O maior partido da oposição cabo-verdiana criticou, esta sexta-feira, o “modo atabalhoado e imponderado” como o atual Governo trata o setor dos transportes aéreos, dizendo que o “desmantelamento” da transportadora pública TACV vai deixar centenas de trabalhadores inseguros.

Preocupa-nos sobremaneira o modo atabalhoado e imponderado como se vem tratando o setor dos transportes aéreos“, criticou a deputada e líder do Partido Africano da Independência de Cabo Verde (PAICV), Janira Hopffer Almada, na sua intervenção durante o debate parlamentar sobre o Estado da Nação.

É o caso dos TACV (transportadora pública que fecha as operações domésticas na próxima semana), cujo desmantelamento é facto consumado, deixando inseguros centenas de trabalhadores”, prosseguiu a líder parlamentar do maior partido da oposição.

A partir de 1 de agosto, a TACV vai fechar as operações entre ilhas, passando os voos a serem feitos em exclusivo pela Binter CV, em cujo capital o Estado cabo-verdiano entra em 49%.

Quinta-feira, o PAICV pediu ao Ministério Público uma investigação ao negócio entre a TACV e a Binter Cabo Verde, considerando haver “indícios de corrupção” do atual Governo.

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O PAICV considera que as suspeições têm a ver com o secretismo à volta do negócio, a recusa do Governo em facultar documentos e informações e a recusa da maioria parlamentar do MpD em permitir criar uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar o negócio.

Esta tarde, os funcionários da TACV realizam uma passeata pelas ruas da cidade da Praia, para protestar contra as polícias do Governo para a companhia de bandeira.

Na sua intervenção, logo a seguir ao discurso de abertura do primeiro-ministro, Ulisses Correia e Silva, Janira Hopffer Almada, disse que “o país não está no bom caminho” e que todos os projetos em curso ou em vias de realização foram herdados do Governo anterior do PAICV.

Por isso, criticou o “refogado de promessas eleitorais” do primeiro-ministro, o esquecimento de vários compromissos, “publicidade enganosa, propaganda e anúncios” e apontou o “desnorte”, “falta de visão e de política” nos 16 meses de governação do MpD.

O balanço deste Governo é clara e francamente fraco. O Governo prometeu muito, mas faz-se muito pouco. Muita conversa para pouca ação. Há que haver uma visão estratégica de médio e longo prazo”, mostrou Janira Hopffer Almada.

O deputado e líder da União Cabo-verdiana Independente e Democrática (UCID, oposição), António Monteiro, afirmou também que “a Nação não está bem” e disse que prova disso foi a manifestação realizada na ilha de São Vicente no dia da independência, 05 de julho.

António Monteiro também criticou os “despedimentos anunciados” nos TACV, os anunciados no Novo Banco, dizendo que “tardam em aparecer” mais emprego e a taxa de desemprego ronda os 15%.

O líder da UCID disse que o país ainda enfrenta problemas nas ligações entre as ilhas, continua a “mesma malha partidária” na administração pública, as pessoas esperam melhores cuidados dos serviços de saúde e a justiça continua morosa.

Apesar de considerar que o país não está bem, António Monteiro espera que o Governo trabalhe “afincadamente” para gerar mais trabalho, mais segurança, mais justiça, mais e melhor saúde, mais e melhor educação, mais qualidade da democracia e mais rendimento para os cidadãos.

Por sua vez, o líder parlamentar do Movimento para a Democracia (MpD), Rui Figueiredo Soares, disse que é preciso tempo para equacionar os “males encontrados” e que o Governo está a tomar “medidas de fundo” para resolver os problemas.

O deputado do partido que suporta o Governo apontou alguns “indicadores positivos” em vários setores nos 16 meses de governação do MpD, salientando que “o Estado da Nação é bom” e perspetiva um futuro promissor.

Reconhecemos que, neste curto espaço de tempo, o Governo tudo tem vindo a fazer no sentido de materializar todos os compromissos”, prosseguiu Rui Figueiredo Soares, realçando a retoma da confiança e do crescimento económico.