O distrito de Kensington e Chelsea, onde em junho deflagrou um incêndio que tirou a vida a 80 pessoas, divulgou os nomes dos proprietários das 1652 casas desabitadas que foram construídas nas imediações da Torre Grenfell. Entre os donos, constam nomes de empresários milionários, como um ucraniano que luta contra um processo de extradição para o EUA, Michael Bloomberg, ex-presidente da Câmara Municipal de Nova Iorque, ou a empresas offshore que pertencem ao vice-presidente dos Emirados Árabes Unidos, revela o The Guardian.

A lista dos nomes foi enviada para vários destinatários, onde se encontravam jornalistas do The Guardian, e parece ter sido divulgada acidentalmente. Mais de um terço das casas desocupadas estavam vazias há mais de dois anos e os proprietários pagavam um prémio adicional de 50% no imposto municipal. Cerca de 1.010 apartamentos estão classificados como desabitados e quase sem mobília e outros 39 estão desocupados há menos de um ano, com algumas obras em curso.

Um dos milionários que tem casa de férias perto da Torre de Grenfell é o empresário e ex-mayor de Nova Iorque, Michael Bloomberg. Tem um apartamento com sete quartos que em 2015 estava avaliado em 16 milhões de libras, que antes tinha pertencido ao escritor George Eliot. De acordo com o The Guardian, a casa tinha um mural barroco de Venus, pintado por James Thornhill, o mesmo pintor que pintou o interior da cúpula da Catedral de São Paulo.

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Outras casas vazias pertencem a empresas offshore, como a Dukes Lodge London Ltd, que está descrita como sendo proprietária de 26 casas num condomínio de 1930 avaliado em 85 milhões de libras (95 milhões de euros). Outra empresa offshore com casas no mesmo bairro é a Smech Properties Ltd, que pertence ao Sheikh Mohammed bin Rashid Al Maktoum, vice-presidente dos Emirados Árabes Unidos e membro do governo do Dubai.

Na vizinhança, encontra-se também a casa do ex-diretor do canal de televisão ITV e da BBC, Peter Fincham, que tem uma casa avaliada em 6 milhões de libras (6,7 milhões de euros), mas que disse ao The Guardian que estava prestes a vendê-la a outra pessoa.

Contudo, a informação que consta no email divulgado pelo município parece não estar inteiramente correta. Algumas das casas listadas como desocupadas estão, afinal, habitadas. É o caso da propriedade que pertence ao responsável de um grande banco: quando o jornalista do The Guardian lhe tocou à campainha, ele abriu a porta.

A vice-responsável pelo distrito de Kensington e Chelsea, Kim Taylor-Smith, explicou ao The Guardian que quando uma casa parece estar abandonada há pelo menos dois anos, os proprietários são obrigados a pagar uma taxa adicional de 50% no imposto municipal.

Após o incêndio que tirou a vida a 80 pessoas na Torre Grenfell, Jeremy Corbyn, sugeriu que as casas que estavam vazias no bairro fossem ocupadas pelos desalojados do incêndio. O líder dos trabalhistas chegou a dizer que o bairro era um “conto de duas cidades”: muito rico no sul e muito pobre no norte.

Só na zona onde estava a Torre Grenfell há 64 casas listadas como estando vazias e destas, seis estão inabitadas há mais de dois anos. De acordo com o The Guardian, o distrito de Kensington e Chelsea já fez 169 propostas para acomodar os desalojados e 46 foram já aceites.

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