O CEO da Seat, Luca de Meo, endereçou uma carta aos seus 14.500 empregados, tranquilizando-os quanto ao compromisso da marca espanhola, pertença do Grupo Volkswagen, com Barcelona e a região catalã, mas afirmando igualmente que “a deslocação da sede para Madrid” apenas aconteceria se estivesse “em causa a necessidade de estabilidade política, segurança jurídica e permanência na União Europeia, condições imprescindíveis para assegurar a sustentabilidade económica da Seat”. Esta mensagem, a que alguns órgãos de informações espanhóis tiveram acesso, tem tanto de tranquilizador para os empregados, como de aviso ao governo da Generalitat, liderado por Carles Puigdmont.

De Meo é hoje um respeitado quadro do Grupo Volkswagen, que antes militava na Fiat, onde era o “menino-querido” do chefe máximo, Sergio Marchionne. Hoje lidera a Seat, empresa do grupo alemão desde 1986, com o construtor espanhol a atravessar o melhor período da sua história, pois não só o produto é bom e ajustado à vontade dos clientes, como a estratégia é sólida, sem excessos, mas sem se desviar dos seus objectivos: produzir os veículos que os clientes querem e ganhar dinheiro com isso.

A fábrica da Seat em Martorell é um monstro de onde saem 800.000 carros por ano. Mas deixará de ser competitiva caso a Catalunha se torne independente

Mas mesmo quando os resultados e as vendas vão de vento em popa, os problemas podem sempre surgir. E surgiram, pois de Meo tem de lidar com a declaração da independência catalã e um hipotético abandono desta região do Estado espanhol e consequente saída da União Europeia (UE). Isto, só por si, torna pouco interessante a permanência da marca em território catalão, mas sobretudo torna impossível a sobrevivência da fábrica de Martorell, que num cenário de Catalunha fora de Espanha, e logo fora da UE, perderia toda a competitividade ao estar exposta a impostos especiais para exportar para os Estados europeus. A começar por Espanha, para onde vão 40% dos produtos da Catalunha, com outro tanto destinado aos restantes países do Velho Continente.

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Os espanhóis adoram a Seat e os catalães também, mas estes últimos consideram-na sua e não lhe perdoariam qualquer movimento pró-Espanha, pelo que qualquer decisão que envolva o único fabricante de automóveis espanhol tem sempre um significado que transcende as vantagens fiscais ou sociais. É, acima de tudo, política. E é exactamente por este caminho que Luca de Meo não quer entrar.

O Grupo Volkswagen deu-lhe toda a abertura para mudar a sede de Barcelona para Madrid, assim que achar aconselhável, o que colocaria a marca longe do alcance do imprevisível governo catalão, em termos de nacionalizações ou eventuais devaneios fiscais. Só que o italiano tem de deixar bem claro que até pode sair da Catalunha, mas, a fazê-lo, será decididamente triste e contrariado.

Neste sentido, e já a preparar o passo seguinte, o CEO escreveu uma carta aos 14.500 empregados da Seat, consciente de que, só por milagre, ela não se tornaria pública. E logo minutos depois de ser enviada. Na missiva, preparou os funcionários para uma deslocação da sede social da Seat SA de Martorell, Barcelona, para Madrid. Tal poderá acontecer em breve, pois aí estão já alguns departamentos do Grupo Volkswagen, como o Volkswagen Group España, que controla a distribuição, e o Volkswagen Group Retail, responsável pelos concessionários em Espanha, ambos localizados na Torre de Cristal, em pleno centro da capital espanhola, edifício onde há igualmente espaço para acolher a empresa detentora do negócio da produção de automóveis na Catalunha.

A Seat torna clara a sua posição em relação à independência da Catalunha: ou continuam como parte de Espanha e da UE, ou a Seat vai para Madrid e a fábrica de Martorell está condenada

A deslocalização da sede para Madrid é muito mais do que um simples salto geográfico. Significa que a Seat fica a salvo das “tonterias” que a equipa de Puigdemont quisesse vir a impor, mas quer igualmente dizer que a Seat passaria a pagar impostos a Madrid, resultantes dos cerca de 500.000 veículos que produz por ano, secando ainda mais a tesouraria do hipotético Estado catalão, que já não é tão rico quanto era antes do referendo do dia 1 de Outubro.

A tónica mais importante da missiva diz respeito ao interesse e ao potencial da permanência da fábrica na Catalunha, caso esta se separe de Espanha e, logo, da UE. E esse interesse ou potencial é nulo. A ter de suportar 10 a 15% de impostos para exportar para os países europeus, o futuro da fábrica da Seat em Martorell estará condenado. E é exactamente este ponto que o CEO da Seat quer deixar bem claro, para quando os catalães forem eleger um novo Governo, em Dezembro.