A imprensa espanhola tem andado a semana toda a recordar o momento que mudou por completo o paradigma do desporto no país – os Jogos Olímpicos de 1992, que cumprem agora 25 anos. Na ressaca de uma edição com grandes expetativas mas “poucas” medalhas em Seul (quatro, uma de ouro), Barcelona recebeu a prova que marcou uma viragem nacional a dois níveis: por um lado, uma completa revolução a nível de infraestruturas de alto rendimento para atletas; por outro, um novo sistema de apoio aos olímpicos onde, em resumo, as empresas colocavam publicidade na TVE e tornavam-se parceiros do Comité Olímpico, revertendo as verbas para as bolsas de preparação dos atletas para a competição. Resultado: 22 medalhas, 13 de ouro. Mas ainda hoje, todos se recordam de uma outra equipa desse ano: o Dream Team de basquetebol dos Estados Unidos.

Michael Jordan, Magic Johnson e Larry Bird eram os grandes cabeças de cartaz de um conjunto orientado por Chuck Daly (falecido em 2009, aos 78 anos) que tinha ainda grandes estrelas da NBA (e de sempre) como David Robinson, Charles Barkley, Karl Malone, Clyde Drexler, Patrick Ewing, Chris Mullin, John Stockton, Scottie Pippen e o novato Christian Laettner. Uma equipa de sonho, como não mais se viu em qualquer edição de Jogos ou Mundiais (sim, tivemos Kobe Bryant, Lebron James, Kevin Durant e companhia em 2012, mas a outro nível sempre no domínio do estratosférico). E que cilindrou todos os adversários que apanhou pela frente (o jogo mais “equilibrado”, na final, foi o que acabou com menor margem de avanço: 32 pontos): 116-48 com Angola; 103-70 com a Croácia; 111-68 com a Alemanha; 127-83 com o Brasil; 122-81 com a Espanha; 115-77 com Porto Rico; 127-76 com a Lituânia; e 117-85 com a Croácia, na final.

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O El Mundo recorda os passeios de Charles Barkley pelas Ramblas, os jogos de golfe de Michael Jordan com Chuck Daly e as músicas de David Robinson quando tocava saxofone no terraço do hotel. A Marca relembra o início da construção desta equipa de estrelas, após a derrota dos Estados Unidos na meia-final dos Jogos Olímpicos de 1988, frente à União Soviética (82-76). O El Español falou com Andrés Jiménez, melhor jogador espanhol no encontro contra os Estados Unidos. O El País conta os avanços e recuos para juntar os 12 magníficos numa equipa.

Nas últimas edições dos Jogos Olímpicos, existiram alguns encontros para os quais era necessário bilhete (além da credencial com que se andava diariamente) para aceder à bancada de imprensa. E com “cotas” limitadas por órgãos de cada país. Quais? As cerimónias de abertura e encerramento; as sessões vespertinas de meias-finais e finais da natação; as finais de ténis; e os jogos de basquetebol dos Estados Unidos. Só os jogos dos Estados Unidos, entenda-se, independentemente do adversário. Olhando para a descrição acima, percebe-se porquê: todos querem ver os melhores dos melhores em ação. Mas o que andam agora os 12 jogadores do Dream Team a fazer?

Christian Laettner (#4)

O extremo-poste de 47 anos é ainda hoje descrito como um dos melhores jovens que passaram pela NCAA, mas a carreira na NBA acabou por não ser tão conseguida, pelo menos como prometia ser: passou por Minnesota Tiberwolves, Atlanta Hawks, Detroit Pistons, Dallas Mavericks, Washington Wizards e Miami Heat, com uma média de 12,8 pontos e 6,7 ressaltos. Acabou em 2005, tendo voltado para alguns jogos como semi-profissional em 2011 pelos Jacksonville Giants.

Em 2004, foi suspenso vários jogos por ter acusado marijuana num controlo anti-doping. Hoje vive na Flórida, tem como principal hobbie pescar lúcio-almiscarado, espécie rara de água doce, e tem uma série de investimentos com um ex-companheiro da Universidade de Duke, Brian Davis, ligados ao imobiliário. É também investidor do DC United da Major League Soccer, o Campeonato de futebol norte-americano.

David Robinson (#5)

O Almirante, como ainda hoje é conhecido aos 51 anos pelo serviço prestado na Marinha, fez toda a carreira nos San Antonio Spurs, entre 1989 e 2003, tendo acabado com uma média de 21,1 pontos e 10,6 ressaltos entre dois títulos de campeão (1999 e 2003). Foi ainda considerado o melhor jogador da NBA em 1995, dez vezes All-Star e descrito como um dos grandes defensores da Liga no alto dos seus 2,16 metros. Em 1994, marcou 71 pontos num jogo frente aos Los Angeles Clippers. E era um exemplo de correção em campo.

