Passam poucos minutos das seis da tarde e já o hip hop do novo bar do Cais do Sodré, em Lisboa, chega à Praça de São Paulo. Apesar das portas escancaradas para rua, é como se o espaço tivesse “noites passadas a desbundar na pista” escrito na testa. Ou melhor, na fachada. Aos mais atentos não escapará um pormenor: no vidro de umas das portas está uma apresentação do novo bar e dos seus curadores, como se estivéssemos a entrar numa galeria de arte. A ideia não anda muito longe da realidade, afinal a arte é uma das almas deste negócio.

“Prefiro dizer que é uma instalação com um bar”, afirma Pedro Garcia, proprietário e cérebro por trás do conceito. E conceito é coisa que não falta ao Stupido 1/1, a começar pela ligação à arte urbana. Habituado a intervir em fachadas e empenas, Felipe Pantone foi o primeiro artista a deixar aqui a sua marca. Depois de uma exposição a solo e de dois murais em Lisboa, cobriu as paredes e o teto do bar com a arte cinética que o caracteriza. Uma espécie de teste de cor que, durante um ano, vai definir o ambiente do espaço. A escolha teve o dedo de Vhils (aka Alexandre Farto), artista português e dono da galeria Underdogs. Enquanto curador artístico, cabe-lhe a seleção dos nomes que, daqui em diante, vão moldar o espaço. A mira está apontada a artistas internacionais, o que pode vir a incluir alguns nomes portugueses. No fundo, pode esperar-se um novo bar, cada vez que um novo traço chegar a estas paredes.

As duas mesas à porta fazem com que a fachada do novo Stupido 1/1 não passe despercebida. © João Porfírio/Observador

Mas além da experiência visual, entrar no novo Stupido 1/1 é também uma experiência sonora. Longe de ter sido deixada ao acaso, a música segue pelos trilhos do hip hop, com algum R&B à mistura, os tais sons extremamente dançáveis que começam logo às 18h a querem arrastar-nos para a pista. Nesta matéria, é Fred Ferreira, dos Orelha Negra, quem faz as escolhas, da sonoplastia especialmente concebida para complementar a intervenção de Pantone às noites de fim de semana em que os DJs convidados e uma banda sonora de trejeitos mais comerciais mantêm a porta aberta até mais tarde. E espaço para dançar não falta. Depois de uma zona para se estar à mesa, chega-se a um perímetro bem mais desafogado, mesmo junto ao bar, uma atmosfera negra como manda a tradição. Para durante a semana, fica o hip hop puro e duro, os MCs e a possibilidade de verdadeiras noites de culto para todos os apreciadores deste estilo musical.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

O espaço, com a sua configuração de túnel, potencia a combinação de todas estas vertentes e, segundo Pedro Garcia, não foi difícil de encontrar. Foi tudo uma questão de juntar todas as peças necessárias para criar uma alternativa única em Lisboa, já que a inspiração veio de Milão. Pedro está longe de ser um novato nestas andanças. Durante os últimos anos, esteve por trás do Park, o bar lisboeta que, mal abriu em 2013, se tornou um fenómeno de popularidade. Não é em vão que Pedro reconhece o valor da curadoria num espaço como este, da mesma for que não foi em vão a escolha do nome. Tal como o bar, a palavra italiana stupido está cheia de significados diferentes.

Trio de cocktails liderado pelo Stupido, o cocktail da casa elaborado por José Pinto. © João Porfírio/Observador

Apesar das noites promissoras, o Stupido 1/1 também quer ser o plano de fim de tarde. Com a música e a arte como cartão-de-visita, a carta do bar é a terceira e derradeira peça deste composto. Além disso, merece que comecem a explorá-la cedo ou, pelo menos, antes de jantar. Há mais de 30 cocktails à prova (dos 5€ aos 9€), entre os clássicos mojito, cosmopolitan, daiquiri, margarita e pisco sour e as fórmulas assinadas por José Pinto, o barman de serviço. No que depender dele, a moda do gin está pronta para ser enterrada. Em alternativa, rodeou-se de uma parafernália de runs, ingrediente base do Stupido, o cocktail da casa. José já tem tudo pensado. O próximo passo é trazer novas receitas para a carta, sempre que possível feitas exclusivamente com ingredientes portugueses. Por falar nisso, há um cocktail à base de gin da Serra da Estrela e de cereja do Fundão pronto a ser adicionado à lista.

Os vinhos e as cervejas também têm lugar na carta, embora não estejam entre as especialidades da casa. E porque beber sem comer nunca fez bem a ninguém, a inspiração italiana também teve de chegar à cozinha. As pizzas biológicas (entre 8 e 9€) são o aperitivo perfeito para acompanhar os copos e são servidas até às duas da manhã. São leves, com a massa fina e estaladiça e boas para ir partilhando com o resto da mesa, entre rodadas, claro.

Nome: Stupido 1/1
Morada: Rua de São Paulo, 130, Lisboa
Horário: De terça a quinta das 18h às 02h, sexta e sábado das 18h às 03h e domingo das 18h às 23h45
Telefone: 21 347 1744
Site: www.facebook.com/stupido.one