Estava a ser uma coisa chatinha, chatinha. Sim, todos sabiam que a parte mais burocrática do ‘Combate do Século’ teria de aparecer na conferência de imprensa oficial de apresentação do evento em Las Vegas, mas isso não torna mais interessante a troca de elogios entre empresas multimilionárias que estão sempre a faturar com os grandes combates de boxe na T-Mobile Arena. Sinceramente, estava a ser uma espécie de anti-clímax para quem passa o dia a ver notícias a caírem com as excentricidades que a Cidade do Pecado começa a preparar. Até que subiu ao palco Mauricio Sulaiman, presidente do Conselho Mundial de Boxe. E apresentou a ‘surpresa’.

“3.360 diamantes, 600 safiras, 300 esmeraldas, 1,5 quilos de ouro maciço de 24 quilates, pele de crocodilo vinda de Itália. Este é o Moneybelt”, anunciou o responsável antes de duas hospedeiras levantarem o mágico cinto que estará em disputa entre Floyd Mayweather e Conor McGregor na madrugada de sábado para domingo.

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Fez-se depois um estranho silêncio e percebeu-se que algum dos intérpretes principais estava atrasado. Lá entraram, de fatinho à medida e óculos escuros. E começou o show de palavras, desta vez com um Mayweather muito mais reservado do que é normal e um McGregor ainda menos reservado do que é normal. Mind games? Talvez. Mas a resposta a quem se saiu melhor em termos de postura terá de ser dada dentro do ringue.

“Tenho treinador muito bem, com muita gente a ajudar-me, e estou preparado para fazer 12 assaltos de três minutos sem problemas. Claro que vou acabar com ele em dois rounds, mas estou pronto. Trabalhei muito mais a sério do que ele nas últimas semanas. Deviam ter-me deixado sossegado onde estavam, no MMA, mas agora já aqui estou e é para ganhar. Ele não é nem um quarto do homem que eu sou”, disparou o irlandês. “Se vou apostar na minha vitória como o Mayweather? Se calhar, não sei. Mas ele aposta porque tem um problema de jogo e depois só mostra o que ganha, nunca o que perde. Por isso é que anda aflito de dinheiro”, respondeu mais tarde.

O americano, campeão em cinco categorias diferentes e invicto enquanto profissional, teve palavras mais ponderadas, elogiou mesmo McGregor – “é um lutador bom, um grande competidor e vai dar muito trabalho” – e todas as grandes empresas que sempre o apoiaram em 21 anos de carreira, agradeceu a Deus e à família por estarem com ele durante tanto tempo e rematou com a lógica de quem nunca perdeu: “Sou um lutador, estou aqui para dar e levar. Mas quem tem um registo de 49-0 não leva, só dá”.

Até no frente a frente para a fotografia essas posturas permaneceram inalteráveis: enquanto Mayweather não se mexeu uma única vez e parecia quase estar a jogar ao sério, McGregor tirou os óculos, foi tentando encostar o peito como quem não quer a coisa (tem nas muitas cláusulas rubricadas a obrigatoriedade de não tocar no adversário antes do combate), tirou os óculos e ainda iniciou alguma trash talk, mas a coisa ficou por aí. Até ver: amanhã é dia de pesagens oficiais e o americano já colocou muitas dúvidas se o irlandês irá cumprir o peso máximo previsto…