Fundou em 2001 a Carver Academy, escola privada sem fins lucrativos em San Antonio com o objetivo de dar mais oportunidades a crianças do interior do estado (em 2012, a organização tornou-se pública), tirou um mestrado em Administração e formou com Daniel Bassichis o Admiral Capital Group, uma empresa de capital privado para investir em oportunidades com retorno financeiro e social.

Patrick ‘Pat’ Ewing (#6)

O poste americano nascido em Kingston está hoje com 54 anos, alguns quilinhos a mais mas ainda ligado ao basquetebol, como treinador da Universidade de Georgetown após ter sido adjunto em várias equipas da NBA. Como jogador, foi eleito um dos 50 melhores de sempre passando por três equipas (New York Knicks durante 15 anos, Seattle Supersonics e Orlando Magic) com uma média de 21 pontos e 9,8 ressaltos. Foi onze vezes All-Star e nomeado em várias ocasiões para a melhor equipa defensiva.

Mal arrumou os ténis, tornou-se treinador. O filho, Patrick Ewing Jr., passou pela NBA antes de vir jogar para a Europa. Entrou em alguns filmes (como o Space Jam) e séries, vive em Nova Jérsia e ainda agora é recordado pelo gesto que teve com o ex-jogador Alonzo Mourning, a quem iria dar um dos rins antes de se perceber através de vários testes e exames que um primo do antigo poste era um dador mais compatível.

Larry Bird (#7)

O extremo é um homem fiel aos seus amores: como jogador, apenas representou os Boston Celtics (1979-1992, com média de 24,3 pontos, 10 ressaltos e 6,3 assistências); como treinador, só orientou os Indiana Pacers (1997-2000), passando depois para a presidência da organização (saiu este ano). Antes dos Jogos Olímpicos, tinha ganho três títulos de campeão entre várias outras distinções como as 12 nomeações para o All-Star Game. É o único a ter ganho os prémios de Melhor Jogador do Ano, Melhor Treinador do Ano e Melhor Executivo do Ano na NBA.

Foi um dos proprietários do Larry Bird’s Boston Connection (hotel e restaurante) nos anos 80 e 90 antes de ceder a posição ao Quality Inn. Entrou em filmes e séries, foi homenageado com letras de músicas e emocionou os norte-americanos quando contou num documentário a relação de forte amizade com Magic Johnson, na altura o líder do grande rival dos Boston Celtics, os Los Angeles Lakers.

Scottie Pippen (#8)

Foi um dos melhores jogadores de sempre mas não é tantas vezes reconhecido por ter estado na sombra de Michael Jordan nos Chicago Bulls, onde ganhou seis anéis de campeão antes de passar por Houston Rockets e Portland Trail Blazers. Sete vezes All-Star, acabou com uma média de 16,1 pontos, 6,4 ressaltos e 5,2 assistências entre muitos outros prémios que distinguiram também as suas qualidades como defensor.

Em 2007, treinou para regressar ao ativo na NBA mas o máximo que conseguiu foi realizar alguns jogos por duas equipas finlandesas, o Torpan Pojat e o Sundsvall Dragons. Teve algumas presenças esporádicas em séries e tornou-se embaixador dos Bulls numa altura onde estava à beira da bancarrota.

Michael Jordan (#9)

É considerado por muitos o melhor jogador de sempre e, mesmo após uma passagem fugaz e sem sucesso pelo basebol após a morte do pai, voltou à NBA para ganhar mais três títulos num total de seis pelos Chicago Bulls (1995-1998). Entre 2001 e 2003, jogou ainda nos Washington Wizards mas… não era a mesma coisa. Terminou a carreira com uma média de 30,1 pontos por jogo, além de 6,2 ressaltos e 5,3 assistências.

Foi diretor de operações dos Wizards, enquanto ia gerindo a marca de roupa com o seu nome. Em 2006, tornou-se acionista dos Charlotte Bobcats; em 2010, passou a ser o primeiro ex-jogador com uma posição maioritária numa equipa da NBA. É ainda hoje uma das maiores figuras do desporto a nível de marketing, entrou em filmes como o Space Jam e entrou no top-3 dos afro-americanos mais ricos em 2017 da Forbes, apenas atrás de Oprah Winfrey e Robert Frederick Smith. Continua a ter como principal hobbie o golfe.

Clyde Drexler (#10)

Depois de 12 anos fiel aos Portland Trail Blazers, pediu em fevereiro de 1995 para ser trocado para os Houston Rockets e foi aí que cumpriu o grande sonho: ser campeão da NBA. Foi o seu único título, mas ficou para a história da carreira deste “shooting guard” com uma média de 20,4 pontos por jogo, além de 6,1 ressaltos e 5,6 assistências. Foi também dez vezes All-Star, o que diz bem da sua qualidade numa era de génios.

Aos 55 anos, é comentador dos jogos em casa dos Houston Rockets, escreveu um livro, tem investimentos imobiliários através da Drexler Holdings LLC há muitos anos e é um dos proprietários dos dois Drexler’s World Famous BBQ & Grill, geridos pelo irmão e pelas duas irmãs.

