Passava pouco depois das 16h00 (hora portuguesa) quando uma carrinha branca avançou indiscriminadamente e a grande velocidade sobre a multidão que passeava na zona mais central das Ramblas, em Barcelona. O incidente, já considerado um ataque terrorista pelas autoridades, fez um número indeterminado de feridos e de vítimas mortais. Para trás ficam os vários testemunhos que deixam perceber a magnitude de mais um atentado: pessoas feridas no chão, outras tantas barricadas em espaços comerciais, sem saber o que fazer.

“É trágico, vi várias pessoas no chão, atropeladas, e pessoas a correr e a chorar”, disse Rebeca, do Hotel Lloret Rambles, ao jornal La Vanguardia. “A carrinha arrasou com tudo. Agora não podemos sair e os nossos hóspedes estão nervosos e choram porque não sabem onde estão alguns dos seus familiares”, chegou a contar durante a tarde de hoje. Num registo semelhante, feito ao mesmo jornal espanhol, uma trabalhadora do Hotel Royal de la Rambla relatou que estava a atender uns clientes que tinham acabado de chegar quando ouviu um grande “estrondo”. “Vi pessoas petrificadas na rua e, de repente, começaram a correr e a gritar.”

“Ele atropelou tudo o que podia.” A afirmação é do taxista Óscar Cano que, em declarações à TV3 e citado pelo El Mundo, conta como aconteceu o atropelamento massivo que traz imediatamente à memória o atentado em Nice, a 14 de julho de 2016. O taxista viu pessoas a “voar”, depois de atingidas pela carrinha que, segundo alguns relatos, terá percorrido “300 ou 35o metros”.

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“Viu-o a dois metros de distância, porque a carrinha parou e eu fui buscar os meus filhos que estavam muito perto dela”, relatou Ángel também à TVE. Ángel viu a carrinha a atropelar dezenas de pessoas e viu o seu condutor a descer do veículo. “Não vi se estava armado, mas tinha alguma coisa na mão”, continua, descrevendo o condutor como alguém “muito jovem”, possivelmente entre os “18 e os 23 anos”. Outro relato dá ainda conta de muitas pessoas “ensanguentadas” no chão e de tantas outras barricadas nas lojas em redor.

Barricados no interior de lojas e restaurantes

Foi precisamente isso que aconteceu a Claudia Pais que, através das redes sociais, relatou como muitas pessoas ficaram “cativas” em várias lojas ao longo da rua. Pais conta ainda que ouviu “avalanches de pessoas a gritar” e que o medo manteve-se mesmo depois do sucedido. A mulher relata, através da conta de Twitter, que a loja foi aberta três vezes e que, imediatamente a seguir, foi encerrada porque “as pessoas começavam a correr a gritar do nada”. Claudia Pais chegou a escrever que, do interior da loja, se ouviram helicópteros e disparos ao longe.

https://twitter.com/claudiapaisg/status/898259595298312192

Gerard Arrey, 24 anos, estava numa rua perpendicular à zona do ataque. Ao Observador conta como tudo se passou: “De repente, vimos as pessoas lá de fora a correr, a entrar dentro da loja e pedir ao staff para fechar todas as portas.” Durante duas ou três horas Arrey, que está de férias com uns amigos em Barcelona, e outras 10 a 15 pessoas ficaram sentadas no chão, no interior da loja. Apesar do que se sucedia lá fora, não havia pânico entre elas, uma vez que estavam constantemente a aceder à internet para saberem o que se passava. “Acabámos por ler que a polícia estava a evacuar a área. Então, abrimos um pouco as portas para que a polícia soubesse que estávamos aqui. No final, um polícia pediu que deixássemos a loja e levou-nos para uma zona restrita.” Arrey conta que as pessoas à sua volta estavam “assustadas e confusas”.

Pedro Mateus, 26 anos, não estava no local do acidente, mas consegue descrever o ambiente que agora paira nas ruas de Barcelona. “As pessoas estão tristes, confusas, sem saber o que passa ao certo”, conta o português que chegou esta madrugada à cidade para participar numa despedida de solteiro. Na altura do ataque, Pedro estava a 15-20 minutos a pé de distância das Ramblas: “De repente, começaram a dizer que havia uma carrinha a andar aos esses, a atropelar pessoas. Outras disseram que havia malta barricada em restaurantes.” Esta noite, nem Pedro nem os amigos vão sair. É uma questão de respeito, mas também de segurança.