O ministro dos Negócios Estrangeiros considerou esta quarta-feira que a eleição de Portugal para o Conselho Executivo da UNESCO “representa o reconhecimento internacional do empenhamento português no sistema multilateral” e defendeu que a organização deve “reconcentrar-se na sua missão essencial”.

Portugal foi eleito esta quarta-feira para o Conselho Executivo da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura, mandato que irá prolongar-se até 2021, sendo a quarta vez que o país integra este órgão.

“A eleição representa o reconhecimento internacional do empenhamento de Portugal no sistema multilateral e coroa o investimento muito importante que temos feito na UNESCO, quer nas atividades da nossa comissão nacional da UNESCO quer na nossa participação no âmbito da organização”, disse à Lusa o chefe da diplomacia portuguesa, falando à margem de um encontro com investidores internacionais no âmbito da conferência tecnológica Web Summit, que decorre até quinta-feira em Lisboa.

Augusto Santos Silva enunciou o preâmbulo da constituição deste organismo da ONU, em 1945, segundo o qual, “uma vez que as guerras nascem da mente dos homens, é na mente dos homens que se devem erguer os baluartes da paz”.

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“Devemos trabalhar na área da educação, da ciência, da cultura e da comunicação para construir os baluartes da paz. Essa é a missão da UNESCO e Portugal sente-se muito à vontade nessa missão”, destacou.

Questionado se o anúncio recente da saída dos Estados Unidos – a que se seguiu a mesma intenção de Israel – trará problemas à organização, o ministro considerou que tal significará “mais responsabilidades” para o país.

“A UNESCO vive já há alguns anos momentos difíceis, porque há temas que são muitos divisivos. A saída dos EUA é uma saída que todos lamentamos”, disse.

Por isso, sublinhou, a UNESCO “tem que se reconcentrar mais naquilo que é a sua missão essencial, que é ser a organização das Nações Unidas para a comunicação entre os povos e os países, fundada na ciência, na cultura e na educação”.

Para o governante português, a UNESCO “não tem que ser uma organização de divisões, concentrada em temas divisivos, mas tem de ser também uma organização fiel à sua missão, que nos una a todos e nos aproxime todos em torno dos grandes valores da educação, da cultura e da ciência”.

Santos Silva ressalvou que “a política e as controvérsias políticas fazem parte da vida das organizações internacionais e os direitos dos povos e das nações não podem ser ignorados em nenhum palco da comunidade internacional”.

Na UNESCO, Portugal “fará um mandato até 2021 no cumprimento escrupuloso dos 10 compromissos que apresentou na candidatura, entre os quais a importância de valorizar o património cultural que é comum a toda a humanidade, seja ele material ou imaterial, a importância de ligar em rede escolas, universidades, centros de cultura ou educação, porque essa é a maneira de ir construindo uma opinião pública mundial esclarecida e comprometida com os valores da liberdade, da paz e da comunicação entre os povos”, declarou o ministro.

A eleição de quarta-feira também permitiu a Portugal “fechar em pleno” as candidaturas que tinham sido formuladas em 2014 “com uma taxa de sucesso de 100%”.

A “próxima grande candidatura” em que Portugal já está a trabalhar é a um lugar de membro não permanente ao Conselho de Segurança das Nações Unidas em 2027-2028.

Portugal aderiu à UNESCO em 1965, retirou-se da organização internacional em 1972 e reingressou em 11 de setembro de 1974.

Com 195 estados-membros e oito membros-associados, esta agência da ONU tem um objetivo ambicioso: “Construir a paz no espírito dos homens através da educação, ciência, cultura e comunicação”.

A UNESCO, conhecida como uma das guardiãs do património cultural mundial, é sobretudo reconhecida pelos seus programas educativos e pela elaboração da lista de património mundial cultural e natural.