A polémica da compra de casa de Fernando Medina é o caso do momento na política lisboeta, mas o assunto não marcou o debate desta noite na RTP entre os 12 candidatos à liderança da autarquia da capital.

O tema só foi falado durante os primeiros dez minutos do debate (que duraria perto de três horas, sobretudo dedicadas à habitação, transportes e turismo, os crónicos problemas da cidade). Joana Amaral Dias, candidata do Nós Cidadãos!, abriu as hostilidades com duras acusações contra Medina e a exigir explicações sobre o negócio polémico. “Explique-se!” — pediu uma exaltada Joana Amaral Dias a um calmo Fernando Medina que repetiu mais uma vez as explicações que tem dado nos últimos dias e apelou à consulta do seu site, onde publicou a documentação relativa à polémica.

Questionado sobre porque é que não apresentou a declaração ao Tribunal Constitucional após a realização do contrato de compra da casa (apenas comunicou o contrato de promessa que fez antes de contrair o crédito para financiamento do imóvel), Medina sublinhou que considerou que a lei não o exigia. “E isso não altera a natureza do que eu fiz, que foi comprar uma casa como qualquer cidadão”, rematou. O assunto morreria ali, pelo menos até Joana Amaral Dias ser novamente chamada a falar e gastar parte do tempo que lhe foi destinado para falar sobre transportes a exigir novamente explicações a Medina e a insistir que o autarca tinha obrigação de entregar a declaração ao Tribunal Constitucional. Desta vez, a acusação ficaria sem resposta.

O debate propriamente dito arrancou à terceira intervenção, com a social-democrata Teresa Leal Coelho a dizer que não veio “falar de casos”, mas sim “discutir ideias e políticas” para a cidade.

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Habitação: oposição unida contra Medina

A primeira parte foi dedicada ao problema da habitação, com Leal Coelho, Assunção Cristas, Ricardo Robles e João Ferreira a criticarem as políticas seguidas pelo executivo socialista ao longo dos últimos mandatos. “Não foi prioridade para Medina. A Câmara ignorou as pessoas mais vulneráveis“, atirou a vice-presidente do PSD, prometendo requalificar habitações camarárias e colocá-las no mercado de arrendamento. Cristas voltou a defender a implementação de habitação social a “preços moderados” em zonas como o local da antiga Feira Popular, em Entrecampos. “Os preços moderados variam consoante a zona da cidade. Se falamos de uma zona cara da cidade, como é a Avenida da República, podemos estar a falar de rendas entre os 400 e os 1.000 e poucos euros”, defendeu.

À esquerda, as críticas a Medina não foram menores. “Dez anos de propostas não cumpridas“, foi assim que Ricardo Robles, do Bloco de Esquerda, resumiu os últimos anos de executivo até agora liderado por Medina. Do lado do PCP, João Ferreira criticou a visão socialista que “deixou a cidade nas mãos do mercado”. Reconhecendo que há muitas medidas que são “da responsabilidade do Estado”, Ferreira garantiu que “a Câmara Municipal pode fazer muito mais e a CDU tem propostas concretas”, como a criação de uma bolsa com os fogos habitacionais disponíveis na cidade para serem arrendados. Ferreira enfatizou que esta proposta já foi apresentada pelos vereadores comunistas “mas nunca saiu do papel”.

Medina falou depois dos seus principais adversários (o debate ficaria marcado pela sucessão de breves intervenções, dada a grande quantidade de candidatos presente), para se defender das críticas. “Entregámos 1.200 casas neste mandato. Lançámos o maior programa de recuperação de bairros municipais“, sublinhou. E aproveitou para dar uma novidade relativamente à requalificação na Rua de São Lázaro, na Baixa de Lisboa. “Recebemos quatro candidaturas e dentro de poucos meses irão iniciar ali as obras de recuperação de casas que serão postas ao arrendamento, com uma parte delas a serem para venda livre”, disse Medina.

Transportes: Medina defende gestão municipal da Carris

Sobre os transportes, outro dos grandes problemas de Lisboa, foi Medina a abrir a discussão, com um balanço dos últimos mandatos e dos primeiros meses de gestão municipal da Carris, mas lembrou que não tem “uma varinha mágica” para resolver todos os problemas da empresa de uma vez. “Baixámos os preços dos passes para quem tem mais de 65 anos e alargámos os passes gratuitos para os 12 anos. Estamos a suster o declínio de passageiros e ainda não o conseguimos, mas estamos a fazê-lo. Recuperar uma empresa que quase foi levada à destruição leva tempo”, destacou. O atual edil referiu ainda que já está lançado o concurso para a aquisição de novos autocarros e que já foram contratados 75 novos motoristas no primeiro semestre deste ano.

Na oposição a Medina, o único ponto em comum foram as críticas ao atual autarca, já que os restantes candidatos não se entendem sobre qual a melhor alternativa para resolver a mobilidade em Lisboa. Cristas tornou a defender o metro enquanto “coluna vertebral” dos transportes de Lisboa, prometendo o alargamento da rede para a zona ocidental da cidade. Já João Ferreira destacou a importância de pensar o transporte em termos da Área Metropolitana de Lisboa e não em termos municipais. “Podemos ter serviços de transporte a funcionar perfeitamente em todos os concelhos, mas pode não servir de nada se não houver coordenação“, enfatizou, recordando a proposta da CDU de introduzir um passe social único e intermodal que servisse para todos os meios de transporte da área metropolitana.

Para o candidato do Bloco de Esquerda é fundamental que a autarquia detenha parte da gestão do metro. Robles sublinhou que Medina não pode dizer que o metro “não é da sua responsabilidade” e que “está instalado o caos” na cidade de Lisboa. Já Teresa Leal Coelho focou a sua intervenção na Carris, cuja rede, defende, tem de ser repensada. “Aqui no Beato, por exemplo, há pessoas que trabalham durante a noite e que precisam de autocarros para se deslocar, mas os autocarros aqui deixam de circular às 21h30 e as pessoas ficam sem poder regressar a casa“, destacou.

Turismo: todos unidos na regulação

Para o fim ficou a questão do turismo, o tema mais consensual no que toca às linhas gerais apresentadas pelos candidatos: o turismo é fundamental, mas tem de ser regulado, defenderam todos. Para Assunção Cristas, a regulação joga-se ao nível da gestão urbana e da mobilidade. “Já é o caos as pessoas andarem pela cidade e isso agrava-se com cinco milhões de turistas a usarem os mesmos meios”, disse a centrista. A líder do CDS acrescentou ainda que “não podemos ter uma cidade bonitinha para turista ver e depois ser um caos para as pessoas que cá vivem“. Já Teresa Leal Coelho destacou que o turismo “é importantíssimo para a cidade de Lisboa”, mas que a cidade não pode estar “excessivamente dependente” dessa atividade, aproveitando para criticar a atitude de Medina face à questão: “Caiu-lhe nas mãos o turismo e agora esgota a dinamização económica da cidade no turismo”.

O debate na RTP contou com a participação de todos os 12 candidatos. Fernando Medina (PS), Teresa Leal Coelho (PSD), João Ferreira (CDU), Assunção Cristas (CDS-PP.MPT.PPM), Ricardo Robles (BE), Luís Júdice (PCTP/MRPP), Inês Sousa Real (PAN), Amândio Madaleno (PTP), José Pinto Coelho (PNR), Joana Amaral Dias (NC), Carlos Teixeira (PDR.JPP) e António Arruda (PURP).

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