O eurodeputado Paulo Rangel afasta candidatura à liderança do PSD. “Infelizmente, e independentemente das condições políticas subsistentes, por razões de ordem familiar, que tentei solucionar ao longo dos últimos dois dias, nas atuais circunstâncias, afigura-se inviável a apresentação dessa candidatura“, refere a posição divulgada por Rangel esta sexta-feira, num comunicado a que o Observador teve acesso.

No discurso em que tornou pública a sua indisponibilidade para continuar à frente do partido — face aos resultados alcançados nas autárquicas do último domingo –, Pedro Passos Coelho teceu elogios a Paulo Rangel. O eurodeputado confirma que esteve a ponderar uma candidatura para suceder ao ex-primeiro-ministro, mas esclarece agora que esse passo não será dado.

“Perante o inesperado anúncio do atual presidente do PSD de que não se candidataria a um novo mandato à frente do Partido, subitamente e sem que tivesse existido da minha parte qualquer manifestação de disponibilidade nesse sentido, o meu nome começou a surgir como uma possibilidade, entre outras”, refere Rangel. O eurodeputado admite ter passado os últimos dias a avaliar as condições para avançar com uma candidatura em nome próprio:

Tendo em conta a surpreendente dimensão que foram assumindo os apelos e os apoios a essa possibilidade de candidatura, entendi ser meu dever dar início a um período de reflexão e de contactos, que se afigurou mais longo do que gostaria, com vista a tomar uma decisão ponderada e fundamentada”.

Essa reflexão esbarrou nas questões familiares que, diz, o impedem de avançar. “Infelizmente, e independentemente das condições políticas subsistentes, por razões de ordem familiar, que tentei solucionar ao longo dos últimos dois dias, nas atuais circunstâncias, afigura-se inviável a apresentação dessa candidatura”, diz o eurodeputado.

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O social-democrata agradece aos “militantes e simpatizantes” as “palavras de incentivo” mas está fora da corrida à sucessão de Passos Coelho. Está, no entanto, convicto de que o PSD “dispõe de quadros que, tendo até melhores condições políticas” do que as que reconhece em si mesmo, “podem assegurar uma pluralidade de opções para o seu futuro, declaro que não sou candidato à liderança do PSD“.

Quanto à corrida à liderança do partido, Rangel garante que manterá uma “neutralidade”. “E continuarei integralmente disponível para servir o país e o partido, colaborando estreitamente com o atual e com futuros presidentes e com os órgãos dirigentes que os acompanham”, acrescenta.

PSD. Rio avança em “qualquer circunstância” e já foi a Lisboa preparar terreno

Rangel não avança, Montenegro também não. Eram eles — o eurodeputado e o ex-líder da bancada parlamentar — os nomes que a fação “passista” do PSD mais desejava ver lançarem-se na corrida para conquistarem o lugar que, desde 2010, Pedro Passos Coelho ocupa. Essas intenções ficam agora sem efeito.

Do outro lado, Pedro Santana Lopes continua em preparativos. Mas, para já, o caminho fica mais livre para Rui Rio. O ex-presidente da Câmara Municipal do Porto tem estado em movimentações, promovendo encontros com altas figuras do partido, e já admitiu que está a preparar as bases de um programa para oficializar a formalização de uma candidatura à presidência do PSD. “O que era notícia é que eu não falasse com ninguém nesta altura”, disse esta semana ao Diário de Notícias.

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O processo de sucessão de Passos Coelho foi lançado com as declarações do próprio, esta terça-feira. À noite, numa intervenção aberta à comunicação social no Conselho Nacional, o ainda presidente do PSD tornou público aquilo que o Observador já tinha avançado e que o líder social-democrata tinha dito em círculos mais restritos durante esse dia — primeiro, ao seu núcleo duro, na Comissão Política Permanente, e mais tarde aos elementos da Comissão Política Nacional.

Bastou um dia de “reflexão aprofundada” para tomar a decisão: não avançará com uma recandidatura que lhe permitiria voltar a disputar o Governo com António Costa. Na intervenção perante o Conselho Nacional, manifestou mesmo a disponibilidade para antecipar as eleições diretas, que estavam previstas para o final de janeiro do próximo ano.