto de incentivos para convencer médicos a trabalhar em zonas carenciadas, que passam, entre outros, por um vencimento superior em 40%, mais férias e preferência na colocação do cônjuge.

Para o bastonário dos médicos, este conjunto de incentivos “não é verdadeiramente estimulante para levar os médicos a escolher trabalharem numa área mais carenciada” em “detrimento de trabalhar numa grande cidade portuguesa ou numa grande cidade europeia”.

Quando um médico tem “as portas abertas do setor privado em que o nível de remunerações é claramente superior àquele que acontece atualmente no Serviço Nacional de Saúde”, e há países como Inglaterra, França, Espanha, que “oferecem condições de trabalho claramente melhores”, os profissionais acabam por optar por aquilo que julgam ser melhor para eles, adiantou.

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Por esta razão, “o número de médicos que se está a deslocar para as áreas carenciadas ainda é muito baixo“, disse à agência Lusa Miguel Guimarães, à margem da cerimónia da tomada de posse dos membros dos Conselhos Consultivos, nomeados pelo Conselho Nacional.

Quando falamos no desenvolvimento de zonas mais carenciadas isto não se pode aplicar apenas aos médicos ou aos enfermeiros”, disse o bastonário, defendendo que os incentivos têm de ser alargados a profissionais de várias áreas para a região se desenvolver.

Também é necessário haver alguns serviços em áreas mais carenciadas, como nas regiões do Algarve, Vila Real ou Alentejo, disse, advertindo que, “enquanto isto não for feito globalmente, estes pacotes de incentivos valem o que valem”.

As regiões mais periféricas estão cada vez mais desprotegidas e com este tipo de incentivos e com este tipo de atitude é evidente que este ministro da Saúde não vai resolver o problema”, vincou.

Miguel Guimarães sublinhou que “a questão que o Ministério [da Saúde] ainda não percebeu é que Portugal tem as fronteiras abertas e está a concorrer não só com o setor privado em Portugal mas também com os outros países da Europa”.

Não basta termos a mesma moeda e depois a seguir não ter capacidade concorrencial”, porque sem ela “vamos continuar a perder os nossos melhores valores que a Europa vem buscar a Portugal” e o investimento feito na sua formação, sublinhou.

Se o ministro da Saúde, Adalberto Campos Fernandes, “ainda não percebeu, é pena, mas tem que perceber, porque toda a gente já percebeu isso”, sustentou o bastonário.

Por outro lado, Portugal vai ficar com uma população cada vez mais envelhecida.

No caso da saúde, o investimento da população, neste caso dos médicos, já é superior ao investimento da população em geral e vamos com isto perder a capacidade de inovação para acompanhar aquilo que é a nova medicina e isto é grave porque vai fazer com que o Serviço Nacional de Saúde entre em derrapagem”.

Aliás — vincou – o SNS “já está a entrar em derrapagem” e se não for feito nada para alterar a situação “dentro de poucos anos” o Serviço Nacional de Saúde será “completamente diferente daquele que está consagrado na Constituição da República Portuguesa”.