O ministro dos Negócios Estrangeiros manifestou-se esta quarta-feira surpreendido, em Bruxelas, por uma “extraordinária ovação” ao Presidente da República em Luanda ter sido interpretada por alguns como uma vaia.

Eu confesso que, tendo 61 anos, entendia que já nada conseguia surpreender-me, mas o modo como foi interpretado, como se procurou interpretar em Portugal, ao fim da manhã de ontem (terça-feira), uma extraordinária ovação ao Presidente da República Portuguesa como uma vaia conseguiu surpreender-me”, declarou Augusto Santos Silva.

O chefe da diplomacia falava aos jornalistas à saída de uma reunião com a comissária europeia da Concorrência, na sede do executivo comunitário, depois de ter acompanhado Marcelo Rebelo de Sousa a Luanda para a cerimónia de tomada de posse, na terça-feira, do novo Presidente de Angola, João Lourenço, deslocação durante a qual, asseverou, “o Presidente da República português foi saudado em todos os momentos e em todos os locais de forma muitíssimo carinhosa”.

Reportando-se aos relatos de supostas vaias ao chefe de Estado português durante a cerimónia de tomada de posse, comentou que quem frequenta acontecimentos de massa e “qualquer pessoa com um mínimo de experiência de vida sabe distinguir o que são assobios de júbilo, o que são assobios que não se devem fazer porque não são de cortesia, e o que são assobios de vaia”, acrescentando que “é muito difícil a pessoas que têm bonés e agitam os bonés para cumprimentar personalidades, ao mesmo tempo aplaudir”.

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Mas é um bocadinho ridículo estarmos aqui a gastar tempo para descrever uma coisa que é óbvia: o Presidente da República português foi saudado em todos os momentos e em todos os locais de forma muitíssimo carinhosa, o que quer dizer que há grande parte do que é o essencial do relacionamento entre Portugal e Angola não tem que ser sempre explicitado porque ele existe”, disse.

Já na terça-feira à noite, dirigindo-se à comunidade portuguesa residente em Angola, Marcelo Rebelo de Sousa lamentou que tivesse havido “um ou outro português distraído” que tenha considerado como uma vaia a ovação que Portugal recebeu do povo angolano.

O chefe de Estado português, que chegou na segunda-feira a Luanda, referiu ter confirmado durante a sua estada no país, “o calor inequívoco do povo angolano relativamente a Portugal e aos portugueses, que não tem a ver com a pessoa do Presidente”.

A ovação de hoje, claramente superior a todas as outras na cerimónia, não foi dirigida à pessoa do Presidente, fosse o Presidente qualquer um, teria sido dirigida a Portugal e aos portugueses e eu só estranho o facto de haver portugueses que não gostam de ser aplaudidos por povos irmãos”, criticou.

Segundo Marcelo de Sousa, os aplausos poderiam não ter acontecido e até “ninguém esperaria que tivessem acontecido”.

“Mas, tendo acontecido, é estranho que sejam os presidentes dos outros países, os diplomatas dos outros países, a notarem e a felicitarem como [os angolanos] gostam dos portugueses e haja um ou outro português distraído que entenda que aquilo que os povos consideraram um aplauso acabou por ser uma vaia”, ironizou.