O construtor sueco, que produziu o seu primeiro veículo em 1927, está a celebrar 90 anos. Mas segundo a especialista em segurança da Volvo Lotta Jakobsson, a marca nunca se afastou das directivas traçadas pelos seus fundadores, Assar Gabrielsson (um vendedor de rolamentos da SKF) e Gustav Larson (engenheiro formado no KTM Royal Institute of Technology de Estocolmo), que logo de início determinaram que “os automóveis são conduzidos por pessoas, por isso, tudo o que fizermos deve contribuir, antes de mais, para a sua segurança”.

Lotta Jakobsson esteve recentemente em Portugal para uma conferência, subordinada ao tema “Segurança Volvo – 90 anos a pensar nas pessoas”. No evento, recordou o contributo do fabricante sueco nos avanços dirigidos à protecção dos ocupantes, mas também a forma como a Volvo persegue os seus objectivos, que consistem em garantir que, a partir de 2020, não haverá mortes ou ferimentos graves a bordo de veículos novos da marca.

Aprender com os erros… dos outros

À semelhança dos restantes fabricantes de automóveis, também a Volvo destrói vários automóveis por mês, em crash tests que se destinam a testar soluções e a escolher a melhor para evitar submeter os ocupantes a forças que possam provocar lesões graves ou até mesmo a morte. Os resultados desses testes são depois introduzidos num programa que consegue simular os embates de forma virtual, não para evitar os crash tests reais, mas sim para agilizar todo o processo e tornar mais rápido o desenvolvimento de um novo modelo.

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Mas onde a Volvo se distingue é na análise dos casos reais – acidentes na Suécia em que os seus veículos estiveram envolvidos –, o que permite ao construtor melhorar os seus veículos com os erros e os excessos cometidos pelos seus clientes. O objectivo é cruzar a informação obtida em laboratório, nos embates contra paredes de betão e estruturas deformáveis do Volvo Cars Safety Center, com as condições que os seus condutores encontram na estrada.

“Na Suécia, devido ao nosso clima, com muito gelo, e alces, temos acidentes diferentes dos que acontecem nos restantes países europeus e até nos EUA, o que nos obriga a ser mais exigentes, pois também é esse o desejo dos nossos clientes”, afirma Jakobsson. “Os alces são uns animais possantes e pesados, similares a cavalos, pelo que o embate nos veículos sujeita a uma força tremenda os pilares A do tejadilho, o que obriga a reforços consideráveis”, adianta a responsável do Injury Prevention Center, da Volvo. Para concluir: “Temos igualmente muitos despistes devido ao gelo, o que obriga a que os nossos veículos tenham a capacidade de absorver impactos por baixo, para além dos ângulos tradicionais, pelo que também aqui fomos obrigados a fazer evoluir os nossos sistemas de segurança.”

Outra das vantagens desta análise dos acidentes reais é permitir a comparação entre as diferentes gerações de um mesmo modelo, confirmando assim se as melhorias introduzidas nos sistemas de segurança conseguem, na realidade, proteger melhor os ocupantes, reduzindo as forças que são aplicadas sobre os seus corpos. E material de estudo não falta, pois o Volvo Cars Safety Center tem dados relativos a mais de 65 mil passageiros e 39 mil veículos, todos eles recolhidos ao longo de 40 anos de investigações.

Nem todas as evoluções são bem recebidas

Um dos motivos que fez Lotta Jakobsson deslocar-se até nós foi o trabalho que a Volvo realiza no capítulo da segurança infantil. Os suecos, além de automóveis, produzem cadeiras de bebé e têm uma gama completa, para os diversos estágios de evolução das crianças, dos mais pequenos aos mais crescidos.

Os seus crash tests demonstraram até à exaustão que as crianças até aos 4 anos não são pequenos adultos, possuem uma cabeça muito grande e pesada, face ao tronco, o que desaconselha por completo que utilizem cadeiras viradas para a frente.

Para a Volvo, esta realidade – de que os técnicos suspeitavam há muito –, que simultaneamente vai ao encontro do interesse da criança e dos respectivos progenitores, pois destina-se a evitar lesões graves na cervical, não teve a reacção que a marca esperava da parte do público e dos seus clientes. Para tornar a situação mais evidente, a Volvo, que numa fase comercializava os dois modelos de cadeiras para miúdos até aos 4 anos, viradas para a frente e para trás, decidiu retirar da gama as viradas para a frente, para chamar ainda mais a atenção. E o resultado foi que as vendas da cadeira correcta caíram para valores negligenciáveis, com os pais a não adquirirem a cadeira mais segura para o seu filho, porque é menos prático transportar a criança virada para trás, no assento posterior. Isto prova que por muito trabalho que os construtores realizem, para fazer evoluir a segurança automóvel, há ainda muito trabalho a efectuar para fazer evoluir as mentalidades.