Primeiro uma ponderação a 70%, depois um almoço com Marcelo Rebelo de Sousa, que já estaria marcado “há três semanas” mas que representou um sinal evidente de que a candidatura de Santana Lopes estava em marcha. Depois, segundo noticiou o Expresso, uma conversa com António Costa e com o ministro que tutela a Santa Casa, Vieira da Silva, que foi a confirmação final de que havia mesmo candidato. Em noite de Conselho Nacional do PSD, onde o partido marcou a data para a escolha do novo líder, o que corria nas hostes sociais-democratas era que não havia volta a dar. Os telemóveis tinham “mensagens” a dar como certo que Pedro Santana Lopes já não estava a 70% nem tão pouco a 90%, mas que iria mesmo avançar. O que o sustenta? O sentimento anti-Rio, que apoia tudo o que não seja o ex-autarca do Porto.

Ao mesmo tempo que a revista Sábado dava conta de que a “decisão [de Santana] estava tomada”, citando fonte próxima do provedor da Santa Casa da Misericórdia, os conselheiros nacionais do PSD reuniam-se num hotel de Lisboa para fechar o calendário eleitoral que vai ditar o novo ciclo: entre duas datas disponibilizadas pela direção de Passos Coelho, 9 de dezembro e 13 de janeiro, a “esmagadora maioria” do partido escolheu a data mais tardia, que se aproxima mais do calendário normal do partido e que vai contra aquela que seria a vontade de Rui Rio de apressar os calendários. Ao que o Observador apurou, apenas nove conselheiros votaram a favor das diretas no início de dezembro, entre eles Salvador Malheiros, líder do PSD Aveiro que já declarou o apoio a Rui Rio e que está a ser apontado como o seu diretor de campanha.

PSD escolhe data de 13 de janeiro para eleições, contra vontade de apoiantes de Rio

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No rescaldo do Conselho Nacional desta noite de segunda-feira, o que reina na “maior parte” do partido é que foi dado mais um sinal de que Rui Rio não é amado nas hostes sociais-democratas. E que qualquer que seja o “outro” candidato, será preferido. Pelo menos no Conselho Nacional onde a ala passista ainda é maioritária. É precisamente aí que Pedro Santana Lopes ganha terreno. O sentimento anti-Rio cresce cada vez mais dentro do PSD, inclusive em distritais como Santarém, Lisboa e sobretudo no Porto, onde o ex-presidente da câmara tem muitos anticorpos e onde são cada vez mais os militantes que expressam a ideia de que apoiam “quem quer que seja”, desde que não seja Rui Rio.

Ao que o Observador apurou, o próprio Santana Lopes tem vindo a expressar essa ideia nos contactos que tem mantido desde o fim de semana junto das várias distritais do partido, mais para perceber o “feeling” do que para contar espingardas. A ideia de que “3/4 dos apoios são apoios anti-Rio e não pró-Santana” está presente na cabeça do provedor da Santa Casa, e não lhe agrada. Em todo o caso, o sentimento generalizado é de que Santana Lopes vai mesmo disputar a liderança contra Rui Rio. O que não é certo é quando o fará — seria depois da marcação das eleições e antes do anúncio de Rio, mas o jornal Público dá conta de que afinal a comunicação oficial será feita na quinta-feira na Figueira da Foz –, nem se será o único contra Rio.

É que o nome de Miguel Pinto Luz, ex-líder da distrital de Lisboa e vice-presidente da câmara de Cascais, ainda não está descartado. Esta noite, enquanto decorria o Conselho Nacional do partido, o Observador sabe que Pinto Luz ainda estava a ponderar avançar. Um avanço que seria sempre feito numa lógica geracional, para fazer frente aos candidatos ‘mais de 60’, que representam a velha guarda do partido, e um avanço que não seria para ganhar. Sendo um rosto pouco conhecido dos portugueses, mas considerado em ascensão dentro do partido, a ideia de Pinto Luz seria concorrer para ter um “resultado honroso”, para marcar posição e ganhar terreno para outros voos.

Certo é que um avanço de Pinto Luz pode baralhar as contas a Santana Lopes, ao criar uma maior dispersão dos votos dos passistas e dos anti-Rio. Mas se Rio já está silenciosamente no terreno a preparar a candidatura há largos meses, também é verdade que ainda há peças-chave por posicionar, não sendo, por exemplo, seguro afirmar para que lado pende o líder da distrital de Braga, José Manuel Fernandes, uma das peças mais importantes, nem qual o impacto da grande divisão em Aveiro. É que, em termos de peso do aparelho, há concelhias que valem mais do que muitas distritais e, além da estrutura de Aveiro, as divisões são notórias noutros distritos, como em Braga, Viseu ou Viana do Castelo. Ou Porto. Em Lisboa, distrital liderada por Pedro Pinto, o voto é quase direto para Santana, sendo que uma ala da capital está com Rui Rio. Guarda e Leiria querem Rio.

Para já, só é certo que no dia 13 de janeiro o PSD votará para eleger um novo líder, que irá suceder a oito anos de Pedro Passos Coelho.