O Sporting recebeu e perdeu com o Barcelona por 1-0. No final, os adeptos aplaudiram. Percebe-se porquê.

Aqui não se trata de uma vitória moral. Aliás, esse chavão, pelo menos no mundo do futebol, é como uma palavra errada que se pensa correta por ser repetida muitas vezes. Demasiadas vezes. Porque, espremido, não dá nem alegria nem pontos. Mas esta foi uma derrota previsível que chegou da forma mais imprevisível possível. Porque, em paralelo, o improvável que era travar os catalães no plano ofensivo tornou-se na coisa mais provável.

Quando, ao intervalo, a conta oficial do Twitter dos visitantes colocou um quadro com as movimentações dos jogadores blaugrana durante a primeira parte, fomos obrigados a entrar na cabeça de Jorge Jesus. E foi um exercício engraçado, porque foi dali que surgiram todas as ideias para esta crónica que resume o jogo.

Ernesto Valverde quis colocar um cunho pessoal no Barça. Que, inicialmente, correu mal: levou dois ‘chocolates’ do Real Madrid na Supertaça. Depois, mesmo com algumas nuances táticas mais ou menos percetíveis, como os desdobramentos momentâneos num 4x4x2 em ação ofensiva, deixou fluir aquilo que está no ADN desta equipa há anos: a prioridade à posse e circulação. E o Sporting aceitou isso da forma mais tranquila do mundo, percebendo que, contra estes artistas da bola, a única forma de “arrancar” o resultado era saber estar sem ela.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Ficha de jogo

Mostrar Esconder

Sporting-Barcelona, 0-1

2.ª jornada do grupo D da Liga dos Campeões

Estádio José Alvalade, em Lisboa

Árbitro: Ovidiu Hategan (Roménia)

Sporting: Rui Patrício; Piccini, Coates, Mathieu, Fábio Coentrão (Jonathan Silva, 73′); William Carvalho, Battaglia; Gelson Martins, Bruno Fernandes, Acuña (Bruno César, 73′) e Doumbia (Bas Dost, 44′)

Suplentes não utilizados: Salin, Tobias Figueiredo, Petrovic e Alan Ruíz

Treinador: Jorge Jesus

Barcelona: Ter Stegen; Nélson Semedo, Piqué, Umtiti, Jordi Alba; Sergio Busquets, Sergio Roberto (André Gomes, 87′), Rakitic; Iniesta (Paulinho, 80′), Messi e Luis Suárez (Aleix Vidal, 89′)

Suplentes não utilizados: Cillessen, Mascherano, Digne e Denis Suárez

Treinador: Ernesto Valverde

Golos: Coates (49′, p.b.)

Ação disciplinar: cartão amarelo a Gelson Martins (6′), Fábio Coentrão (26′), Doumbia (40′), Acuña (48′), Piccini (53′), Coates (58′), Nelson Semedo (69′) e Aleix Vidal (90+2′)

A primeira parte não teve praticamente oportunidades de golo. Luis Suárez, num dos raríssimos lances em que a defesa em linha verde e branca falhou, obrigou Rui Patrício à primeira grande intervenção da noite (27′). Pouco depois, na sequência de um canto trabalhado, Bruno Fernandes fletiu para o meio, rematou forte e rasteiro mas Ter Stegen foi ao chão anular o disparo (29′). Era uma guerra de pólvora seca que continuava empatada apesar das sucessivas Battaglia(s) que o Sporting ia ganhando nos desarmes e nas recuperações.

O médio argentino, que foi poupado por Jesus na deslocação a Moreira de Cónegos, teve uma força, um pulmão e uma alma do tamanho do mundo. E foi por ele (e Mathieu) que mal se viu o extraterrestre Messi.

Jorge Jesus teve muito mérito na forma como conseguiu encaixar os leões no tipo de jogo do Barça. Não foi perfeito, porque faltou em muitos períodos a ligação meio-campo-ataque que colocasse em sentido o setor recuado dos catalães, mas roçou a perfeição sem bola pela forma como segurou as pontas do jogo tricotado contrário.

No segundo tempo, logo a partir dos 49′, era altura de trocar o plano A (um resultado favorável) pelo B (em situação de desvantagem). Quando, como se percebeu no final do encontro, aquilo que se sonhava mesmo era com o plano C (à frente do marcador e a querer segurar esse avanço). E o único golo do Barcelona surgiu de forma contra natura: no seguimento de um livre lateral e através de um autogolo de Coates num ressalto de bola.

Seguiram-se dez minutos de nervos em Alvalade, até mais pela sucessão de cartões amarelos a jogadores verde e brancos (o critério disciplinar do romeno Ovidiu Hategan foi qualquer coisa incompreensível) do que propriamente pelo resultado. Em vantagem e com bola, os blaugrana estavam nas sete quintas a gerir o encontro até que, aos 71′, Battaglia voltou a dar o exemplo à frente como tinha dado tantas vezes lá atrás, ganhou uma bola logo na primeira zona de construção adversária e assistiu Bas Dost, que entrara aos 44′ para render o lesionado Doumbia.

O holandês estava na carreira de tiro. Aquele holandês que na época passada marcava golos como quem bebe água estava na carreira de tiro. E, ainda assim, preferiu assistir para o lado, onde estava Bruno Fernandes a puxar de novo a culatra atrás. Ter Stegen fez a defesa da noite, mas o estranho do lance foi Dost não ter arriscado. Porque, também aí, os leões venceram essa Battaglia(s), neste caso de conseguirem superioridade numérica e encontrarem um buraco na defensiva contrária. Mas voltaram a perder a guerra da forma menos expectável possível.

Apito final, derrota do Sporting. Mas se o resultado era previsível (e o jogo fez questão de mostrar que não era bem assim como se pensava na teoria), a forma como chegou foi no mínimo improvável.