Em 2016 existiam cerca de 800 mesquitas “clandestinas” em Espanha, garante a Assessoria de Inteligência e Consultoria de Segurança (AICS), uma empresa privada especializada em temas de segurança. São locais de culto não oficiais que podem estar a ser aproveitados por falsos imãs para difundir mensagens de radicalismo islâmico. Há cerca de 1500 locais de culto conhecidos pelas autoridades, para os cerca de dois milhões de muçulmanos que vivem no país, revelam dados do Observatório do Pluralismo Religioso em Espanha.

Especialistas citados pela agência Efe criticam a falta de espaços de culto adequados para a comunidade muçulmana, o que “provoca a proliferação de pontos de encontro oficiais que podem ser aproveitados” para difundir mensagens de radicalismo. Alguns destes “falsos imãs” estão mesmo “sob a mira das autoridades”.

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O diretor da AICS, Salvador Burquet, explicou à Efe que estas mesquitas podem estar em “caves de edifícios, garagens ou locais de comércio” e que não são reconhecidas como locais de culto pelas forças de segurança.

Já o presidente da Federação Espanhola das Entidades Religiosas Islâmicas, Mounir Benjelloun, responde que, dos cerca de 1100 locais de oração em todo o país, apenas cinco mesquitas podem dar resposta oficial a mais de dois milhões de muçulmanos.

O relatório do AICS assinala ainda que a maioria destas mesquitas clandestinas se concentra em Madrid e na província de Barcelona, na Catalunha, onde existem perto de 300 mil crentes sem acesso a uma única mesquita, garante o especialista Abdallah Boussef, diretor do Conselho de Comunidades Marroquinas no Estrangeiro ao ABC.

“Os muçulmanos de Espanha têm que rezar em armazéns, em garagens, isso é vergonhoso e traz frustração, sobretudo para os jovens que cresceram em Espanha, onde lhes ensinaram que têm direitos e que são cidadãos”, explica Boussef.

Já Benjelloun assegura que o imã “é a figura mais importante que existe na comunidade muçulmana” e que por isso é “crucial” que estas pessoas estejam formadas “e à altura dos muçulmanos espanhóis”. Destaca o esforço feito pelas associações e federações espanholas para a formação destes líderes, mas critica duramente a falta de apoio das instituições do Estado: “Tem que haver uma tragédia para se compreender que as coisas se devem fazer de outra forma”.