When I find myself in times of trouble
Mother Mary comes to me
Speaking words of wisdom
Let it be

And in my hour of darkness
She is standing right in front of me
Speaking words of wisdom
Let it be

Let it be, let it be, let it be, let it be
Whisper words of wisdom
Let it be

A filosofia Moneyball parece ser a Mother Mary da ‘Let it Be’ dos Beatles para os clubes de Liverpool, mas em vez de palavras sábias são os números que funcionam como barómetro perfeito na altura do contratar. Agora foi o Everton que, com os mais de 80 milhões de euros que recebeu de Lukaku, está a preparar-se para investir 49 milhões em Sigurdsson. Quem? Esse mesmo, Sigurdsson. E pode mesmo valer a pena.

É conhecido por Gylfi, o primeiro nome, na Islândia. Assim, a nós, diz-nos zero. Passemos então para o apelido: Sigurdsson. Para quem seguiu o Campeonato da Europa, já diz qualquer coisa porque era o único jogador “conhecido” do primeiro adversário de Portugal na prova que não mais esqueceremos. Para os fãs da Premier League, é alguém que tem o seu currículo mas sempre naquele plano dos melhores entre os “não melhores”. O médio ofensivo é aquele tipo de jogador que nunca está nas listas das grandes estrelas mas que lá vai aparecendo de quando em vez nos nomes em destaque em Inglaterra. Agora, prepara-se para trocar o Swansea pelo Everton por uma quantia impensável: 49 milhões de euros.

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Estamos num mercado completamente louco onde prevalece o efeito dominó: como os negócios de maior dimensão estão a envolver mais dinheiro do que é normal, o mesmo vai começando a circular e todos os preços acabam por ser inflacionados (veja-se os valores pedidos por Coutinho ou Dembélé, por exemplo). Ainda assim, 49 milhões por Sigurdsson é demasiado. Ou talvez não. Façamos como o Everton e olhemos para os números que justificam a maior contratação de sempre dos toffees, comandados por Ronald Koeman.

Como o Daily Mirror explica na edição online de hoje, nas últimas três temporadas Sigurdsson foi o quinto jogador com mais assistências para golo em toda a Premier League. Bom registo. Desde que se estreou no Campeonato inglês, é o jogador com mais livres diretos convertidos em golo. Muito bom registo. No ano passado, foi o jogador que mais quilómetros correu ao longo da competição. Impressionante registo. Foi o segundo jogador com mais golos apontados contra os ‘Big 6’ de Inglaterra. Uau. E ainda tem uma série de marcas que o colocam na história da equipa galesa, para onde se transferiu em 2014.

Depois de ter começado a jogar no FH e no Breiablik, o médio ofensivo terminou a formação nos ingleses do Reading, onde se estreou como sénior em 2008 com apenas 19 anos. Ainda esteve emprestado ao Shrewsbury Town e ao Crewe Alexandra antes de rumar à Alemanha, onde permaneceu dois anos no Hoffenheim com uma cedência ao Swansea. Em 2012, assinou pelo Tottenham, de onde rumou para Gales em 2014. É também internacional pela Islândia (50 jogos, 15 golos), tendo sido considerado o melhor jogador país nas últimas cinco temporadas de forma consecutiva. Na última época, marcou nove golos em 38 partidas da Premier League.

Mas o que é isso da filosofia Moneyball? O conceito vem de Billy Beane, diretor desportivo dos Oakland Athletics que conseguiu fazer grandes equipas de basebol através de um sistema inovador de estatísticas que permitia recrutar jogadores que eram desvalorizados pelo mercado mas que acrescentavam muito à equipa. Essa ideia foi depois adotada por muitos outros conjuntos e o livro desse fenómeno transformou-se mesmo num filme, interpretado por Brad Pitt. Um deles, os Boston Red Sox, conseguiu mesmo quebrar um longo jejum de 86 anos sem títulos na Liga americana de basebol através desse método.

John W. Henry, então proprietário da equipa, tornou-se entretanto acionista maioritário do Liverpool, em 2010. E contratou o seu Billy Beane para diretor desportivo dos reds: Damien Comelli. Antigo treinador e olheiro, o francês que já tinha passado por Mónaco, Arsenal, Tottenham e Saint-Étienne chegou a Anfield Road apostado em adaptar o conceito ao universo futebolístico. Luís Suárez e Andy Carroll foram as duas primeiras contratações neste modelo, com o sucesso que se reconhece ao primeiro; no entanto, a temporada de 2011/12 não correu tão bem porque nomes como Charlie Adam, Stewart Downing, José Enrique ou Coates (atualmente no Sporting) não resultaram e acabou por sair no final do ano.

No entanto, o modelo estratégico permaneceu e ainda hoje, de acordo com os órgãos de comunicação ingleses, Jurgen Klopp tem muita atenção a esses dados estatísticos antes de avançar para uma contratação. Os investimentos em Sadio Mané (que já foi apontado a outros grandes clubes europeus este Verão pelo dobro dos 41 milhões de euros que custou), Wijnaldum, Loris Karius, Salah ou Andrew Robertson são exemplo disso mesmo.

Agora, a febre das estatísticas passou para o rival Everton. Com que sucesso? O resto desta letra será escrito em terras de Beatles e um pouco por todo o Reino Unido.