“Please girls, more energy!”, alguém grita durante o ensaio geral. As modelos altas e esguias esperam tranquilas nos bastidores da passerelle, tão calmas que parecem habituadas ao frenesim do “avança, volta para trás e espera a tua vez”. Habituado está também Miguel Vieira que, a contar quase 30 anos de carreira, mostra sorrisos largos em entrevistas minutos antes de apresentar a coleção de primavera-verão para o próximo ano numa sala do Pier 59 Studios, sobranceiro ao rio Hudson (à semelhança de Katty Xiomara). A simpatia esconde os nervos. “São seis meses a trabalhar para este dia e o desfile são dez minutos. Ainda por cima estamos num país muito distante de Portugal e temos muita imprensa internacional presente”, resume.

Em três décadas de carreira ainda há muito por fazer, garante o designer ao Observador, e ser-se bem sucedido neste desfile é uma das metas a alcançar. A coleção 30 Th – Miguel Vieira Private Collection é uma continuação da que foi apresentada na Milano Moda Uomo, em junho deste ano. Mas se em Milão o destaque foi para os coordenados masculinos, em Nova Iorque é a vez das silhuetas femininas serem aplaudidas — até pelo modelo e empresário Armando Cabral, que marcou presença em homenagem do criador de quem é amigo.

Para a coleção primavera-verão de 2018, o atelier de Miguel Vieira desenvolveu uma série de tecidos, incluindo termocolados com vinil. © Ugo Camera

“Isto é o reflexo do que temos feito ao longo dos anos e do que queremos fazer daqui para a frente”, conta Miguel Vieira, que ambiciona, como de costume, vestir uma mulher “muito elegante e viajada”. A coleção em causa prima pelo uso de vários materiais: rendas, malhas, algodões estampados, neoprene e tecidos termocolados com vinil. “Não comprámos um tecido que fosse, são todos feitos por nós, nomeadamente os termocolados”, garante o designer de São João da Madeira, ao mesmo tempo que explica que o palavrão significa, na sua essência, tecidos colados e sobrepostos.

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A preferência pelos padrões e estampados é notória e marca presença nas peças dominadas pelo branco e preto a que o designer já nos habituou — ainda que haja salpicos de verdes, rosas, vermelhos e azuis no reino dos acessórios. Os coordenados são peões num jogo de volumes, variando entre peças esguias, silhuetas cintadas e outras oversized. O clássico pisca o olho ao desportivo e abundam também as assimetrias.

A coleção apresentada pretende celebrar os quase 30 anos de carreira de Miguel Vieira. © Ugo Camera

Como já vem sendo habitual, alguns modelos masculinos marcaram presença no desfile para passar a mensagem de que Miguel Vieira quer vestir marido e mulher, namorado e namorada, irmão e irmã. O português quer ainda chegar mais longe e idealiza lojas próprias nas principais capitais da moda. “Quando comecei a trabalhar tinha várias portas diante de mim. Podia ter sido músico ou jogador de futebol. Escolhi a moda e quando abri essa porta deparei-me com uma escadaria gigante”, confessa. O designer admite já ter subido muito, embora ainda esteja a meio do caminho. Não sabemos quantos degraus existem em 30 anos de carreira, mas certamente o suficiente para entoar um merecido “parabéns”.

Terminada a participação portuguesa na Semana da Moda de Nova Iorque, o roteiro do Portugal Fashion segue para Londres, com o desfile de Alexandra Moura a acontecer no dia 17 de setembro.

O Observador viajou para Nova Iorque a convite do Portugal Fashion.