O MPLA está a ser acusado de esconder uma sondagem encomendada diretamente pela Presidência da República, depois de esta ter previsto mais votos para a oposição do que o partido do regime nas eleições desta quarta-feira.

A sondagem foi publicada na íntegra num caderno especial sobre as eleições presidenciais do jornal Correio Angolense e disponibilizada online pelo Club-K. A imprensa afeta ao regime de José Eduardo dos Santos nega a veracidade daqueles dados.

Naquela sondagem, para lá da quebra histórica do apoio eleitoral ao MPLA, fica também claro que a maioria dos angolanos não confia na Comissão Nacional Eleitoral. Além disso, 84% de inquiridos dizem que há excesso de nepotismo em Angola e 67% são contra a nomeação de Isabel dos Santos, filha do Presidente, para liderar a Sonangol.

Excerto da alegada sondagem da Sensus encomendada pela Presidência da República de Angola

A polémica surgiu a 10 de agosto, quando o site Maka Angola, fundado e dirigido pelo ativista Rafael Marques de Morais, publicou as previsões de uma alegada sondagem da responsabilidade da empresa brasileira Sensus, Pesquisa e Consultoria. De acordo com a informação então publicada, o MPLA venceria as eleições com 38% dos votos — o que representaria uma queda vertiginosa dos 72% conquistados em 2012. A seguir, a UNITA surgia com 32% e a CASA-CE com 26%.

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A sondagem foi inicialmente divulgada pelo Maka Angola, de Rafael Marques Morais. Mais tarde, o Jornal de Angola viria a escrever que a sondagem era falsa

Jornal de Angola diz que sondagem é falsa, Maka Angola fala em “desmentido mentiroso”

A 15 de agosto, o Jornal de Angola, financiado pelo Estado e afeto ao regime de José Eduardo dos Santos, referia igualmente uma sondagem da brasileira Sensus, mas em parceria com a Marketpoll, empresa de sondagens angolana. Neste caso, os números eram radicalmente diferentes daqueles que o Maka Angola referiu. Segundo o Jornal de Angola, a sondagem previa 68% dos votos para o MPLA. Os resultados previstos para a oposição não são referidos na notícia.

Porém, nela podem ser lidos excertos de um comunicado conjunto da Marketpoll e da Sensus, onde rejeitavam os números referidos no Maka Angola. Naquele texto, era dito que atribuir à Sensus a “paternidade de tais dados demonstra uma clara tentativa de desinformação e manipulação da opinião pública, nacional e internacional, com o objetivo de prejudicar o normal desenvolvimento eleitoral em Angola”. O comunicado não se encontra disponível no site da Sensus.

Em resposta, o Maka Angola disse que a reação publicada no Jornal de Angola era um “desmentido mentiroso” e fazia notar que a Marketpoll é uma empresa fundada em junho de 2015 por Frederico Cardoso, secretário do Conselho de Ministros e membro do Comité Central do MPLA. Além disso, tem como sócio Joaquim José Miguéis, diretor do Departamento para a Política de Quadros e membro do Comité Central do MPLA, Joaquim José Miguéis, também é sócio.

Angola vai ter eleições livres, justas e transparentes? É complicado