A frase feita

“O objetivo é no dia 1 de Outubro cortar a meta de camisola amarela” (Fernando Medina)

Fernando Medina disse a frase em cima depois de ter feito um percurso de bicicleta no Parque das Nações, durante uma acção de campanha. Vamos ignorar o facto de o presidente da Câmara ter usado um lugar comum retórico e uma metáfora desportiva, o que é sempre desanimador – e vamos concentrar-nos na forma como Medina vê o futuro da cidade.

Para o presidente da Câmara, os lisboetas devem deixar o carro em casa e passar a deslocar-se para o trabalho. Tudo perfeito. Mas, nestas coisas, que obrigam a grandes mudanças de hábitos, convém ter um exemplo que venha de cima. Em Londres, por exemplo, o presidente da Câmara criou um sistema semelhante. Mas, aí, estamos a falar de Boris Johnson, que fazia 570 quilómetros por ano em bicicleta. Convenhamos que há algumas diferenças com Lisboa. De qualquer forma, Fernando Medina está sempre a tempo de mudar, não percamos a esperança.

A frase desfeita

“A candidatura de Paulo Vistas e a candidatura de Isaltino Morais são duas faces da mesma moeda. São farinha do mesmo saco” (Ângelo Pereira)

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Ângelo Pereira, candidato do PSD a Oeiras, é um daqueles políticos que se passeia pelas campanhas a exibir certezas absolutas sobre os seus adversários. Paulo Vistas e Isaltino Morais? “São farinha do mesmo saco”. Joaquim Raposo e Heloísa Apolónia? “São paraquedistas”.

Tirando todos eles, quem sobra? Ângelo Pereira, claro, a “única alternativa credível para os oeirenses” e que, ainda por cima, tem recebido “grande afetividade” das pessoas.

Só existe um pequeno, pequenino, insignificante detalhe. Quando no dia 1 de Outubro toda essa “grande afectividade” se transformar em votos, Ângelo Pereira pretende pegar neles e coligar-se (adivinharam) com a “farinha do mesmo saco” ou com os “paraquedistas”, consoante a disposição dos eleitores. “Os oeirenses precisam de estabilidade”, justifica-se o candidato do PSD. Claro que sim, claro que sim.

A frase perfeita

“Aveiro é uma terra de tradição liberal, de tradição democrática, de tradição progressista. E como é que depois do 25 de Abril aconteceu isto? (Manuel Alegre)

A resposta mais curta à curiosa pergunta de Manuel Alegre é a seguinte: “isto” aconteceu “depois do 25 de Abril” porque os eleitores, em democrática liberdade, decidiram votar “nisto”.

Já a resposta mais longa obriga a perguntar o que é que Manuel Alegre quer dizer com “isto”. Ora bem, vamos lá a ver se conseguimos entender. Para o deputado-poeta-escritor-político, “isto” é a “gente” que “nada fez pela instauração da democracia ou da liberdade”. Tendo a “instauração da democracia” ocorrido em 1974, este apertado critério de Manuel Alegre exclui automaticamente qualquer pessoa com menos de 43 anos.

Presumindo que não se trata de alguém invulgarmente precoce e que, portanto, só começou a sua actividade política pelos 20 anos, a barreira etária entraria nos 63 anos. E se quiséssemos alguém que realmente tenha “memória” e “história”, como pede o socialista, então o mais seguro seria procurar alguém, talvez, com 81 anos. Vejam lá a coincidência: é precisamente essa a idade de Manuel Alegre. Como é possível que o PS não se tenha lembrado de o convidar a candidatar-se a Coimbra?