Sobre o furto, o ministro da Defesa, Azeredo Lopes, nada disse, escudando-se no “segredo de justiça”, mas revelou que foram abertos três processos disciplinares no âmbito das averiguações e do relatório promovidos pelo Exército.

“O Exército promoveu um relatório preliminar, com base no qual o Regimento de Engenharia n.º 1 [responsável pela segurança dos Paióis na altura do furto] prosseguiu e concluiu um processo de averiguações e abriu três processos disciplinares”, revelou o governante, acrescentando que aguarda a conclusão dos mesmos.

No início deste mês, o Diário de Notícias já tinha noticiado a abertura de processos, citando fonte do Exército, mas sem detalhes quanto ao número que agora foi divulgado.

Nos seis minutos que teve para falar, o governante avançou ainda que está a decorrer desde 14 de setembro “a implementação do plano de esvaziamento dos Paióis Nacionais de Tancos”, com a ajuda da GNR e da PSP e que “foi elaborada e difundida uma diretiva relativa à reorganização do dispositivo de armazenamento de artigos da classe V”.

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“Saia senhor ministro, saia!”

Chamado ao Parlamento, esta segunda-feira, pelos grupos parlamentares do PSD e do CDS/PP, Azeredo Lopes reafirmou que o Governo “fez tudo o que devia ser feito” no que diz respeito ao furto de armamento militar e num “curto espaço de tempo”.

Os partidos da direita chamaram o governante depois da entrevista que deu ao DN e à TSF onde disse que “no limite, pode não ter havido furto nenhum”.

Sobre as declarações, ouviu críticas de ambos os lados do Plenário. Pelo PSD, o deputado Sérgio Azevedo, falando em “conjunto de suposições que adensam as dúvidas em vez de as esclarecer”, questionou o ministro sobre a existência ou não de furto em Tancos. E já no final do debate, Costa Neves, do PSD, voltou à carga perguntando ao ministro se “foi assalto ou simulação de assalto”, “quando foi”, “como foi”, “o que desapareceu” e exigindo que sejam identificados responsáveis e assumida “responsabilidade política.”

João Rebelo, do CDS/PP, acusou o ministro da Defesa de prestar “declarações irresponsáveis e impróprias”, na dita entrevista, voltando a pedir a Azeredo Lopes para sair do Governo. “Saia, senhor ministro. Não espere pelas eleições ou pela próxima remodelação, saia pelo seu próprio pé”.

“O senhor ministro é hoje um ministro sem credibilidade, sem autoridade, e por isso sem capacidade para exercer o seu mandato”, afirmou o deputado centrista, que elencou aqueles que considerou serem os “erros políticos e institucionais” do ministro a propósito deste assunto.

Já o Partido Socialista, pela voz de José Miguel Nogueira, defendeu que o “mais importante é o apuramento dos factos” e disse não ser “legítimo, nem aceitável que um debate político sobre um tema destes se faça, sobretudo, na praça pública, com pedidos de demissão e ataques sistemáticos ao Ministro da Defesa e às Chefias Militares, como temos vindo a assistir”.

O deputado Jorge Machado, do PCP, criticou a “infeliz opção do ministro em dar entrevistas antes de informar o Parlamento” e João Vasconcelos do Bloco de Esquerda disse que o partido “ficou deveras surpreendido com as declarações do senhor ministro de que no limite pode não ter havido furto nenhum” e que “não aceita que a culpa morra mais uma vez solteira”. “O país não se pode limitar a assistir à exoneração e readmissão de cinco comandantes”, defendeu João Vasconcelos, que aproveitou também para dizer que quer o Governo, quer a direita não têm estado bem em todo o processo.

Já Heloísa Apolónia do partido Os Verdes veio criticar o ministro por ter feito declarações a um jornal. “No meio desta confusão toda e destas declarações que não têm ajudado nada, os portugueses, no mínimo, sentem-se com uma enorme falta de confiança” e pediu esclarecimentos sobre o caso.

O debate terminou sem que o ministro respondesse às questões colocadas pelos vários grupos parlamentares. Mas uma ficou respondida: houve furto. Pelo menos foi dessa forma que o ministro se referiu ao ocorrido em Tancos, logo no início da sua intervenção.

De resto, aproveitou o tempo para lembrar as medidas já tomadas pelo Governo, nomeadamente o reforço das medidas de segurança nas instalações militares, a revisão das normas e procedimentos internos e o investimento de um milhão de euros nos Paióis de Santa Margarida e de 500 mil euros na segurança das 16 unidades do Exército.