O primeiro-ministro português considera que a única forma de responder aos desafios que a globalização representa passa por encontrar “uma resposta global, à escala global”. Para António Costa, “fechar fronteiras e construir muros só vai dar força ao populismo”.

Numa mesa redonda que decorreu à margem do evento principal da Web Summit e que juntou George Papandreou, ex-primeiro-ministro grego, e Philip J. Jennings, secretário geral da Uni Global Union, uma plataforma internacional de sindicatos com mais de 20 milhões de membros, António Costa reconheceu que, apesar dos muitos aspetos positivos, “a globalização não tem funcionado para todos“, promovendo a desigualdade social e precarização do trabalho e do mercado laboral.

A solução, reiterou António Costa, não passa passa por uma qualquer forma de “protecionismo”, seja económico, seja fronteiriço. “Precisamos de globalizar os valores que têm sido a chave do sucesso. Precisamos de globalizar a educação, a inovação tecnológica, um mercado laboral justo e uma melhor distribuição de riqueza”. E, no caso particular da União Europeia, essa resposta só pode ser encontrada em conjunto com os restantes Estados-membros, defendeu o socialista.

George Papandreou acabaria por concordar com o português. Par o ex-primeiro-ministro grego, a internacionalização do capital fez com que o contrato social — as responsabilidades que todos, enquanto sociedade, mantemos — “fosse rasgado”. “O capital perdeu as suas obrigações para com as nossas sociedades. Perdemos o contrato social e isso está a pressionar os nossos sistemas de Segurança Social. Precisamos de um contrato social global. Voltar ao modelo de Estado-nação não é a solução”, argumentou Papandreou.

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Philip J. Jennings levaria a crítica ligeiramente mais longe. À pergunta “Pode a globalização funcionar para todos?”, que servia de premissa ao debate, o representante sindical respondeu “a big fat ‘yes'”, o que numa tradução menos rica significaria um “claro e evidente ‘sim'”.

“Há alternativas, mas temos de ter coragem de as apresentar. Temos de entender que o neo-liberalismo falhou. Este modelo de globalização falhou e entregou um poder sem precedentes a um limitado conjunto de empresas e pessoas. O que precisamos na verdade é de um contrato de paz”, defendeu Philip J. Jennings.

Se é de uma guerra que se trata, o mundo precisa de pessoas que estejam dispostas a lutar por alternativas. A 17 de novembro, a cidade de Estocolmo vai receber uma cimeira onde os representantes europeus vão discutir de que forma é possível conciliar o emprego justo e o crescimento económico num contexto como o europeu. Philip J. Jennings deixaria, por isso mesmo, um desafio ao primeiro-ministro português: “António, tem de lutar, tem de ser um guerreiro. Tem o peso da Europa nos seus ombros”.

“E a Europa tem de mudar se quer sobreviver. Tem de ser uma voz progressiva na mudança de paradigma”, acrescentaria George Papandreou. Para o ex-primeiro-ministro grego, não há outra forma de responder aos desafios globais que não uma resposta comum que valorize a igualdade social e os direitos laborais. “Não vamos conseguir competir com a China através de uma política de baixos salários. Não resulta“, reiterou Papandreou.

António Costa pegaria nesta última ideia para encerrar o debate. “A ideia que em que a direita acredita de que só é possível ganhar competitividade com base em baixos salários e destruição de direitos é errada. Só há crescimento sustentado se houver economia inclusiva. Temos de produzir em função das nossas necessidades e partilhar a prosperidade. E precisamos de dar força a instituições como a União Europeia porque só numa escala global podemos dar resposta a estes desafios”, rematou o primeiro-ministro.