Depois de meio ano encerrado para obras profundas de reabilitação, o Mercado Beira-Rio, na margem de Vila Nova de Gaia, abre-se ao público esta quarta-feira de manhã. Às bancadas de frutas e legumes de sempre juntam-se agora nove restaurantes e um café, um bar de cervejas, espaços de vinhos, queijos e doces.

Adelaide aperaltou-se para ir ver como se transformou o mercado onde nasceu. Tem 94 anos e a merecida reforma, depois de uma vida inteira a trabalhar no número 148 da Avenida de Ramos Pinto, com o rio Douro mesmo em frente. Agora são os netos que ali trabalham, na banca do talho Alberto Carnes. Dona Adelaide, como é conhecida, fica com lágrimas nos olhos quando vê o espaço destinado ao negócio da família e o edifício todo remodelado. Criada ali pela mãe, lojista no Mercado Beira-Rio, seguiu-lhe as pisadas. Quando foi mãe, os dois filhos também passavam mais tempo no mercado do que em casa e acabaram por continuar o negócio. “As nossas origens estão aqui”, diz a filha. Hoje, é a vez da quarta geração da família estar atrás do balcão, a servir os clientes do mercado.

Há 144 lugares sentados no interior. © Ricardo Castelo / Observador

A maior parte dos lojistas antigos regressou“, afiança Rosalina, à frente do Mercadinho Ti Olívia e lojista no mercado há mais de 40 anos. Isto porque as rendas dos comerciantes antigos continuam a ser pagas à Câmara Municipal de Gaia, aos mesmos valores que tinham antes das obras. No caso dos restaurantes é diferente. Para além de as rendas serem mais elevadas, são pagas à concessionária Fachada Oceânica (ex-Douro Wine Maket), a parceria entre a sociedade Lúcio da Silva Azevedo & Filhos e a Legível Puzzle que venceu o concurso público de dinamização do Mercado Beira-Rio, e que ficará com a concessão durante 30 anos.

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Tal como Adelaide, Rosalina está contente com a nova cara do edifício. “Acredito que vai ter mais visitantes, está mais chamativo”, diz ao Observador. Mais à frente está a Fruta da D. Urbalina, que já vai na terceira geração. Dona Urbalina, 67 anos e 50 de trabalho no mercado, também fica com os olhos em água enquanto agradece as novas condições e o facto de a deixarem voltar à sua banca. “Isto estava muito degradado. Agora estou feliz“, afiança ao Observador.

Dona Urbalina já tem quem lhe continue o negócio da fruta: os dois filhos. © Ricardo Castelo / Observador

Das piadinas ao sushi a metro: os restaurantes

Do lado oposto às frutas e legumes, às carnes e padaria, estão os restaurantes, que são a grande novidade do espaço com mil metros quadrados. Tudo começa com as piadinas (5,20€ a 5,90€) e as focaccias italianas (6,80€ a 7,40) da Piadina Mia, onde se encontram os famosos presunto de Parma, mozzarela di bufala, salami e pancetta. Pedro Oliveira e Filipa Guimarães já têm um espaço no Mercado Bom Sucesso, no Porto, e voltam a optar por um mercado urbano. “Há uma proximidade às verduras, assim conseguimos os legumes mais frescos”, diz Pedro, a poucos metros das bancadas de legumes do mercado.

O consórcio tentou captar negócios que permitam ao visitante conhecer os sabores lusos, certamente tendo em conta os milhares de turistas que todos os dias se passeiam pela margem de Gaia. Estão lá o leitão d’O Forno do Leitão do Zé e as tábuas de queijos e enchidos nacionais da Queijaria Portuguesa, as muitas receitas do fiel amigo no espaço Bacalhau do Porto, do chef Manuel Almeida, e os petiscos portugueses da Taxca, com destaque para as sandes de presunto (2€), proveniente de Castelo Branco.

Duplo hambúrguer de novilho com ananás grelhado e camarão grelhado (12€,) do Alta Burguesia. © Ricardo Castelo/Observador

O Barriga Negra é um projeto de três irmãos, filhos de pai alentejano, que levam para Gaia a receita das iscas de bacalhau da mãe e a sericaia, doce típico alentejano, da avó, a bola de alheira com grelos e a bochecha de porco, feita em vinho tinto. Os petiscos andam à volta dos 3,50€ cada um e há cerca de 10 vinhos para acompanhar. Curiosamente, quase todos do Douro. Os do Alentejo chegarão no futuro.

