O modus operandi começa a parecer familiar: uma carrinha ou camião atirada contra uma multidão, por um único condutor, provoca dezenas de mortos. Foi assim em Nice, foi assim em Berlim e foi assim em Westminster. Desta vez, foi nas Ramblas, em Barcelona, e em Cambrils — mas, ao que parece, este último ataque assume um caráter diferente, já que pode estar associado a uma célula terrorista que preparava uma série de ataques na região.

Alcanar. A explosão que está no epicentro da investigação ao ataque de Barcelona

A confirmar-se o planeamento e organização dos ataques — que poderiam ter tido uma dimensão ainda maior se utilizados os explosivos que estavam guardados em Alcanar, na casa onde houve uma explosão na quarta-feira –, este novo atentado terrorista assume uma dimensão semelhante a apenas alguns ataques perpetrados em solo europeu. É certo que o grau de ligação do grupo ao autoproclamado Estado Islâmico (EI), que reivindicou os ataques, ainda não é conhecido: “Não é claro se os atacantes estavam em contacto com o EI antes da operação, mas é claro que os métodos que usaram no ataque são algo que o EI encoraja e incita a fazer repetidamente”, declarou ao New York Times Laith Alkhouri, da empresa de informação Flashpoint.

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O grupo terrorista tem incentivado repetidamente, através dos seus canais, o uso de camiões e veículos como arma letal, à semelhança das táticas já utilizadas noutros locais como na Cisjordânia. Isto tem levado a uma série de ataques isolados, com diferentes graus de eficácia, muitas vezes perpetrados por indivíduos que atuam sozinhos — os chamados lobos solitários. Mais recentemente, os atropelamentos têm sido mais comuns, mas há também ataques com facas. Estes foram alguns dos mais recentes:

  • 21 de agosto 2015, comboio em Oignies, França: um homem tentou disparar sobre os passageiros, mas foi subjugado por seis passageiros. Três pessoas ficaram feridas.
  • 14 de junho 2016, subúrbios de Paris, França: um francês de origem marroquina entra em casa de um polícia e mata-o, bem como à sua companheira, com recurso a uma faca.
  • 14 de julho 2016, Nice, França: Um camião atira-se contra uma multidão no Promenade des Anglais, durante as celebrações do Dia da Bastilha. 84 pessoas morreram e mais de 400 ficaram feridas. O condutor é abatido.
  • 26 de julho 2016, Saint-Etienne-du-Rouvray, França: Dois homens armados invadem uma missa e fazem cinco reféns, entre eles o padre, de 84 anos, que acabam por degolar.
  • 19 de dezembro 2016, Berlim, Alemanha: Um camião é atirado contra os peões num mercado de Natal, matando 11 pessoas e ferindo outras 56.
  • 22 de março 2017, Londres, Reino Unido: Um homem usa o seu carro como arma de arremesso na ponte de Westminster, saindo depois do carro e esfaqueando um agente da polícia. Ao todo, cinco pessoas morreram e o atacante foi também abatido.
  • 7 de abril 2017, Estocolmo, Suécia: Outro camião desviado é atirado contra os transeuntes numa rua comercial. Cinco pessoas morrem e 14 são feridas.
  • 22 de maio 2017, Manchester, Reino Unido: Um homem faz-se explodir no final de um concerto de Ariana Grande, matando 22 pessoas e ferindo outras dezenas.
  • 3 de junho 2017, Londres, Reino Unido: Um camião é atirado contra peões na ponte de Londres. Os ocupantes saem depois e esfaqueam várias pessoas perto do Borough Market. Há oito mortos a registar e 48 feridos.

A grande maioria destes ataques foi reivindicado pelo EI ou os atacantes disseram ter ligações ao grupo, mas a sua atuação parece ter sido de forma solitária — ao contrário do que aconteceu agora em Barcelona. “Isto é completamente diferente de Nice e de Berlim, porque é um plano sofisticado que envolve muitas pessoas, o que é extremamente sério e preocupante”, dizia sexta-feira Olivier Guitta, diretor da GlobalStrat, ao canal de televisão norte-americano CNBC.

A confirmar-se, este atentado pode assim ser mais semelhante a outros ataques organizados por células terroristas em solo europeu, nos últimos anos. Apesar do uso de uma carrinha, arma preferida dos lobos solitários, o plano inicial contava com o uso de explosivos, o que aproxima estes ataques de outros como o do Bataclan, em França, ou no aeroporto de Bruxelas:

  • 7-9 de janeiro 2015, Paris, França: Dois irmãos atacam a redação do jornal satírico Charlie Hebdo, matando 12 pessoas a tiro. No dia seguinte, outro homem mata um polícia e depois quatro pessoas num supermercado judaic, num aparente ataque coordenado.
  • 13-14 de novembro 2016, Paris, França: Homens armados e bombistas suicidas fazem uma série de ataques coordenados a um estádio desportivo, à sala de concertos Bataclan e a uma série de restaurantes e bares. Ao todo, morrem 130 pessoas e outras centenas ficam feridas.
  • 22 de março 2016, Bruxelas, Bélgica: Dois bombistas suicidas fazem-se explodir no aeroporto de Zaventem, ao mesmo tempo que outro bombista ataca a estação de metro de Maelbeek. Matam 34 pessoas e ferem centenas. A investigação acabaria por concluir que a célula estava ligada à que montou o ataque de novembro em Paris.
  • 29 de junho 2016, Istambul, Turquia: Homens armados invadem o aeroporto Ataturk, disparando sobre a multidão e fazendo-se depois explodir. Matam 41 pessoas e ferem mais de 230. As autoridades dizem que estariam ligados ao EI na Síria.