Entre 10 mil e 15 mil refugiados rohingya chegaram nas últimas 48 horas ao Bangladesh, elevando para 582 mil os que fugiram de Myanmar desde finais de agosto, disse esta terça-feira a ONU.

Segundo o Alto-Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR), esses refugiados encontram-se numa zona de arrozais enquanto esperam os controlos das autoridades para serem transferidos para os principais acampamentos criados para acolhê-los.

Cerca de 60% dos refugiados rohingyas são crianças, segundo dados da Unicef, que alertou que, se não receber em breve novas contribuições para acudir a esta emergência, terá de cortar a ajuda que disponibiliza.

Testemunhos e imagens recolhidas com recurso a um drone pelo ACNUR na segunda-feira documentam as condições em que sobrevivem milhares de refugiados rohingya em campos miseráveis e sobrelotados para escapar à violência do outro lado da fronteira.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

O vídeo mostra milhares e milhares de refugiados numa fila de vários quilómetros ao longo de uma estreita linha de terra junto ao que parece ser um riacho inundado pelas chuvas na zona de Palong Khali no sul do Bangladesh.

Segundo testemunhas, uma nova onda de refugiados começou a atravessar a fronteira no fim de semana.

Os recém-chegados, quase todos com medo e com fome, descreveram cenas de violência, com militares armados e gangues de budistas locais a atacar as casas rohingya.

A violência contra os rohingya no estado de Rakhine no Bangladesh foi descrita pela ONU como “um caso clássico de limpeza étnica”.

Antes da operação militar de 25 de agosto, que motivou a atual fuga de rohingyas para o Bangladesh, estimava-se que cerca de um milhão de rohingyas vivia em Rakhine, onde são alvo de crescente discriminação desde o surto de violência sectária de 2012 que causou pelo menos 160 mortos.

Myanmar não reconhece a cidadania aos rohingya e há vários anos que lhes impõe severas restrições, incluindo a privação de liberdade de movimentos.

O Bangladesh, onde antes desta crise viviam cerca de 300 mil rohingyas, também trata os membros desta minoria como estrangeiros e até agora apenas cerca de 30 mil foram reconhecidos como refugiados.

Já esta terça-feira, a organização Human Rights Watch (HRW) denunciou que cerca de 300 aldeias da minoria muçulmana rohingya foram incendiadas no noroeste de Myanmar durante a última ofensiva do exército, após o ataque de insurgentes em agosto.

A HRW utilizou imagens de satélite para identificar 288 aldeias queimadas, total ou parcialmente, no norte do estado de Rakhine, com dezenas de milhares de estruturas afetadas, a maioria casas habitadas por rohingyas.