Aos hambúrgueres da Alta Burguesia e aos pratos vegetarianos do daTerra (cujo buffet é servido por 8,50€) juntam-se sabores internacionais. Como o sushi e o ceviche do Sushi no Mercado, que há três anos se estreou no Mercado de Matosinhos. Só ali se encontra sushi servido a metro (um metro custa 25€ e inclui 36 peças, meio metro custa 13€).

O Sushi no Mercado serve sushi a metro. © Ricardo Castelo/Observador

Das mãos de uma portuguesa, de uma alemã e de uma holandesa nasceu a Kroquet, inspirada nas croquetarias holandesas. “São mais saborosos e mais cremosos que os portugueses”, explica Christina Urban, enquanto segura um tabuleiro com croquetes de camarão, de carne e de queijo. Há também batatas fritas feitas à maneira belga, com diferentes molhos a acompanhar, e waffles feitos numa máquina que compraram na Bélgica.

O café é da Buondi, os espaços de vinho a copo e provas são da Sogrape (Mateus e Ferreira) e os doces são para tentar até os mais resistentes. A Arcádia faz-se representar com chocolates e gelados artesanais, as fatias da Miss Pavlova são para comer primeiro com os olhos e, por fim, encontram-se os brigadeiros do Brigadão. A meio do espaço, com 144 lugares sentados, fica o bar Super Bock Beer Experience, em que cada pessoa pode tirar a sua própria cerveja, entre as várias produzidas pela marca portuguesa: gama Seleção 1927, Super Bock Stout e Super Bock Original.

Renovar para não encerrar

Dotar os velhos mercados municipais de espaços de restauração modernos tem sido a resposta que as autarquias têm encontrado para evitar o encerramento de alguns destes equipamentos. Muitos deles estavam quase ao abandono e a necessitar de obras urgentes. O Mercado Beira-Rio abandonou a fachada amarelada e voltou ao rosa original, substituíram-se as telhas de amianto por telhas iguais às do projeto original e, entre outras melhorias, arranjaram-se as caixilharias, numa obra que custou perto dos dois milhões de euros.

As intervenções fizeram com que o espaço tenha sido obrigado a encerrar durante meio ano. Os lojistas que trabalhavam no interior foram deslocados para as proximidades, para que pudessem continuar o negócio. No entanto, os cerca de 15 lojistas que trabalham no edifício do mercado, mas que vendem para fora, tiveram um tratamento diferente.

“Nós ficámos fechados quase dois meses e ninguém quis saber de nós”, lamenta Paula, do Café Soraia. Estes estabelecimentos não fazem parte do consórcio e continuam a pagar as suas rendas à Câmara Municipal de Vila Nova de Gaia, tal como os vendedores de frutas e legumes que trabalham no interior. No entanto, não foram deslocalizados. E tiveram de suspender a atividade entre maio e julho, por causa das obras. “Estou aqui há 30 anos e não nos vieram cá dizer nada”, critica Rodrigo Vieira. “Não percebemos a diferença de tratamento. Somos os parentes pobres?”

A menos de 24 horas da inauguração ainda se fazem as últimas obras. © Ricardo Castelo/Observador

A juntar aos 144 lugares existentes no interior somam-se mais 344 lugares de esplanada no exterior. Até porque todos os restaurantes vão servir diretamente para fora, basta abrirem a janela. De acordo com os proprietários, o projeto vai gerar perto de 100 novos postos de trabalho e um volume de negócios de cerca de 3,5 milhões de euros. Há ainda um pequeno palco para concertos e uma mezzanine, que pode ser alugada para alguns eventos privados ou que poderá receber espetáculos, workshops e exposições. A inauguração está marcada para esta quarta-feira, às 10h.

Nome: Mercado Beira-Rio
Morada: Av. de Ramos Pinto 148, 4400-261 Vila Nova de Gaia (Cais de Gaia)
Telefone: 93 041 5404
Horário de verão (1 de maio a 30 de setembro): De domingo a quarta-feira das 10h às 00h, de quinta-feira a sábado das 10h às 02h. Bancas de frescos: 06h às 17h.
Horário de inverno (1 de outubro a 30 de abril): De domingo a quarta-feira das 10h às 23h, de quinta-feira a sábado das 10h às 00h. Bancas de frescos: 06h às 16h.