O primeiro-ministro timorense renovou esta sexta-feira o interesse de Timor-Leste em aderir ao Programa de Segurança Marítima do Pacífico (PMSC na sua sigla em inglês), do Governo australiano, que prevê a doação de dois navios patrulha para as águas timorenses.

“São dois navios construídos, com capacidade para navegar na costa sul. Oferecem também formação dos marinheiros e manutenção por algum tempo”, explicou Mari Alkatiri que esta sexta-feira visitou, nos arredores de Perth, na Austrália Ocidental, a unidade da empresa australiana Austal, onde os navios do PMSC estão a ser construídos.

“Agora temos que ver as condições, proceder a uma detalhada análise técnica. Não há um acordo assinado e não o vou assinar agora. Não nos podemos comprometer com nada sem um estudo técnico ser desenvolvido”, disse.

O chefe do Governo timorense explicou à Lusa que o V Governo, liderado por Xanana Gusmão, decidiu “de forma correta e consistente” adiar uma decisão sobre o programa “até se resolver a questão da fronteira marítima” entre Timor-Leste e a Austrália.

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“Agora com o tratado quase assinado e a fronteira quase decidida, podemos retomar este assunto”, explicou Alkatiri. “Se temos fronteira, temos que ter capacidade para defender a nossa fronteira, não numa guerra, mas contra piratas, pescadores ilegais”, frisou.

Durante a visita deste dia – no âmbito da visita que Mari Alkatiri e os ministros de Estado Agio Pereira e Estanislau da Silva efetuam até domingo a Perth – David Singleton, diretor executivo da Austal explicou à delegação timorense alguns dos aspetos dos navios.

O Austal PPB40, com 29,5 metros de comprimento e 8 de largura, tem o casco construído em aço – para aumentar a sua durabilidade – e restantes estruturas em alumínio, o que lhe permite mais amplitude e velocidade de ação.

Com autonomia para estar no mar durante 20 dias e uma velocidade máxima de 20 nós, o navio é considerado ideal para patrulhar na zona da costa sul de Timor-Leste.

Mick Rozzoli, adido de Defesa na embaixada australiana em Díli, e que acompanhou a visita neste dia, explicou à Lusa que o assunto tem estado na agenda bilateral desde 2013 quando primeiro Timor-Leste contactou a Austrália relativamente à possibilidade de adesão ao Programa de Navios de Patrulha no Pacífico (PPBP na sua sigla em inglês).

Esse programa, que foi substituído em 2014 pelo PMSC permitiu a doação de 22 navios patrulha aos 13 países beneficiários, todos da região do Pacífico.

Central no relacionamento na área de defesa da Austrália na região e em vigor desde 2014, o PMSC prevê a doação de até 21 navios de patrulha que irão substituir os 22 navios dados aos mesmos países entre 1987 e 1997, o primeiro dos quais deve ser entregue em outubro de 2018.

Além da doação dos navios o programa prevê o apoio na formação de até três tripulações – cada navio pode ter até 23 elementos – e a manutenção durante 30 anos.

Rozzoli explicou à Lusa que o facto de Timor-Leste não ter aderido de imediato ao programa implica que o país, se assinar agora, só poderá receber os navios em 2023, sendo que é essencial começar “desde já” a formação da tripulação.

Timor-Leste já tem, recordou, alguns efetivos do seu componente naval com formação – incluindo alguma recebida na Austrália – mas será necessário avançar para uma formação e treino mais amplo que, em alguns casos, pode demorar mais de uma década.

Caso a formação não esteja concluída no momento em que os dois navios estejam preparados para ser entregues, uma das opções poderá ser o recurso a tripulações mistas, timorenses e australianas.

Com uma receita em 2016 de 1,3 mil milhões de dólares australianos, a Austal é o maior fabricante de barcos de alumínio do mundo e a única empresa estrangeira com contratos com a marinha norte-americana, empregando 4.600 trabalhadores em todo o mundo.

Desde que começou a trabalhar, a empresa construiu mais de 255 navios para 44 países, tanto de cariz civil, como militar.