“Porque é que ele não pode ser nosso presidente?” — esta é a pergunta estampada na capa da edição de agosto da norte-americana Rolling Stone, onde Justin Trudeau aparece com o ar sedutor e carismático a que tem habituado o público. E até aqui tudo bem. O pior foi quando os leitores abriram a revista e leram efetivamente a entrevista do primeiro-ministro canadiano: poucos, muito poucos, a avaliar pelo chorrilho de críticas que lhe têm sido feitas nos Estados Unidos e no resto do mundo, terão ficado com vontade de o ter ao leme dos respetivos países. “Colonialista” é o melhor que lhe chamam, aponta o britânico The Guardian.

Recuemos a 2012. De um lado, o senador mais novo do Canadá, o conservador Patrick Brazeau, 37 anos, cabelos compridos e corpo musculado, origem indígena, dono de um cinturão negro em karaté. Do outro, Justin Trudeau, 40 anos, visivelmente mais franzino e aparentemente fácil de derrubar — tão fácil que as casas de apostas lhe davam apenas uma hipótese em três.

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Estavam prontos para se confrontarem num combate de boxe, com receitas a reverter para a investigação sobre o cancro. O jogo de boxe parou na terceira ronda, quando Trudeau derrubou Brazeau, e marcou o início da ascensão do agora primeiro-ministro do Canadá.

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Na entrevista, Justin Trudeau afirmou que “não foi por acaso” que escolheu lutar com Patrick Brazeau. “Queria alguém que fosse um bom adversário e falaram-nos deste senador duro de uma comunidade indígena. Ele encaixava perfeitamente e vi nisso uma boa narrativa, a história certa para contar”, disse. Depois destas declarações, as reações não tardaram a chegar.

“Então o ‘privilegiado rapaz branco dá cabo do indígena’ foi ‘o tipo certo de narrativa’? A sério?”, escreveu um internauta na rede social Twitter. Outro: “Homem branco no poder procura um humano indígena para lutar, para que consiga parecer mais forte”.

Também o artista e escritor Jay Odjick, norte-americano de origem indígena, comentou no Twitter as palavras de Trudeau: “Canadá, o vosso líder foi para os media norte-americanos dizer que quando precisou de um vilão que se encaixasse na sua narrativa, achou que uma pessoa indígena era uma boa escolha”.

Por enquanto, ainda não existem declarações do primeiro-ministro em relação ao tema. Aos 45 anos, Trudeau é sensação na Internet e é constantemente elogiado nas redes sociais por sua beleza, dedicação à família e por defender causas humanitárias.

O fenómeno Trudeau em 10 momentos