Os movimentos separatistas catalães lançam à meia-noite desta quarta-feira, em Tarragona (Catalunha), a sua campanha pelo “sim” no referendo independentista, numa altura em que se intensifica a pressão jurídica contra a consulta considerada ilegal por Madrid.

O presidente da Generalitat (Governo catalão), Carles Puigdemont (direita separatista), o seu vice-presidente, Oriol Junqueras (extrema-esquerda separatista) e outros dirigentes independentistas vão tentar encher com 10.000 pessoas o recinto Tarraco Arena em Tarragona, uma cidade costeira situada 100 km a leste de Barcelona. O evento irá marcar o início da campanha eleitoral que termina a 29 de setembro, dois dias antes da pretendida realização do referendo sobre a autodeterminação da Catalunha, que já foi considerado ilegal pelo Tribunal Constitucional espanhol.

Esta será a primeira de três ações unitárias dos partidos e entidades independentistas que também irão realizar centenas de ações próprias durante a campanha. É ainda imprevisível o que vai acontecer durante esta campanha eleitoral numa altura em que se multiplicam as ameaças policiais e jurídicas a todas as ações de preparação do referendo.

Um juiz do Tribunal Administrativo, depois de ter recebido uma queixa do Partido Popular (direita) proibiu terça-feira a realização em Madrid de uma ação de promoção do referendo e ainda é incerto se o ato se vai realizar. O Ministério Público espanhol anunciou na quarta-feira que estava a investigar 712 autarcas que já ofereceram instalações municipais para a realização do referendo considerado ilegal por Madrid.

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A vice-presidente do Governo espanhol considerou “ridículo” que o presidente do executivo da Catalunha voltasse a publicar páginas de Internet sobre o referendo independentista depois de a Justiça ter encerrado a primeira delas. A direção dos Correios — o serviço postal público espanhol — enviou uma circular, através de correio eletrónico, a todos os centros operacionais da Catalunha para lhes comunicar que a empresa “deverá abster-se de realizar a receção de envios, ou levar a cabo qualquer ato” que possa estar relacionado com a consulta popular de 1 de outubro.

A Procuradoria-geral da Catalunha deu no início da corrente semana instruções a todos os corpos de polícia da região para impedirem o referendo de autodeterminação convocado pelo executivo regional. Estes são alguns exemplos de incidentes que se deverão multiplicar nos próximos dias sem que ainda se saiba como vai evoluir a situação.

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O Tribunal Constitucional espanhol já tinha suspendido na semana passada, como medida cautelar, todas as leis regionais aprovadas pelo Parlamento e pelo Governo da Catalunha que davam cobertura legal ao referendo de 1 de outubro.

Os partidos separatistas têm uma maioria de deputados no parlamento regional da Catalunha desde setembro de 2015, o que lhes deu a força necessária, em 2016, para declararem que iriam organizar este ano um referendo sobre a independência, mesmo sem o acordo de Madrid.

Os independentistas defendem que cabe apenas aos catalães a decisão sobre a permanência da região em Espanha, enquanto Madrid se apoia na Constituição do país para insistir que a decisão sobre uma eventual divisão do país tem de ser tomada pela totalidade dos espanhóis.

O conflito entre Madrid e a região mais rica de Espanha, com um PIB superior ao de Portugal, cerca de 7,5 milhões de habitantes, um terço da área de Portugal, uma língua e culturas próprias, arrasta-se há várias décadas.