(Atualizado às 23h17)

Mais de 270 apoiantes do opositor russo na prisão Alexeï Navalny foram este sábado detidos, segundo uma ONG, em manifestações não autorizadas na Rússia, incluindo em São Petersburgo, cidade natal do Presidente, Vladimir Putin, que este sábado completa 65 anos.

A mobilização, como a resposta policial, foi, no seu conjunto, claramente inferior à das manifestações da primavera que reuniram dezenas de milhares de pessoas, sobretudo jovens.

Mas, a cinco meses das eleições presidenciais, os protestos constituem um desafio direto a Putin — que deverá candidatar-se a um quarto mandato na próxima primavera -, no dia do seu aniversário, habitualmente assinalado por numerosos festejos de louvor.

Navalny apelou na passada segunda-feira aos seus apoiantes para saírem à rua, depois de ter sido condenado a 20 dias de prisão por convocar manifestações não autorizadas, naquele que é o seu terceiro encarceramento este ano.

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Houve concentrações em 80 cidades russas, do Extremo Oriente ao Báltico, incluindo em Moscovo, mas o mais importante cortejo realizou-se em São Petersburgo (noroeste), segunda cidade do país, onde 3.000 pessoas desfilaram pelo centro da cidade, gritando “Liberdade para Navalny!”, antes de se iniciarem as detenções, segundo a agência de notícias francesa AFP, no local.

Pelas 18:00 TMG (19:00 em Lisboa), o número de detenções atingiu 62 em São Petersburgo, elevando o total na Rússia para 271, segundo a ONG especializada OVD-Info.

Testemunhas inquiridas pela AFP relataram detenções com recurso à força e pessoas ensanguentadas.

Por seu turno, a polícia de São Petersburgo deu conta de 38 pessoas detidas — “por entraves à circulação de viaturas”, precisando que tinham sido todas libertadas.

Segundo a polícia, a manifestação de São Petersburgo juntou “cerca de 1.800 pessoas”.

Cerca de 50 manifestantes encontravam-se ainda, pelas 19:00 TMG (20:00 de Lisboa), perto da praça da Insurreição, em pleno centro da cidade, mas os polícias, destacados em grande número, já se tinham retirado.

A ONG Amnistia Internacional condenou a detenção de “manifestantes pacíficos na Rússia”, instando as autoridades a “libertarem-nas imediatamente” e a “começarem imediatamente a proteger os direitos desses manifestantes”.

O opositor ‘número um’ do Kremlin, Alexeï Navalny, de 41 anos, tem poucas hipóteses de poder candidatar-se contra Vladimir Putin, no poder desde 1999.

A Comissão Eleitoral Central advertiu em junho que uma anterior condenação da justiça por desvio de fundos o impedia de concorrer.

Conhecido pelas suas investigações sobre a corrupção das elites russas, Navalny multiplicou, apesar de tudo, nas últimas semanas as ações de campanha em muitas cidades russas e tencionava, antes da sua detenção, encontrar-se com os seus eleitores este sábado em São Petersburgo.

Em Moscovo, um milhar de pessoas concentrou-se durante a tarde no centro da cidade, debaixo de aguaceiros.

Fortes medidas de segurança foram tomadas, mas as forças antimotim praticamente não perturbaram a marcha dos manifestantes, em contraste com o anterior protesto, em junho, marcado por cargas policiais e um milhar de detenções na capital.

Por seu lado, Vladimir Putin, que se encontra na estância balnear de Sotchi, no sul do país, presidiu a uma reunião do conselho de segurança russo, a meio do dia, segundo o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov.

O jornal da estação pública de informação Rossia-24 manteve este sábado silêncio sobre as manifestações da oposição, mas dedicou um longo segmento aos votos de felicitações enviados por dirigentes estrangeiros e criadores estrangeiros inspirados pelo Presidente russo.

“Vladimir Putin transmitiu à sociedade o sentimento do amor e do respeito pela pátria”, escreveu Ramzan Kadyrov, o dirigente da Tchetchénia, república do Cáucaso russo, numa mensagem na rede social Instagram, acrescentando que a Rússia será “sempre um império muito poderoso”.

O governador da região de Tambov (a cerca de 400 quilómetros a sudeste de Moscovo), Alexandr Nikitine, plantou, com responsáveis locais, 65 macieiras, como “símbolo da unidade com Vladimir Putin”.