Espanha deverá perder cerca de três euros em cada quatro que injetou na banca do país, no auge da crise financeira. Os números absolutos, divulgados esta quinta-feira pelo Banco de Espanha, são estes: dos 54,4 mil milhões de euros concedidos aos bancos, estima-se que irão ser recuperados 14,3 mil milhões.

Os cálculos do Banco de Espanha dizem respeito à situação dos balanços a 31 de dezembro de 2016. Um momento até ao qual a banca só tinha devolvido 3,9 mil milhões dos mais de 54 mil milhões recebidos.

O mega-plano de resgate bancário que foi lançado em Espanha, no verão de 2012, envolveu um pedido de assistência financeira por parte do Estado mas (ao contrário de Portugal) apenas para reabilitar o sistema financeiro, e não para assegurar necessidades de financiamento do Estado. A Irlanda, que pediu ajuda antes de Portugal, ainda em 2010, tinha um problema semelhante ao espanhol mas acabou por ter de pedir um resgate pleno, porque a assistência aos bancos fez aumentar o endividamento do próprio Estado.

Em Espanha, que só em 2012 cedeu à pressão dos mercados, esteve em cima da mesa uma solução diferente. Mas já alguns anos antes desse momento o Estado espanhol se viu a braços com despesas elevadas com a banca — desde 2009 que o Estado espanhol patrocinou a reestruturação do setor bancário através do apoio à fusão das chamadas cajas, os pequenos (ou não tão pequenos assim) bancos regionais que era onde estava boa parte dos ativos que tiveram problemas com o estoirar da bolha imobiliária do país vizinho.

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Foi criado um Fundo de Reestruturação Ordenada Bancária (o FROB) e foram injetados 54,4 mil milhões de euros, dos quais só foram ainda devolvidos os tais 3,9 mil milhões. Com a previsível venda de algumas operações a que o Estado ainda está exposto, como a participação no Bankia (que resultou de fusão de cajas), o Banco de Espanha acredita que será possível recuperar mais cerca de 10,4 mil milhões de euros.

Em Portugal, o BPN foi nacionalizado mas o BES (e o Banif), pelo contrário, foram sujeitos a resolução. Outros bancos do sistema também receberam assistência financeira mas, ao contrário do que aconteceu em Espanha, grosso modo foi através de empréstimos públicos que os bancos privados depois reembolsaram (exceto o Banif e a CGD). Daí que, na opinião do ex-presidente executivo do BPI Fernando Ulrich tenham sido os acionistas a pagar os resgates à banca — e não o Estado.

Ulrich diz que banca teve “destruição de capital colossal” (mas não o BPI)