O Papa Francisco, sentado no Vaticano em frente de um grande ecrã, ligou para a Estação Espacial Internacional (EEI) onde seis astronautas esperavam pelo momento.

Numa posição central, e tomando a posição de porta-voz, estava Paolo Nespoli, o astronauta italiano que em 2011 já tinha falado com o Papa Bento XVI, também na Estação Espacial Internacional.

O Papa saudou os astronautas e foi cumprimentado pelo astronauta Nespoli em italiano. A partir daí falou em italiano com os membros da tripulação e Paolo Nespoli encarregou-se das devidas traduções.

O Papa fez perguntas e recebeu respostas de todos os astronautas – Centro Televisivo Vaticano

“Dr. Nespoli, o que pensa, segundo a sua experiência no espaço, sobre o lugar do homem no Universo?”, perguntou o Papa aos astronautas.

Paolo Nespoli disse que era uma resposta complexa. Assumiu-se um técnico, um engenheiro, e que tinha dificuldade em responder a esta pergunta. O objetivo dos astronautas na EEI é o conhecimento. Se teólogos, filósofos, escritores e poetas fossem ao espaço poderiam melhor responder a esta questão, escusou-se o astronauta.

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“É verdade o que diz”, concluiu o Papa. E seguiu com a próxima pergunta.

Fazendo alusão ao quadro que se encontrava na sala, o Santo Padre perguntou o que os astronautas, enquanto técnicos e engenheiros, pensavam do amor que move o universo. E foi surpreendido com uma resposta em russo pelo engenheiro de voo Alexander Misurkin.

O astronauta da Roscosmos fez referência ao livro do Principezinho, de Antoine de Saint-Exupéry, lembrando que o amor é a força que nos dá a capacidade de dar a vida por outra pessoa ou ser. O Papa Francisco concordou e agradeceu as palavras.

Agora uma curiosidade, porque o homem é curioso, confessou o Santo Padre: “O que os levou a serem astronautas? Que coisas lhes dão prazer nesta estadia na Estação Espacial Internacional?”

Sergey Ryazanskiy, astronauta da Roscosmos, respondeu em inglês que os elementos presentes representam pessoas diferentes, de países diferentes, com histórias diferentes. No seu caso, a história começou com o avô que foi um dos responsáveis pela construção do primeiro satélite, o Sputnik, e é com grande orgulho que se vê continuar este caminho.

“Os voos espaciais são sempre a fronteira para nova tecnologia, nova ciência e novas abordagens”, disse Sergey Ryazanskiy.

“A minha maior alegria é olhar pela janela e ver o trabalho de Deus pelo mesmo ângulo que ele vê”, respondeu o comandante americano Randy Bresnik. “É impossível uma pessoa chegar aqui e ver a indescritível beleza da Terra e não ser tocado na alma.” Uma das coisas que fascina o astronauta é a paz e a serenidade do planeta que se vê do espaço: sem fronteiras, sem conflitos, só paz. Olhar para a atmosfera fina e perceber como a nossa existência aqui é frágil.

Continuando com a curiosidade que assumiu, o Papa Francisco perguntou como é que os astronautas lidam com as mudanças tão rápidas que acontecem no espaço, como é que sem gravidade distinguem o que está em cima e o que está em baixo.

Os seis astronautas na Estação Espacial Internacional: (à frente, a partir da esquerda) Alexander Misurkin, Paolo Nespoli e Randy Bresnik e (atrás, a partir da esquerda) Mark Vande Hei, Sergey Ryazanskiy e Joe Acaba – Centro Televisivo Vaticano

De facto, viajar no espaço modifica as perceções dos astronautas, até as coisas mais familiares se tornam muito diferentes, assumiu o astronauta americano Mark Vande Hei. O astronauta da NASA contou que, por vezes, quando está a trabalhar numa coisa muito próxima, está tão concentrado que não se apercebe que rodou sobre si próprio. Depois, quando vai para outro módulo, e chega a ele por um ângulo que não esperava sente-se um pouco confuso enquanto tenta perceber onde está.

O astronauta admitiu que o que tem sido surpreendente para ele é que, embora neste ambiente não precise do conceito de cima e baixo, precisa de definir que direção quer percecionar como cima para ter noção das coisas.

Como última intervenção, o líder da Igreja Católica reforçou a importância da colaboração para se conseguir um empreendimento tão grande como a permanência na EEI e a exploração espacial. Joe Acaba, o astronauta norte-americano originário de Porto Rico, confirmou que a EEI é de facto um grande exemplo de colaboração internacional.

“É a nossa diversidade que nos torna mais fortes. Precisamos de compreender quem somos enquanto indivíduos e respeitar quem está à nossa volta, porque trabalhando juntos conseguimos fazer coisas muito maiores do que conseguiríamos enquanto indivíduos”, disse Joe Acaba.

“A totalidade é mais do que a soma das partes”, conclui o Papa Francisco.

“Rezem por mim, que eu rezarei por vós”, terminou o Sumo Pontífice.

A intervenção do Papa Francisco não fez qualquer referência à Ciência, à Pontifícia Academia das Ciências, à Encíclica de 2015 ou às alterações climáticas, como era especulado por alguns meios de comunicação social antes do evento.

Pode rever a chamada do Papa para a Estação Espacial Internacional aqui:

Atualizado às 15:30.