A situação dos cristãos perseguidos em países do Médio Oriente e da Ásia deteriorou-se consideravelmente nos últimos dois anos, revela um estudo publicado esta quinta-feira pela Fundação Ajuda à Igreja que Sofre. O estudo, que durante dois anos analisou a situação dos cristãos na Síria, Egipto, Nigéria, Iraque, Paquistão, Filipinas, Índia, Sudão, China, Coreia do Norte, Turquia, Arábia Saudita e Eritreia.

“Em quase todos os países analisados, a situação dos cristãos deteriorou-se desde 2015, como consequência da violência e da opressão”, lê-se no resumo das conclusões do estudo, enviado à imprensa. “A única exceção é a Arábia Saudita, onde a situação já era tão má que dificilmente conseguiria piorar”, acrescenta o relatório.

As ameaças aos povos cristãos variam consoante a geografia, detalha a publicação. No Médio Oriente, a principal preocupação é o Estado Islâmico, que está a provocar um êxodo em massa de cristãos. “No Iraque, o êxodo dos cristãos é tão grave que uma das Igrejas mais antigas do mundo está em vias de desaparecer no prazo de três anos”, lê-se ainda nas conclusões. Na Síria verifica-se a mesma fuga de cristãos, que “ameaça a sobrevivência do Cristianismo em regiões da Síria, incluindo Alepo, onde antigamente vivia uma das maiores comunidades cristãs de todo o Médio Oriente”.

“Hiper-extremismo islamita”. Há cada vez menos liberdade religiosa no mundo

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O relatório denuncia ainda que o Estado Islâmico “e outros grupos militantes islamitas cometeram genocídio na Síria e no Iraque” e acusa “os governos do Ocidente e a ONU” de não terem conseguido “oferecer aos cristãos em países como o Iraque e a Síria, a ajuda de emergência de que precisavam quando o genocídio começou”, destacando que foram as organizações cristãs a colmatar “essa lacuna”. O mesmo genocídio de cristãos tem acontecido na Nigéria por parte de elementos do Boko Haram, lê-se no documento.

Já na Ásia as ameaças surgem “na sequência de um aumento do nacionalismo religioso”. Na Índia, por exemplo, “a perseguição aumentou consideravelmente desde a subida ao poder, em 2014, do Partido Bharatiya Janata, um partido nacionalista hindu de direita liderado pelo primeiro-ministro Narendra Modi, denuncia o relatório.

Por outro lado, na China, “onde o presidente descreveu o Cristianismo como «uma infiltração estrangeira», o aumento da hostilidade para com as comunidades religiosas, acusadas de resistirem ao controlo governamental, resultou na remoção cada vez mais generalizada de cruzes das igrejas e na destruição de edifícios religiosos. Algumas autoridades regionais proibiram as árvores de Natal e os cartões de boas festas”.

É da Coreia do Norte que chega a acusação mais forte: “Na Coreia do Norte, a grande infratora, as «atrocidades inqualificáveis» contra os Cristãos incluem fazer passar fome à força, aborto e relatos de fiéis pendurados em cruzes sobre o fogo ou esmagados por um rolo compressor”, lê-se no documento.

Em novembro do ano passado, a mesma fundação apresentou o relatório anual sobre o estado da liberdade religiosa no mundo (não apenas relativa aos cristãos), e identificou o “hiper-extremismo islâmico” como principal ameaça à liberdade religiosa. O novo relatório é apresentado na íntegra esta quinta-feira, às 17h, pelo bispo auxiliar de Lisboa D. Nuno Brás, no auditório da Rádio Renascença, em Lisboa.