“Elis”

O realizador Hugo Prata, vindo da televisão, assina aqui uma biografia arrumadinha, diligente, de juntar por números, de uma das maiores vozes (a maior?) da música brasileira. Mesmo quem for ver “Elis” totalmente em branco sobre a vida e a carreira de Elis Regina, ficará com a sensação de que grande parte do que de mais importante ela fez ou lhe aconteceu foi referenciado, mas sempre pela rama, com um zelo superficial, em registo estenográfico. O filme teria decerto sido mais interessante se Prata se tivesse centrado num aspecto significativo da existência pessoal ou artística de Elis, como por exemplo, os seus começos, a relação com os dois maridos, homens diametralmente opostos, ou os últimos dias da cantora e o facto de uma pessoa que sempre foi avessa ao consumo de drogas, ter morrido de uma “overdose”. A cola que mantém unido este desinspirado catálogo de factos biográficos é a interpretação da excelente Andréia Horta.

“Sea Sorrow”

O activismo político-humanitário de Vanessa Redgrave toma agora a forma de um documentário em que a actriz defende a causa dos refugiados, categoria em que ela inclui quer a minoria daqueles que fogem da guerra e das perseguições políticas e religiosas, quer a esmagadora maioria dos migrantes económicos que afluem em vagas à Europa. Para Redgrave, não há qualquer diferença entre ambos e o Ocidente tem o dever e a obrigação de os acolher todos, e quantos mais, melhor, muito em especial as crianças. “Sea Sorrow”, que vai buscar o seu título a uma fala de Próspero em “A Tempestade”, de Shakespeare, é um desajeitado (e por vezes, embaraçoso), vídeo de propaganda em prol da causa de Redgrave, do qual não podemos esperar objectividade, contraditório, bom senso ou discernimento histórico. Apenas emoção sem razão, pronto-a-comover e hemofilia de boas intenções em jorro contínuo.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

“Lego Ninjago-O Filme”

Depois de “O Filme Lego” e de “Lego Batman: O Filme”, eis a terceira das longas-metragens de animação digital à base de peças de Lego, agora realizada por Charlie Bean e Paul Fisher e inspirada na linha de brinquedos homónima (que já originou também uma série de televisão). O jovem Lloyd e mais cinco amigos, Jay, Kai, Cole, Zane e Nya, são, de dia, adolescentes vulgares que enfrentam um inimigo chamado liceu. À noite, conduzidos pelo mestre Wu, transformam-se em guerreiros ninja e mestres construtores Lego, que juraram defender o seu torrão natal, Ninjago, e vão ter que combater o super-vilão Garmadon, que é também o pai de Lloyd, e o seu exército. O filme tem as vozes de Jackie Chan, Justin Theroux, Dave Franco ou Michael Peña na versão original, enquanto que na versão portuguesa encontramos nomes como Tomás Wallenstein, Miguel Guilherme ou FF.

“Good Time”

Neste “thriller” urbano dos irmãos Ben e Josh Safdie, Robert Pattinson interpreta Connie Niklas, um delinquente novaiorquino de meia-tigela que vai assaltar um banco com o seu irmão Nick (Ben Safdie), que tem uma deficiência mental, e este acaba preso e depois num hospital, sob vigilância policial. Ao longo de uma noite, Connie vai tentar safar o irmão, primeiro indo à procura de dinheiro para pagar a fiança, depois tentando tirá-lo do hospital. Os Safdie fizeram uma fita encardida, crua e berrante, nervosa e insone, que progride a toque de caixa e em contra-relógio, iluminada a néon e povoada por gente derrotada ou deixada por conta, em que Pattinson consegue finalmente exorcisar a imagem de galã romântico da série “Twilight”. “Good Time” foi escolhido como filme da semana pelo Observador, e pode ler a crítica aqui.