Depois do êxito da exposição “José de Almada Negreiros. Uma maneira de ser moderno”, apresentada no início do ano na Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa, e visitada por mais de 135 mil pessoas, cerca de 90 obras vão agora até ao Museu Soares dos Reis, no Porto. “José de Almada Negreiros: Desenho em Movimento” inaugura a 30 de novembro e tem como grande destaque um conjunto de seis vidros originais que Almada pintou à mão para “Lanterna Mágica”, descobertos há poucos meses.

Foi a exposição em Lisboa que fez aparecer os vidros“, conta ao Observador Mariana Pinto dos Santos, que se mantém como curadora. A família portuguesa que tem os vidros na sua coleção privada fruto de herança — e que prefere não ser identificada –, desconhecia a autoria. “Ao ver a publicidade à exposição de Lisboa, que tinha a imagem reproduzida do desenho original, percebeu que o que tinha em casa há muitas décadas era do Almada.”

Esta é a grande novidade de “José de Almada Negreiros: Desenho em Movimento”, e o principal motivo que levou a curadora a focar a mostra na relação de Almada Negreiros (1893 – 1970) com o cinema, nomeadamente com o cinema animado. Como se pode ler na revista de novembro da Gulbenkian, propõe-se “um olhar sobre o carácter gráfico e cinematográfico da linguagem artística da modernidade expresso na obra de Almada Negreiros e que persiste quer na pintura e desenho, quer na pintura mural, nos frisos em gesso, nos vitrais e nas tapeçarias que o artista fez em vários trabalhos por encomenda”.

Para além dos vidros, o Museu Soares dos Reis, que co-produz a mostra com a Fundação Calouste Gulbenkian, vai mostrar a projeção que estava em Lisboa, quando os vidros originais eram desconhecidos, para que o público possa fazer comparações.

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José de Almada Negreiros, “La Luna Rota”, um dos vidros criados para acompanhar o espetáculo “La tragedia de Doña Ajada”, estreado em Madrid, em 1929.

A exposição, que vai ficar no Porto até 18 de março, é bastante menor do que a apresentada na capital. “A de Lisboa tinha mais de 400 obras. Esta traz uma seleção diferente”, explica Mariana Pinto dos Santos. Cerca de metade puderam ser vistas na Gulbenkian, mas o Soares dos Reis terá novidades apetecíveis.

Há um desenho inédito, que nunca foi mostrado, que é um retrato de Maria Madalena Amado, uma das meninas que dançou nos bailados que Almada fez em 1917 e 1918 e que foi viver para o Porto.” Amado levou para a Invicta obras que só recentemente têm sido mostradas. Para “José de Almada Negreiros: Desenho em Movimento”, vai desvendar mais uma.

Entre as obras que viajam 300 quilómetros para norte encontra-se outra lanterna mágica, esta com 64 desenhos que compõem um cinema desenhado a que o artista chamou “Naufrágio da Insula”. Conta a história trágico-cómica do naufrágio de várias pessoas ao largo da ínsua de Moledo, em Viana do Castelo, em 1934, depois de terem sido apanhadas por uma tempestade. “Foi mostrado pela primeira vez em Lisboa e é talvez a obra que melhor mostra essa relação de Almada com o cinema”, sublinha Mariana.

Os olhos de Almada não eram dele, eram da Modernidade

A iniciativa de apresentar Almada no Museu Soares dos Reis marca o início de um projeto de itinerância das obras de arte do Museu Calouste Gulbenkian para fora do espaço da Fundação, em Lisboa, promete a Fundação.