A EDP anunciou um resultado líquido de 1.147 milhões de euros nos primeiros nove meses do ano, um salto de 86% face ao mesmo período do ano passado, que é explicado por efeitos não recorrentes.

Neste caso foi sobretudo o ganho obtido com a venda do negócio de distribuição de gás em Espanha — a Naturgás — que fez disparar o resultado da elétrica. A EDP fechou este ano a venda dos ativos de gás em Espanha e Portugal por 2,6 mil milhões de euros. Excluindo operações extraordinárias, os lucros recuaram 4% para 633 milhões de euros.

Também a margem operacional da empresa, medida pelo EBITDA, caiu 5%, depois de descontados os efeitos extraordinários, ara 1.902 milhões de euros. A expansão da capacidade e um “apertado controlo de custos” não conseguiram compensar os efeitos de “um contexto operacional muito mais severo, marcado por uma baixa produção hídrica — por causa da seca — e preços spot (no mercado grossista) muito elevados”.

O preço médio à vista (mercado spot) em Espanha subiu 70% face ao mesmo período do ano passado para 51 euros por megawatt (tanto em Espanha como em Portugal). “É o reflexo do impacto combinado de condições atmosféricas desfavoráveis, custo de produção mais alto das tecnologias marginais; baixas temperaturas na Europa e constrangimentos em centrais nucleares em França”.

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No mercado ibérico, a falta de água (o nível de hidraulicidade ficou 42% abaixo da média) resultou numa “severa penalização” da produção e dos ganhos das centrais hídricas, apesar da entrada em funcionamento de nova capacidade, nomeadamente de bombagem. E obrigaram a um reforço de mais de 70% na produção das centrais térmicas, gás natural, carvão e, em menor amplitude, da nuclear, bem como a uma subida das importações.

Estes efeitos foram parcialmente atenuados pelo contributo positivo da EDP Renováveis cujo portefólio assenta sobretudo em parques eólicos.

Tarifa social custou 58 milhões até setembro

Os resultados da EDP sentiram ainda o efeito de medidas políticas e fiscais em Portugal e Espanha. Os custos regulatórios, onde se incluem a tarifa social de eletricidade, a contribuições extraordinária sobre a energia e os impostos sobre a geração em Espanha, subiram 26% para 229 milhões de euros até setembro.

Nesta fatura “política”, a EDP destaca os custos com a tarifa social, um desconto para mais de 800 mil consumidores com baixos rendimentos, que atingiram os 58 milhões de euros até setembro. Segundo a empresa, o impacto da tarifa social na margem bruta disparou de nove para 39 milhões de euros nos primeiros nove meses do ano.

A EDP regista ainda as decisões do Governo e da ERSE (Entidade Reguladora dos Serviços Energéticos) — acerto final dos custos de manutenção do equilíbrio contratual e a devolução de receitas obtidas por via da neutralidade fiscal com Espanha — que vão retirar proveitos à empresa em 2018. Estas medidas estão previstas na proposta que prevê uma descida das tarifas de 0,2% no próximo ano, mas para já não esclarece o que irá fazer para contrariar estas penalizações. A elétrica já tem vários conflitos em aberto com o Governo e o regulador, alguns dos quais já chegaram aos tribunais.

As várias frentes da guerra com a EDP para baixar o preço da eletricidade