Os antigos presidentes dos Estados Unidos Barack Obama e George W. Bush criticaram o clima político atual naquele país. Os comentários dos dois ex-governantes foram interpretados como críticas clara à administração Trump – mas a verdade é que nenhum deles disse o nome, ou referiu, o atual presidente norte-americano.

Obama falou no estado da Virginia, Bush falou em Nova Iorque. A ação de campanha de Ralph Northam, candidato democrata a senador da Virginia, marcou o regresso de Barack Obama às andanças políticas e aos discursos. Na altura em que deixou a Casa Branca, em janeiro, prometeu fazer aquilo que Bush havia feito e retrair-se no que toca a comentários ou posições políticas.

O primeiro presidente negro dos Estados Unidos começou por referir isso mesmo e dizer que “como têm reparado, não tenho comentado muita coisa ultimamente. Mas há uma coisa que eu sei: se alguém tem de ganhar uma campanha a dividir as pessoas, não vai ser capaz de as governar. Não vai ser capaz de as unir se começou assim”.

Apesar de nunca o ter feito publicamente, Obama tem criticado Donald Trump em posições escritas, principalmente no que toca à anulação do Obamacare e à inversão de marcha nas políticas ambientais e de emigração. Mas esta terça-feira, Obama regressou em “modo campanha” e levou os seus apoiantes numa viagem no tempo até 2008.

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Sem nunca dizer o nome de Donald Trump, foi desenrolando críticas atrás de críticas ao atual presidente e às suas decisões desde que venceu as eleições em novembro. “Em vez de políticas que refletem os nossos valores, temos políticas que infetam as nossas comunidades”, afirmou Obama, num estado que fez capas de jornais no mundo inteiro devido às manifestações de supremacistas brancos na cidade de Charlottesville, onde uma ativista acabou por morrer.

A questão agora, numa altura em que as nossas políticas estão tão divididas e tão zangadas e tão sujas, é se conseguimos recapturar esse espírito, se conseguimos apoiar e receber alguém que quer aproximar as pessoas. Sim, nós conseguimos.”, declarou Barack Obama, recordando o slogan de 2008 “yes, we can”. A multidão explodiu de entusiasmo e repetiu a frase várias vezes.

O antigo presidente disse ainda que “em vez de procurarmos maneiras de trabalharmos juntos para fazer as coisas de uma maneira prática, temos pessoas que estão deliberadamente a tentar chatear outras pessoas, a demonizar pessoas que têm ideias diferentes” e evitou novamente referir o nome de Donald Trump.

George W. Bush, por sua vez, falou numa conferência organizada pelo instituto que tem o seu nome, em Nova Iorque. O antigo presidente republicano condenou a intolerância e aquilo a que chamou teorias da conspiração.

Tal como Obama, nunca disse o nome de Donald Trump. Discursou de uma maneira crítica e agressiva, mas sempre ambígua e sem acusações diretas. Impulsionou os americanos a condenar a supremacia branca e a aceitar a globalização.

A intolerância parece ser encorajada. A nossa política parece mais vulnerável a teorias da conspiração completamente fabricadas”, atirou Bush, para logo acrescentar que “a intolerância em todas as suas formas é uma blasfémia ao credo americano, que diz que a identidade da nossa nação depende da passagem de ideais cívicos à próxima geração”.

Ainda que George W. Bush esteja afastado da política e dos grandes centros de poder desde que saiu da Casa Branca, em 2009, o desdém da sua família por Donald Trump é bem conhecido. Em 2016, enquanto fazia campanha pelo irmão Jeb para as primárias republicanas, o antigo presidente teve posições semelhantes quanto a Trump. Mais recentemente, em conjunto com o pai, o também antigo presidente George W. H. Bush, faltou à convenção republicana em que Donald Trump foi oficialmente nomeado candidato presidencial e recusou votar nele nas eleições de novembro.