O presidente do conselho de administração do banco BIC Angola, Fernando Teles, defendeu esta sexta-feira que o apoio da China a Angola é “bem-vindo”, desde que sejam cumpridos os compromissos, apontando ‘esquecimentos’ por parte de Pequim.

“A China tem apoiado Angola, mas também se comprometeu a que 30% das empreitadas financiadas pela China seriam para empresas angolanas e tem-se esquecido disso”, afirmou Fernando Teles, durante o Fórum Económico “Cidades Sustentáveis”, integrado na 22.ª Feira Internacional de Macau (MIF), evento que tem Angola como “país parceiro”.

“Grande parte das empreitadas das empresas chinesas são essencialmente realizadas com operários e empresas chinesas — isto não é bem-vindo a Angola”, insistiu o presidente do BIC, que integra o grupo dos cinco maiores bancos em Angola, numa declaração recebida com palmas pela plateia.

Após começar por recordar que a China “foi o primeiro país que se chegou à frente” após a paz — o que “sempre foi muito bem visto pelos angolanos” –, Fernando Teles salientou que também todos têm consciência de que as relações entre os bancos e as empresas “normalmente são de interesse [e] de compromisso” que “tem que ser de ambas as partes”.

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Eu trabalho na banca há 51 anos [e] habituei-me a que a banca funciona com base na credibilidade. A área da construção civil a mesma coisa. Temos todos que ser sérios, tem que haver contrapartidas e os negócios na verdade só são bons quando todas as partes se sentem satisfeitas depois do negócio realizado”, afirmou.

Relativamente à banca propriamente dita, o presidente do BIC Angola destacou a necessidade de haver convertibilidade do renminbi relativamente às moedas dos Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa (PALOP), defendendo um acordo entre os bancos lusófonos, que também seria “interessante para a China”.

A China tem biliões ou triliões de dólares depositados nos bancos dos Estados Unidos e precisa que a sua moeda também tenha mais força (…) [e], se calhar, pode começar pelos PALOP, por fazer um acordo com os bancos centrais dos vários países de expressão portuguesa, por forma a que a moeda chinesa tenha conversão nesses países”, observou.

Fernando Teles voltou ainda a tocar na ‘ferida’ da reciprocidade. “A China tem de se abrir aos bancos dos PALOP, incluindo bancos angolanos”, defendeu, recordando que recentemente foi inaugurado o Banco da China em Luanda.

“Se calhar alguns bancos angolanos têm interesse em que no futuro possam ter uma sucursal em Macau ou noutro local qualquer da China”, afirmou Fernando Teles, confirmando que o BIC Angola tenta agora essa aproximação através daquela Região Administrativa Especial.

Esperamos em novembro formalmente pedir também que nos seja autorizada a abertura de um banco de direito local porque isso facilita tudo”, frisou.

No sentido inverso, Fernando Teles destacou que “a banca local angolana está totalmente aberta”: “Há muitos bancos em Angola, há condições na banca angolana, há liquidez na banca angolana — contrariamente àquilo que as pessoas às vezes pensam”. “O nosso problema não é liquidez a nível local — liquidez temos”, afirmou, indicando que o busílis reside nos “projetos credíveis”.

Aconselho os empresários chineses a investirem de forma forte na agricultura, na pecuária, nas pescas, sobretudo no setor primário. Se quiserem apoio da banca angolana (…) estamos totalmente disponíveis para apoiar seja donde for, porque há condições para aprovarmos projetos” que têm é que “ter credibilidade”, disse.