A discussão não é científica e baixou à política, pelo que de pouco serve argumentar. Os motores a gasóleo estão condenados, as vendas já estão a baixar e a quebra só vai acelerar nos próximos anos. Isto porque se já há 11 cidades que prometeram erradicá-los das suas estradas, é garantido que este número vai aumentar e de forma quase exponencial, nos próximos tempos.

Os políticos, a braços com os problemas de saúde pública dos seus eleitores, têm pouca margem de manobra e precisam de tranquilizar a população. Como afirma Helena Molin Valdés, responsável pelo Clima e Ar Limpo nas Nações Unidas, nove em cada 10 pessoas vive hoje em zonas onde a poluição atmosférica excede os limites de segurança impostos pela Organização Mundial de Saúde. Mas que ninguém se iluda, pois se agora são sobretudo os diesel que estão na berlinda, os motores a gasolina rapidamente vão entrar na “dança”, pois, em alguns aspectos, são até mais poluentes do que seus congéneres que queimam gasóleo.

As cidades que já baniram os diesel. E os gasolina

De momento, as únicas restrições conhecidas dizem respeito aos veículos mais velhos (sem diferenciar o combustível), e mais poluentes que, à semelhança do que acontece em Lisboa, estão impedidos de circular no centro da cidade. Há obviamente situações mais complexas que, felizmente, não afectam a nossa capital, especialmente pela proximidade do mar e os ventos fortes que arrasta consigo. É o caso de Madrid e de Barcelona, cuja qualidade do ar é por vezes tão má que as autoridades se vêem obrigadas a impor um sistema de circulação alternada, por matrículas pares ou ímpares, e até, em situações extremas, impedir por completo a circulação.

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Mas se esta é a triste realidade com que alguns autarcas têm de lidar nos dias mais problemáticos, do que estamos aqui a falar é de medidas que visem melhorar a qualidade do ar que se respira nas grandes urbes com carácter permanente e sustentável, e não de pequenos remédios para disfarçar males maiores.

Paris e Madrid vão banir carros a gasóleo

Os líderes nesta guerra contra os motores poluentes são um conjunto de quatro cidades, mais precisamente Paris, Madrid, Atenas e México, que prometeram banir os motores a gasóleo a partir de 2025. Sendo que os espanhóis vão mais longe, ao pretender retirar os diesel do centro da metrópole já em 2020. Curiosamente, às decisões de Paris juntou-se o Governo francês, que se decidiu pela proibição da venda de carros com motor de combustão (gasolina ou diesel) depois de 2040 e, mais importante do que isso, impedir a utilização do carvão como combustível já a partir de 2022.

Reino Unido vai banir carros diesel e a gasolina

Mas estas quatro cidades estão longe de estarem sozinhas. Também Londres alinhou pelo mesmo diapasão, primeiro ao cobrar uma taxa de 30 libras para entrar no centro da cidade, a partir de Abril de 2019, medida que depois quer alargar ao resto da cidade. Após 2020 não haverá queima de gasóleo nas proximidades da City e, como se isto não bastasse, há 35 outras cidades inglesas em vias de aderir em breve a este boicote. Além da capital, também cidades como Glasgow, Leeds, Nottingham, Southampton e Oxford ultrapassam regularmente os limites máximos de partículas PM10 (partículas inaláveis, de diâmetro inferior a 10 mícrons ), sendo que 39 outras localidades inclusivamente excedem os limites de segurança no que diz respeito às partículas mais pequenas, mas não menos nocivas, as PM2.5 (partículas cujo tamanho chega até 2,5 mícrons).

Na Alemanha, são os tribunais que impõem o ritmo, ou melhor, as restrições. Dois grupos de ambientalistas, o Deutsche Umwelthilfe e o ClientEarth, esgrimindo os seus advogados, conseguiram que os juízes garantissem à população de Munique – que curiosamente é a cidade sede da BMW – uma melhor qualidade de ar. Os autarcas ainda estão a tentar isentar os motores diesel mais recentes da proibição, os Euro 6, mas os ambientalistas já ameaçaram com um regresso ao tribunal.

Se Munique vai ficar sem diesel, Estugarda, a cidade berço da Mercedes e da Porsche, vai pelo mesmo caminho, e rapidamente. Até Hamburgo quer aderir à moda e limitar o número de veículos no centro, para deixar as bicicletas mais à vontade, pelo que deverá seguir as pisadas de Estugarda e Munique, afastando os diesel em 2025.

Bruxelas, o centro da Europa, faz questão em dar o exemplo, pelo que “adeus” ao gasóleo em 2018, pelo menos nos veículos anteriores a 1998. Isto entre outras medidas que serão anunciadas em breve. Copenhaga é outra cidade que está decidida a afastar os carros a gasóleo. Ainda não há nada escrito, mas é uma questão de tempo, mais concretamente meses e não anos, uma vez que há uma maioria confortável de políticos que já se manifestou decidida a afastar este tipo de combustível.

