Michael James Massimino tinha sete anos quando os astronautas da missão Apollo 11 chegaram à Lua. Desde 20 de julho de 1969 que sonhava vestir o mesmo fato que Neil Armstrong tinha quando deu “um pequeno passo para um homem, um grande passo para a humanidade” no Mar da Tranquilidade. Havia de cumprir o sonho, mas com dificuldades: foi rejeitado pela NASA três vezes antes de se tornar no autor do primeiro tweet enviado a partir do espaço. Em conversa no palco Future Societies da Web Summit, Mike Massimino diz que os próximos 10 anos são “excitantes para a exploração espacial”. Mas não é Marte que a vai tornar especial: é, uma vez mais, a Lua.

Para o astronauta, que foi duas vezes ao espaço para fazer reparações ou atualizações ao Telescópio Espacial Hubble, o panorama da exploração espacial já não está nas mãos das agências espaciais governamentais: a NASA, a ESA ou as agências japonesas ou chinesas não terão outro remédio senão criar projetos em conjunto. Mais do que isso, vão ter de contar cada vez mais com as companhias privadas como a SpaceX: “A coisa mais excitante do futuro da exploração espacial são essas empresas privadas, que planeiam novos projetos com ou sem os apoios dos governos”. Mas desvaloriza as ideias que Elon Musk tem de “morrer em Marte, apenas não na aterragem”.

Primeiro, temos de ir à Lua. Temos de estabelecer turismo lá e estudar os recursos do nosso satélite é o próximo passo. Só depois é que podemos ir a Marte. Nem percebo porque é que Elon Musk quer viver em Marte: ele já me impressionou o suficiente”.

A posição de Mike Massimino não é unânime: para muitos, se não regressámos à Lua nos últimos 45 anos — a NASA fez seis missões Apollo tripuladas à Lua para estudo científico, a última das quais em 1972 — é porque não há interesse científico nessa viagem. À época, a NASA recolheu 2.200 amostras em seis locais diferentes do solo lunar e uma boa parte ficou guardada para ser melhor explorada quando houvesse tecnologia suficiente para isso. Mas Mike Massimino defende que o interesse na Lua não se esgota nesses 382 kg de rochas lunares.

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Ainda nos falta entender como chegámos até aqui, como é que o Sistema Solar nasceu, de onde é que viemos. Há esse interesse científico. Depois há o lado político: os governos têm interesse de regressar à Lua pelo prestígio, pela tecnologia que isso envolve desenvolver e pelas aplicações militares que vai trazer“.

Mike Massimino é cuidadoso a falar de datas: embora acredite numa grande expansão tecnológica na área da exploração espacial na próxima década, não acredita que o Homem volte a pisar a Lua nos próximos 20 anos. Ir a Marte, “talvez daqui a 30, embora isto podem ser previsões estúpidos“. Mas acredita que o ceticismo que nutre pode não ser realista: “É mais difícil aceitarmos este tipo de mudanças quando estamos a falar de vidas humanas. Porque para pôr alguém em Marte é preciso arriscar a vida. Provavelmente vai-se morrer. Mas a verdade é que, há 15 ou 20 anos, lia resumos de ideias tecnológicas e achava tudo fantasioso. Agora são realidades“.

A inteligência artificial e a realidade virtual foram dois temas que Mike Massimino abordou na conferência: “Isso não é nada de novo. Eu lembro-me que em 1996, nos exercícios laboratoriais que fazíamos nas preparações para as viagens espaciais, já usávamos fatores como esses para tornar o treino mais imersivo. Ainda assim, nos anos 70 o Space Shuttle ainda era todo manual: nós aterrávamos manualmente! Por isso,é verdade que os avanços tecnológicos tornaram tudo mais automático. E melhoraram muito a exploração espacial”, opina o astronauta.

Este avanço tecnológico não foi sentido na pele por Mike Massimino enquanto astronauta:

Estive 18 anos na NASA e depois reformei-me. Fiquei feliz com o que tinha concretizado. Era o meu tempo de seguir em frente e eu queria experimentar algo novo. Não é uma decisão fácil deixar um emprego de sonho, mas acredito que as pessoas têm mais do que um emprego de sonho para experimentar“.

Agora, Mike Massimino dá aulas de engenharia mecânica na Universidade de Columbia e admite gostar de lhes contar a vida para lá da atmosfera: “Nós nunca estamos sozinhos no espaço. Estamos sempre entre amigos, que são a melhor parte de ser astronauta. A experiência é semelhante a viver no lugar mais isolado do mundo, mas vendo o planeta lá de cima. E isso muda-nos a vida: é como olhar para um paraíso. Tenho um agradecimento enorme a este planeta: olha-se para ele envolto em escuridão e vemos como não temos outras hipóteses em milhões de quilómetros. Estou muito agradecido à NASA por me ter dado esta oportunidade”.

Uma oportunidade por que Mike Massimino teve de batalhar: nunca cumpriu serviço militar — como a maior parte dos astronautas — e tinha apenas um canudo de engenharia no bolso. Tentou e falhou. Tentou e falhou. Tentou e falhou. À quarta vez, conseguiu: “Algumas pessoas são escolhidas à primeira, mas muitas não são. Não é algo fácil. Há sempre umas 18 mil pessoas a candidatarem-se para astronautas, mas só umas 12 é que entram. Só que mostrar persistência é bom. E necessário para quem quer ter esta profissão: vamos sempre encontrar dificuldades, por isso mais vale gostar de desafios“.