“António Costa nunca tem nada a ver com nada, nem com os incêndios nem com Tancos, nem com a legionela”, mas o “Estado falhou e está sempre a falhar”, disse Luís Marques Mendes no seu espaço de comentário habitual de domingo na SIC. O comentador e ex-líder do PSD tinha começado por falar da mais recente polémica do jantar no âmbito da Web Summit realizado no Panteão Nacional, na qual diz que o primeiro-ministro “também é responsável”, passando depois para as quatro mortes confirmadas na sequência do surto de legionela no hospital público de São Francisco Xavier. Para o comentador, o que está a acontecer é “uma banalização das mortes” e isso é “muito grave”.

Por partes. Segundo Marques Mendes o jantar no Panteão “nunca devia ter existido”, apesar de a lei permitir a realização de jantares naquele monumento nacional e de já ter havido ali jantares no passado. “O Panteão é, para além de um monumento nacional, à sua maneira também é um cemitério, e pela memória a quem ali está sepultado, não devia haver nem jantares nem cocktails”, disse.

Portanto, a responsabilidade, segundo o comentador político é de todos: do ex-secretário de Estado da Cultura, Barreto Xavier, que em 2014 fez um regulamento para rentabilizar estes espaços “abrindo a hipótese, quando devia era ter fechado”; da Direção-Geral do Património Cultural, que autorizou, e cuja diretora devia “ter posto o lugar à disposição” ou devia “demitir-se”; e de António Costa, porque já podia ter revogado a regulamentação e porque é o atual Governo que tutela e nomeia a diretora-geral do Património Cultural.

Segundo Marques Mendes, o caso do Panteão é mais um exemplo de como António Costa “nunca tem nada a ver com nada, nem com os incêndios, nem com Tancos, nem com a legionela”, estando sempre “a sacudir a água do capote”. “O primeiro-ministro devia ter seguido o exemplo do fundador da Web Summit, que pediu desculpa com toda a humildade”, disse, acrescentando que “esta ideia de que o Governo nunca tem culpa de nada fica mal”.

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Sobre o surto de legionela que já fez quatro mortes e 46 casos de infetados, Mendes diz que prova que “o Estado falhou”. Tal como tinha falhado nos casos de Pedrógão, de Tancos e dos incêndios do mês de outubro. “O Estado está sempre a falhar, e logo num Governo que se diz amante do Estado”, atura.

Questionado sobre se teria sido diferente se o surto de legionela tivesse ocorrido num hospital privado, Marques Mendes diz que a diferença seria apenas visível no discurso do BE e PCP, que “já estariam a dizer que os privados eram desumanos e só queriam lucro”. De resto, é “lamentável e censurável” seja no público ou no privado.

“Não há mortes de primeira e mortes de segunda, e esta ideia de que estamos a banalizar os mortos — agora morrem 64 pessoas em Pedrógão, agora mais 40 nos incêndios de outubro, agora mais quatro com legionela — é um sintoma de doença do cidadão, é muito grave”, diz.

A propósito dos dois anos de assinatura dos acordos da “geringonça”, Marques Mendes defendeu que a solução de governo arquitetada por António Costa tinha trazido três vantagens ao país — estabilidade política, paz social e o facto de evitar o populismo à esquerda –, mas também desvantagens. A principal desvantagem, no seu entender, é que a atual solução governativa “não faz reformas de fundo”, “é chapa ganha, chapa gasta”. “Não tem visão de futuro”, sublinha.