Oslo, capital da Noruega, país que passa a vida a bater no peito como sendo o mais amigo do ambiente, em todo o planeta – isto quando não está a extrair petróleo do mar do Norte, com todos os problemas ambientais que isso origina – vai dar um exemplo de democracia. Nada de diferenciar os diesel dos gasolina, pelo que todos vão “comer” pela mesma medida: não vai haver circulação de veículos com motor de combustão no centro da cidade a partir de 2019. Para não ficar atrás, o Governo norueguês decidiu não só apadrinhar a ideia, como garantir que, a partir de 2025, essa medida se irá estender ao resto do país nórdico, que ficará dependente da locomoção eléctrica e a hidrogénio. E logo eles, que produzem… petróleo.

E são estas as 11 cidades que já manifestaram a intenção de, a curto prazo – em alguns dos casos, a muito curto prazo –, banir os diesel e, até os motores a gasolina, das suas ruas. E apesar deste cenário assustador (para quem possui veículos animados por este tipo de combustível), não deixa de ser curioso que a comissária europeia para a Indústria, Elzbieta Bienkowska, afirme que os motores de combustão vão desaparecer muito antes do que se pensa. E ela, decididamente, deve saber do que fala.

Se quer ter uma ideia do que o espera, visite o site C40 Cities Climate Leadership Group e antecipe o que vem aí. Note que até os tradicionalmente mais moderados neste capítulo, como Milão, Roma e Turim, já têm interdições à circulação no centro das cidades em função das emissões de CO2.

Diesel ou gasolina, qual é o melhor?

É o eterno dilema: gasolina ou gasóleo, qual o mais poluente? A resposta não é fácil, mas existe, apesar das constantes evoluções tecnológicas insistirem em baralhar as contas e mudar o nome do vencedor.

Quando os baixos consumos e as emissões reduzidas de CO2 (que dependem directamente do consumo, pelo que quanto maior o consumo, mais elevado o CO2) passaram a ser argumento de venda para os fabricantes de automóveis, porque os diferentes países decidiram taxar os modelos mais exuberantes, os motores começaram a ser mais sofisticados, com combustões mais eficientes e mais pobres, ou seja, com mais ar para o mesmo combustível. E esta solução, que deu origem a motores mais potentes e económicos, funcionou na perfeição durante anos, isto até os NOx (óxidos de azoto, como consequência em grande parte da queima pobre) passarem, também eles, a ser um problema na atmosfera (smog, chuvas ácidas e até efeito estufa).

Teoricamente, um motor diesel tem vantagens e desvantagens em relação a outro que funcione a gasolina, no que respeita às emissões poluentes. Nenhum produz CO (monóxido de carbono, puro veneno), cortesia dos catalisadores, com os diesel a necessitarem de uma versão mais simples. Mas o diesel liberta menos CO2, apenas porque queima uma menor quantidade de combustível. Ou seja, 1-0 para o gasóleo.

Outro aspecto que em tempos separou os motores capazes de queimar estes dois combustíveis derivados do petróleo é a emissão de partículas para a atmosfera, que sempre apoquentou maioritariamente os diesel. Mas que, com a inclusão dos filtros de partículas, deixou de ser um problema. Os diesel modernos já recorrem há muito a esta solução e, muito em breve, todos os gasolina também vão ter de o fazer, pois os técnicos do ambiente apontam armas a partículas cada vez mais pequenas. Empate, pelo que continua 1-0.

Os NOx (o NO, óxido nítrico e o NO2, o dióxido de azoto) favorecem os gasolina. Ou melhor, favoreciam. Em teoria, um diesel emite uma maior quantidade de NOx, pelas suas características de pressão e temperatura dentro da câmara, onde há sempre um excesso de ar e queima muito pobre. Mas a injecção de AdBlue tratou de nivelar o problema, pelo que mais um empate. E continuamos no 1-0, com vantagem para o diesel.

Resumindo, e sem entrar em maiores detalhes, não há grandes motivos para que um motor diesel moderno e equipado com todos estes dispositivos que mencionámos seja banido de qualquer centro de uma capital europeia, a menos que seja estendida a mesma “cortesia” ao seu congénere a gasolina. Mas atenção, falamos de motores modernos e sem batotas, razão pela qual Bruxelas, além de alterar a velha forma de determinar consumos e emissões, impôs igualmente penalidades para os fabricantes que sejam apanhados a ser demasiado criativos com os sistemas de controlo de emissões: 30.000€ por unidade. A isto chama-se mão pesada…