Karl Malone (#11)

Karl Malone teve uma trajetória muito semelhante a Clyde Drexler, jogando 18 anos nos Utah Jazz em dupla com John Stockton (1985-2003) antes de fazer um último ano nos LA Lakers com o objetivo de ser campeão… que não conseguiu atingir. Ainda assim, o ‘Carteiro’, segundo melhor marcador de sempre da NBA (36.298 pontos, apenas atrás de Kareem Abdul-Jabbar), foi duas vezes considerado o MVP da época regular e 14 vezes nomeado para o All-Star Game.

Tornou-se diretor promocional do basquetebol da Universidade de Louisiana Tech antes de voltar aos Utah Jazz, em 2013, como técnico adjunto. Participou num combate de wrestling com Dennis Rodman, entrou num filme, gosta de pescar e caçar (daí ter uma casa de férias no Alaska) e tem negócios nos setores da restauração e da venda de automóveis.

John Stockton (#12)

Falar de Karl Malone será sempre falar de John Stockton, o base que fez toda a carreira nos Utah Jazz e que foi companheiro do extremo/poste durante 18 anos. Também ele nunca ganhou nenhum anel de campeão, mas foi dez vezes All-Star e é tido como um dos bases mais inteligentes que já passaram pelo jogo, terminando os 19 anos na NBA com uma média de 13,1 pontos e 10,5 assistências.

Aos 55 anos, é casado com Nada Stepovich, tem seis filhos (quatro rapazes e duas raparigas) e reside em Spokane, Washington, onde nasceu. Lançou a sua autobiografia em 2013, foi treinador adjunto de uma série de equipas jovens (aquilo que sempre mais gostou de fazer), esteve também na equipa técnica da equipa feminina da Universidade de Montana e é empresário.

Chris Mullin (#13)

O extremo canhoto que destruía as defesas contrárias com os lançamentos longos (18,2 pontos, 4,1 ressaltos e 3,5 assistências) passou 12 anos nos Golden State Warriors, antes de jogar três anos nos Indiana Pacers e terminar a carreira na primeira equipa que teve na NBA. Foi cinco vezes nomeado All-Star, entre muitas outras distinções.

Depois da reforma, esteve ligado à estrutura diretiva dos Warriors e passou depois pelos Sacramento Kings. Foi também comentador da ESPN durante alguns anos, estando envolvido em diversas ações de caridade, nomeadamente uma para ajudar o amigo e ex-companheiro Manute Bol (o gigante de 2,31 metros, falecido em 2010), que ficou gravemente ferido num acidente de viação. Treina desde 2015 a equipa de basquetebol da Universidade de St. John.

Charles Barkley (#14)

Ganhou peso, muito peso, depois de ter deixado de jogar, mas não perdeu o humor que faz dele a personagem mais engraçada do Dream Team. Passou por Philadelphia Sixers (1984-1992), Phoenix Suns (1992-1996) e Houston Rockets (1996-2000), foi 11 vezes All-Star e ganhou o prémio de MVP da fase regular por uma ocasião. Só ficou mesmo a faltar o título de campeão, apesar das médias de 22,1 pontos e 11,7 ressaltos por jogo.

Aos 54 anos, entrou também em filmes e séries, está ligado ao comentário desportivo em diferentes cadeias há mais de uma década – e um dos que mais seguidores gera, pela forma descomplexada e provocadora com que faz as abordagens aos jogos – e tem forte ligação aos republicanos desde os tempos de jogador. Teve também problemas graves por ser viciado no jogo, chegou a cair na bancarrota e já foi apanhado em figuras menos próprias à noite.

Magic Johnson (#15)

Foi um dos mais emblemáticos elementos do famoso ‘Showtime’ dos LA Lakers na década de 80, tendo conquistado um total de cinco títulos de campeão entre dezenas e dezenas de distinções individuais, entre as quais três troféus de MVP da época regular e 12 All-Star sempre ao serviço da equipa de sempre. E acabou por ser a grande figura do Dream Team em 1992, menos de um ano depois de ter deixado o basquetebol após anunciar, numa conferência transmitida em direto para todo o país e vista por milhões de pessoas, que era seropositivo.

Tornou-se este ano presidente de operações dos Lakers, com o objetivo de voltar a recolocar a equipa na rota dos títulos depois da saída de Kobe Bryant. Teve uma curta passagem como treinador da equipa em 1994, um regresso efémero ao jogo em 1996, mas, aos 57 anos, tem feito sobretudo carreira como empresário através da Magic Johnson Entreprises: teve 5% dos Lakers, que entretanto vendeu ao milionário Patrick Soon-Shiong, em 2010; faz parte dos investidores que detêm a equipa de basebol dos Dodgers; e está também na Sparks LA Sports, LLC, sociedade que detém a equipa feminina de basquetebol das Sparks. Sempre em Los Angeles, a “sua” cidade.